Nada é tão Bologna quanto andar debaixo de pórticos. No centro da cidade, dentro dos antigos muros, eles se estendem por quarenta quilômetros, protegendo quem passa dos elementos e emoldurando os prédios. E agora, eles também são Patrimônio da Humanidade segundo a UNESCO, um motivo a mais para visitar Bologna.

Os pórticos ficaram tão populares em Bologna por um motivo bem prático. A cidade era murada, e não tinha como crescer para os lados. Por isso, as torres medievais eram bem altas, e levaram a cidade a ser chamada de Manhattan medieval. Para aumentar mais as casas sem ter subir milhões de escadas, as pessoas começaram a construir em cima das estradas, aumentando seus segundos andares, mas deixando espaço para andar na rua. Um número enorme de Bologna foi construído no século X, então eles são uma marca da cidade há um milênio. Eles também tem a ver com a Universidade, com a necessidade de construir casas para estudantes em uma cidade que já estava lotada (o que é um problema até hoje, tem protesto o ano inteiro sobre como é difícil achar alojamento em Bologna).

Depois do século XII começaram regulações sobre os pórticos, que estavam tomando demais do espaço público. Logo depois, eles se tornaram obrigatórios quando há interesse público. Quem anda por Bologna logo começa a ver a utilidade, já que eles são um abrigo do sol, da chuva, da neve, de tudo.

Os mais antigos que ainda existem em Bologna são os pórticos de madeira. O mais famoso é das Corti Isolane, que é cheio de lendas. Se você andar embaixo, vai ver que tem três flechas espetadas na armação. Dizem que três mercenários procuravam por um homem que tinham sido contratados para assassinar, quando uma mulher nua os distraiu e eles acabaram acertando a madeira. Ou que era a mulher que eles estavam procurando. A maioria das versões envolve um marido ciumento, três arqueiros e uma mulher nua, e a história vai sendo construída a partir daí.
O Renascimento também passou por lá deixando mais pórticos, como o florido do Palazzo del Podestà e o super alto do Palazzo dei Bastardini, ainda hoje chamado de dos bastardinhos porque era um orfanato. Total da renascença: arquitetura 2 x politicamente correto 0.


Talvez o pórtico mais famoso seja o que leva à Igreja de San Luca. A Igreja fica em uma colina de Bologna, e uma vez por ano eles traziam o ícone do santo em procissão pela cidade. Como a festa dele cai em uma época em que chove muito, e eles não queriam molhar o ícone, construíram a maior estrada coberta por pórticos do mundo. São quase 4 km, com pilastras numeradas que vão até 666. Como a estrada é sinuosa, dizem que ela representa a serpente, o que é reforçado pelo “número da besta”, e lá em cima fica o santo, triunfando sobre o mal.

Outro que está entre os mais famosos da cidade é o pórtico de Santa Maria dei Servi, cuja construção começou no século XIV mas só terminou quinhentos anos depois, no século XIX. Ele é conhecido como o mais largo de Bologna.
Bom, depois do mais comprido e do mais largo, temos também o mais alto, o da Arquidiocese de Bologna na via Altabella, com mais de dez metros de altura. Existia uma altura mínima de dois metros e meio, para que as pessoas pudessem passar pelos pórticos a cavalo, mas esse superou em muito as exigências.
Na busca pelos pórticos, também dá para ir à via Senzanome. Essa rua tem esse nome estranho, que literalmente significa “rua sem nome”, porque era conhecida por ter muitos prostíbulos. Então quando alguém queria falar dela, dizia que “aquela rua, sabe, aquela, que não deve ser nomeada”. Era basicamente o Voldemort da idade média. Hoje tem o pórtico mais estreito, com 95 centímetro de largura.
Embora eles estejam espalhados pelo centro histórico inteiro, algumas ruas são mais célebres. Tem a via Saragozza, toda coberta de pórticos tradicionais.
Tem a via Santo Stefano e a via Farini, ruas ricas onde ficam alguns dos pórticos mais decorados.
Tem a via del Pratello, cheia de bares, tradicional, onde os pórticos mal deixam espaço para um carro passar.
Tem o Pórtico del Pavaglione, o tradicional passeio elegante da cidade, onde ficam o Archiginnasio, a tradicional biblioteca e teatro anatômico da Universidade, e o Museu Arqueológico.
Com eu disse, são quase 40 km. Eles estão espalhados por toda a cidade.
Clique na imagem para ler todos os posts com dicas sobre morar e estudar em Bologna.
Clique aqui para ler todos os posts sobre a Itália.
3 comentários