Segundo Congo a ser sorteado esse ano, dessa vez um representante da República Democrática do Congo, ou Congo-Kinshasa. E acabou sendo o segundo livro na África francófona que se passa em um bar. Teve muitas semelhanças com Broken Glass, o livro que eu li para o Congo-Brazzaville, e o autor dele, Alain Mabanckou, escreveu o prefácio desse. Então vou falar um pouquinho da leitura de Tram 83, de Fiston Mwanza Mujila.
O romance conta a história de Lucien, que chega de trem em uma cidade cujo nome não sabemos. Ela é dominada por um senhor da guerra, e é um lugar onde estrangeiros vem para ganhar dinheiro rápido com minérios, e onde os locais lutam para sobreviver. Requiem, um amigo de Lucien, o leva ao Tram 83, um bar cheio desses estrangeiros, de mineradores, de traficantes de órgãos, estudantes, crianças-soldado e de prostitutas menores de idade, que ele chama de “baby-chicks”.
Inadvertent musicians and elderly prostitutes and prestidigitators and Pentecostal preachers and students resembling mechanics and doctors conducting diagnoses in nightclubs and young journalists already retired and transvestites and second-foot shoe peddlers and porn film fans and highwaymen and pimps and disbarred lawyers and casual laborers and former transsexuals and polka dancers and pirates of the high seas and seekers of political asylum and organized fraudsters and archeologists…
Lucien se senta no bar constantemente escrevendo em um caderno, trabalhando em uma peça que, segundo ele, será encenada em Paris. Ele também é responsável por outra semelhança com os trabalhos de Alain Mabanckou, as referências a outros romances que permeiam esse livro. Enquanto isso, seu amigo Requiem serve como contraposição ao seu otimismo, dizendo a ele que o Congo é um lugar onde “the mightier crush the mighty, the mighty defecate in the mouths of the weak, the weak sequestrate the weaker, the weaker do each other in, and then split for elsewhere.” É um conto que poderia se passar em Lubumbashi, a cidade onde Fiston Mwanza Mujila cresceu, e que é conhecida pela exploração de minérios. Mas também poderia se passar em centenas de outros lugares na África-subsaariana, como o próprio autor aponta – essa história de desaparecimento do Estado, capitalismo desenfreado e neocolonialismo infelizmente não é única.