Quando eu vi o endereço do albergue em que ia trabalhar em Moscou, o Vagabond, dizer que era na rua Tverskaya não significava nada para mim. Era perto da Praça Vermelha e em frente a uma estação de metrô, então ótimo, mas eu não sabia nada da área. Descobri que era uma rua importante quando cheguei lá e vi que ela tinha dez pistas, e que a gente tinha vista do alto para a Praça Púchkin. Depois descobri que tinha fama de rua das compras de Moscou, mas que ela também tem uma história interessante, que a gente começa a ver pelo número de placas memoriais espalhadas pela rua.
A rua existia desde o século XII, conectando Moscou com a sua rival da época, a cidade de Tver. Depois, no século XVII, ela se tornou um dos centros da vida social da cidade, o lugar onde a nobreza construía seus palácios e onde saíam de tarde para serem vistos. Quando a capital mudou para Petersburgo e tantos lugares em Moscou perderam a importância, a Tverskaya continuou como o lugar por onde os tsares passavam voltando da capital do norte para o Kremlin.

Depois, na época soviética, a rua mudou de nome para Gorky, o escritor admirado por Lenin e Stalin (e que morava em uma casa Art Nouveau lá perto). A maioria dos palácios e todas as igrejas foram destruídos para alargar a rua, que foi reconstruída então em estilo Stalinista, com prédios enormes com grandes arcos por onde dá para entrar nos pátios. Na Rússia, já há algum tempo era considerado mais elegante morar em um apartamento que tinha entrada para a rua, então os apartamentos com a entrada para o pátio tendem a ser mais simples, e, mesmo com a loucura que é o mercado imobiliário de Moscou, permitem um pouco de diversidade no centro.
Os prédios considerados um patrimônio importante foram movidos alguns metros para o lado para permitir a expansão da avenida. Isso foi feito de noite, e a maior parte dos habitantes desses prédios nem acordou. Isso foi considerado um sucesso da engenharia da época, e o responsável pela obra, Emmanuel Gendel, hoje tem sua própria placa na rua.

A Tverskaya começa na praça Manejnaya, que é a entrada principal para a Praça Vermelha. A praça é cercado pelo Museu Histórico Nacional, o Manege, que costumava ser onde oficiais treinavam a cavalo e hoje é o Museu de Design de Moscou, o Jardim Aleksandrinski e o Hotel Moscou. Também tem, já começando a fama de rua das compras da Tverskaya, um shopping subterrâneo debaixo da praça.
Dos dois lados da rua, há pequenas alamedas com prédios mais antigos, algumas vezes que só podem ser visitadas passando debaixo de arcos.
No início da rua, um dos prédios que chama a atenção é o Prédio dos Telégrafos, que foi um choque na época, antes que o estilo stalinista fosse desenvolvido.

Um dos prédios poupados durante a obra na Tverskaya foi o Savvinskoye Podvorye. O prédio Art Nouveau foi um daqueles movidos para permitir a expansão da avenida, e depois foi cercado por um bloco de apartamentos em estilo soviético, então ele fica escondido em um pátio da rua. Mas ele é um dos melhores lugares mais bonitos que a gente descobre explorando a Tverskaya.

O prédio do Governo de Moscou foi outro que precisou ser movido durante as reformas, e além disso foi expandido, com mais dois andares adicionados nos anos 40. Ele costumava servir como a prefeitura.

No início da rua, também há uma praça com o mesmo nome, com uma estátua de Iuri Dogolruki, o fundador mítico de Moscou.
A Tverskaya é conhecida como a versão russa da Oxford Street ou da Champs-Elysée, onde as pessoas vão para comprar, mas essa parte não acho muito interessante. A maioria das lojas são redes, e ela poderia realmente ser confundida com essas duas outras ruas, ou qualquer lugar do mundo, nesse aspecto padronizado. Mas tem algumas lojas mais interessantes, como a Livraria Moskva, conhecida pelo tamanho colossal, ou o Empório Eliseev, um supermercado onde um palácio costumava ficar. Eles têm todas as coisas normais de um supermercado, mas também tem itens de luxo como caviar.
Um dos pontos principais de Moscou é a Praça Púchkin, com uma estátua dedicada ao pai da literatura russa. Ela foi inaugurada em 1880 por dois rivais, Dostoiévski e Turgueniev, e o discurso de Dostoiévski causou tanta sensação que até Turgueniev o parabenizou. Durante a época soviética, ele se tornou um lugar de protestos, e estudantes iam até lá para ler em voz alta versos de poetas censuradas. Ele ainda é um lugar de manifestação, e foi onde eu vi um enorme protesto anti-Putin em 2018, quando ele estava inaugurando seu quarto mandato.
A estátua de Púchkin na verdade foi movida para o lado da praça onde está até hoje durante a época soviética, porque um monastério que ficava lá foi demolido. Mas Moscou é construída em círculos concêntricos, começando na Praça Vermelha, e cada um desses círculos serve não só como avenidas de acesso, mas viraram grandes parques. O primeiro círculo é o dos Boulevares, então a Tverskaya encontra o Boulevard Tverskoi, onde sempre tem música ao vivo e exposições de arte.
O segundo círculo é o Círculo dos Jardins, onde a Tverskaya encontra a rua Sadovaya, e igualmente esse círculo virou um parque que circunda o centro da cidade. E também tem uma praça, a Triunfalnaya, com outra estátua de um escritor famoso, dessa vez Maiakóvski (a estação Maiakóvski, que tem entrada aqui, é uma das mais bonitas do maravilhoso metrô de Moscou).
Então esses são alguns lugares para ver na Tverskaya, e sair da imagem da rua de compras de Moscou.
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