Lecce entrou no meu roteiro da Puglia, o estado no salto da bota da Itália, por causa da arquitetura barroca típica da cidade, construída em uma pedra local tão suave que eles dizem que você consegue esculpir nela com canivete. A cidade ficou conhecida como “Florença do Sul” ou “Florença do barroco”.
Lecce foi fundada pelos Messapianos, uma colônia de gregos no sul da Itália. Até hoje a cultura grega influencia o sul da Itália, e um dos dialetos falados é o Grico, derivado de dialetos do grego e do italiano. Lecce ainda tem monumentos da época, como o Teatro Grego. Ele foi redescoberto no século XX, e ainda está parcialmente enterrado.
Lecce foi conquistada pelo Império Romano, que também deixou as marcas por lá. O Anfiteatro Romano tinha capacidade para 25 mil pessoas, mas por séculos ficou enterrado e esquecido, e foi redescoberto no século XX debaixo da praça principal de Lecce. A coluna de Sant’Oronzio, presente de Brindisi à Lecce e que marcava o fim da Via Appia, foi movida para o lado e escavações foram feitas, mas a maior parte do anfiteatro ainda está enterrada.
Depois da queda do Império Romano, Lecce foi saqueada pelos ostrogodos na época das invasões bárbaras, e depois foi por cinco séculos parte do Império Romano do Oriente, com capital em Istambul. Nesse tempo ela teve breves conquistas pelos sarracenos, lombardos, húngaros e eslavos. Depois, ela passou para o controle do Reino da Sicília, quando foi uma das cidades mais importantes do sul da Itália.
No século XVI, novas muralhas e um castelo foram construídos para impedir que a cidade fosse reconquistada pelos otomanos. Hoje, dá para visitar o Castelo de Carlos V e assistir peças no teatro lá dentro.
Também em homenagem a Carlos V foi aberta a Porta Napoli, uma das três entradas da cidade, e que depois foi coberta com uma fachada em estilo barroco.
Foi no século XVII, ainda sob o Reino da Sicília, que os monumentos barrocos foram construídos na cidade. É dessa época que vem as igrejas que tornam Lecce famosa.
A mais famosa das Igrejas é a Santa Croce, que tem a fachada mais famosa da cidade, famosa pela extravagância e pelos detalhes. Quando eu fui lá, ela estava parcialmente em reformas, mas o que eu vi já me deixou muito impressionada. A Igreja é ligada ao Palazzo dei Celestini, também famoso pelo estilo.

Na Piazza del Duomo, ficam não só o próprio Duomo, mas a Torre do Sino, o Episcopio e o Palácio dos Seminaristas. A Praça é fechada por três lados pelos prédios, e os cidadãos de Lecce usavam isso para se barricar lá dentro em épocas e invasões. Hoje, é lindo pela sensação de espaço aberto, que não é tão comum no centro histórico.
A Igreja de Santa Chiara vem do século XV, mas depois teve sua fachada reconstruída em estilo barroco. Ela é uma das mais importantes da cidade, famosa pelo teto de papier-maché imitando madeira.
Na lateral dela fica o Must, um museu de arte contemporânea em um antigo convento.
A Igreja de Santa Irene é dedicada à santa padroeira de Lecce, e foi modelada na igreja de Sant’Andrea em Roma.
A Igreja dos Santos Nicolò e Cataldo fica dentro do cemitério, fora do centro histórico. Ela é famosa pelos afrescos contando a vida dos santos, e por misturar elementos do romanesco e do barroco.
Quando eu estava saindo dessa igreja, começou uma chuva terrível, e acabei entrando na Università di Lecce, que é conectada à igreja, para procurar abrigo.
A Igreja de São Matteo também é conhecida como Santa Maria della Luce, e foi feita por Giuseppe Zimbalo, o arquiteto mais famoso do barroco de Lecce.
Esse foi meu passeio pelo barroco leccese, além de um pouquinho mais da história da cidade. Também vi muito da história da cidade no Museo Faggiano, onde um local de Lecce tentou achar a origem do vazamento no banheiro e acabou escavando 5 mil objetos de mais de 2500 anos.
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