Volta ao Mundo em Livros: Peru – La Hora Azul

É sempre bom quando um romance que leio no projeto me conta um pouco sobre a história recente do país, e percebi logo que eu teria várias oportunidades de fazer isso ao ler um livro peruano. A maioria das recomendações que encontrei era de livros assim, que lembraram e debatiam a história recente. E isso inclui o que eu acabei lendo, La Hora Azul, de Alonso Cueto.

O romance é narrado por Adrián Ormache, que passa o primeiro capítulo nos contando a sua história de ‘cidadão do bem”. Ele nos conta que é um advogado de sucesso que ganha nove mil dólares por mês, é casado e com duas filhas, mora em uma casa de 500 metros quadrados com quatro funcionários, e faz viagens constantes para as ilhas do Caribe. Os pais de Adrián se divorciaram quando ele era pequeno, e ele não pensa muito no pai, que já faleceu, a não ser em algumas banalidades: que ele, oficial da marinha, estava combatendo em uma guerra, a contra os militantes comunistas do Sendero Luminoso, e que isso era algo sobre o que ter orgulho.

Mas Adrián começa a pensar mais na guerra quando ele encontra com seu irmão Rubén, no funeral da mãe deles. Em tom casual, Rubén menciona que o pai deles costumava seqüestrar jovens quando ele estava em Ayacucho, estuprá-las, repassá-las para a tropa para um estupro coletivo, e que depois eles as matavam. E que teve uma que escapou, depois que o pai se apaixonou por ela. Adrián não consegue acreditar, e faz o irmão repetir cada detalhe, pergunta mais de uma vez onde ele ouviu falar de cada ponto da história. É tudo que o irmão sabe, mas Adrián começa a descobrir mais sobre a história quando ele mexe nos papéis da mãe, e percebe que ela estava sendo chantageada por alguém que se diz uma tia dessa jovem que escapou. Se ele não pagar mil dólares por mês, ele teme que isso possa ameaçar o nome da família e a vida confortável que ele leva.

Adrián começa uma busca obsessiva pela mulher, embora ele só saiba o seu primeiro nome, quase arrancado dos amigos do pai: Miriam. Ele começa a se preocupar menos com o trabalho, e a esposa dele fica com ciúmes do tempo que ele dedica para procurar Miriam. Ele chega a ir a Ayacucho para tentar saber mais dela, e pensa em todo momento no que ele descobriu sobre a história recente do próprio país: 

La muerte, la pobreza, la crueldad, habían pasado frente a mí como accidentes de la realidad, episodios pasajeros y ajenos que había que superar rápidamente. Ahora en cambio me parecían dádivas recién reveladas.

O livro é interessante por como fala da busca de Adrián e como a vida dele muda por isso, que ele percebe que não pode ficar mais fechado na vida fútil da classe alta. Mas, também por isso, pode parecer didático em alguns momentos. Também pode parecer muito inocente, de porque ele não sabia de nada que acontecia no país, não achava que nada tinha a ver com ele até descobrir que o pai dele era um torturador. E ele depois disso ainda tenta colocar um “tem dois lados”, falando que o Sendero Luminoso também cometia crimes contra os camponeses.

No final, é um livro com um tema interessante, mas confesso que fiquei decepcionada com a história. Com a lista enorme de livros que eu tinha achado para representar o Peru, acho que escolhi um que não era para mim. E espero ler outro livro para o país em breve.

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