Já falei aqui no blog da Galleria Borghese, que é para mim o museu mais espetacular de Roma. Apesar das burocracias que tornam a visita mais complicada, ele é único, e tem obras super famosas no mundo inteiro. Mas não é o único museu de arte em Roma cuja visita vale muito a pena, e esse é um assunto impossível de esgotar em alguns posts. Mas hoje vou falar de dois outros que curti muito: a Galleria Doria Pamphilj e a Galleria Barberini.
A Galleria Doria Pamphilj foi o primeiro dos dois que visitei. A família Doria Pamphilj era uma importante família principesca, que se tornou ainda mais influente quando um de seus membros se tornou o papa Inocêncio X. O retrato do papa feito por Velásquez é considerado a obra prima da coleção. Dizem que o papa, quando o viu terminado, teria dito “Troppo vero!”, ou seja, “Verdadeiro demais!”
O sobrinho de Inocêncio X, Camillo Pamphilj, casou-se com Olimpia Aldobrandini, que trouxe como dote o palácio onde o museu fica. Ela também trouxe pinturas de Rafael e Ticiano que ainda podem ser vistas na coleção. A maioria dos quadros que ela trouxe ficam na Sala Aldobrandini.

Uma das partes mais interessantes da visita foi o audioguide (incluído no preço, disponível em italiano, francês ou inglês), que é narrado por um descendente da família.
Durante a minha visita, eu peguei o audioguide, que era incluído no preço, e ele era narrado por um descendente da família, que dizia coisas como “Foi assim que minha antepassada trouxe esse quadro”, ou “era aqui que meu avô…”
Outra das obras mais famosas da coleção, e que está em todos os souvenirs, é o Repouso Durante a Fuga para o Egito, de Caravaggio.

Outra obra de Caravaggio lá é o San Giovanni Battista, do qual existem duas cópias quase idênticas na Galleria Doria Pamphilj e nos Musei Capitolini.

Finalmente, o terceiro quadro de Caravaggio na Galleria é a Madalena Arrependida.

Outro quadro famoso da Galleria é a Salomé de Ticiano, no qual dizem que o pintor fez um auto-retrato na cabeça decepada de São João Batista.

O retrato mais comprado na forma de souvenirs é o Retrato de Agatha von Schoonhoven de Jan van Scorel. Ele era um artista holandês, e um dos primeiros de lá a fazer um Grand Tour pela Itália.

Outro quadro vindo do dote de Olimpia Aldobrandini é a Paisagem com a Fuga para o Egito de Annibale Carraci. Ele foi feito na forma de lunetta, para decorar a parede, e era parte de uma série, mas depois foi separado dos outros.

Já a Galleria Barberini é parte do Museu Nacional de Arte Antiga. A família Barberini tem uma história semelhante da família Doria Pamphilj: eles eram uma importante família principesca romana que se tornou mais influente depois que um membro foi feito papa. Urbano VIII é responsável pela construção do palácio da família, e ele tirou muitos dos materiais para a construção de antigos prédios romanos, inclusive do Pantheon. Isso levou satiristas da época a dizer que o que nem os bárbaros fizeram, os Barberini fizeram.
Uma das maiores atrações é o Salão Nobre. Ele é deixado completamente sem mobília, com exceção de um grande sofá onde dá para se deitar e ver os afrescos do teto, pintados por Pietro Corona.

Um quadro que chamou muito a minha atenção foi o retrato de Beatrice Cenci feito por Guido Reni. Eu me lembrava da descrição das Crônicas Italianas do Stendhal, mas não sabia que o quadro estava lá e foi uma surpresa.
Beatrice Cenci era a filha de um nobre romano chamado Francesco Cenci, e tinha dois irmãos, Giovanni e Bernardo. Francesco havia sido considerado culpado de maltratar os filhos e de violentar Beatrice, mas ficou pouco tempo na prisão por ser um nobre. Os três filhos e Lucrezia, sua madrasta, depois de vários pedidos de ajuda às autoridades, assassinaram Francesco. Eles tentaram fazer com que sua morte parecesse acidente, mas foram descobertos. Houve um grande movimento popular para que eles não fossem punidos, já que os crimes de Francesco eram bem conhecidos, mas o papa não cedeu, com medo de uma onda de parricídios.
Giovanni foi torturado e executado, e Lucrezia e Beatrice foram decapitadas. Apenas o irmão mais novo, Bernardo, foi poupado, por ter apenas 12 anos. Esse caso fez uma grande impressão em vários artistas da Renascença, como Caravaggio, que assistiu as execuções, e mesmo depois. Stendhal, Dumas, Dickens e Nathaniel Hawthorne escreveram sobre o caso. Ela se tornou um símbolo das vítimas da aristocracia arrogante.

A execução de Beatrice Cenci supostamente foi a inspiração do quadro Judith que corta a cabeça de Holofernes (1597-1600), de Caravaggio, que por sua vez foi um dos quadros que mais influenciou seus seguidores.

Na Galleria Barberini ficam dois outros quadros de Caravaggio: Narciso (1598-1599) e San Francesco (1606).


Outra das pinturas mais famosas é La Fornarina, o retrato feito por Rafael de uma mulher desconhecida. Várias teorias foram feitas sobre a pintura, que ele nunca quis vender, a mais popular sendo de que a mulher retratada era sua amante.
A assinatura dele está no bracelete.

Um que reconheci dos meus livros de história do colégio foi o retrato de Henrique VIII, aquele das oito esposas, feito por Hans Holbein, o jovem.

No lado oposto à entrada, fica a famosa escada helicoidal construída por Borromini. É interessante porque a escada principal foi construída por Bernini, e eles tinham uma notória rivalidade. Se você quiser vê-la, visite em um dia de semana, porque o acesso fica fechado nos fins de semana.
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