Quando eu comecei a procurar um livro para Antigua e Barbuda, as indicações foram unânimes: Jamaica Kincaid. Embora seja um livro de não-ficção, eu fiquei muito interessada pelo que li sobre A Small Place, e foi o escolhido.
O livro começa com uma narração em segunda pessoa em que a autora se dirige a um turista norte-americano ou europeu que chega a Antigua. Ela brinca com as perguntas que turistas muitas vezes se fazem, mas que não vão a fundo para descobrir. Por que esse aeroporto tem o nome de um primeiro ministro? Por que essa biblioteca tem um cartaz falando de uma reforma próxima, mas o cartaz tá aqui há dez anos? Por que todos os taxistas têm carros japoneses de luxo, e será que as casas deles também são assim? E com aquilo sobre o que nem refletimos. A água que a gente pode usar a vontade, mas talvez esteja faltando para os locais, talvez esteja poluindo a ilha.
Jamaica Kincaid responde essas perguntas, mas como parte de um quadro mais complexo em que ela faz uma ligação entre a indústria do turismo e os legados pós-coloniais de Antigua. Ambos se fazem sentir na língua que eles falam, na forma de governar, na forma como a servilidade é vista como uma virtude, na hegemonia cultural.
É um livro que tem raiva, que tem acusações, e como poderia ser diferente quando o mundo ainda não acertou as contas com o imperialismo? Ela deixa claro que ele ainda existe na ilha, onde se governa do mesmo modo que os britânicos governavam, e onde ela sente falta de entusiasmo por um capitalismo que originalmente tratava quem é como ela como mercadoria.
Esse livro é desconfortável. Imagino que ele seja o exato oposto de passar férias em um resort luxuoso do Caribe, e por isso mesmo funciona como complemento, mostrando o outro lado. São verdades desconfortáveis, e por isso mesmo foi o tipo de livro que gosto de ler nesse projeto.
THE PEOPLE LIKE ME, FINALLY, AFTER YEARS AND YEARS OF AGITATION, MADE DEEPLY MOVING AND ELOQUENT SPEECHES AGAINST THE WRONGNESS OF YOUR DOMINATION AGAINST US, AND THEN FINALLY, AFTER THE MUTILATED BODIES OF YOU, YOUR WIFE, AND YOUR CHILDREN WERE FOUND IN YOUR BEAUTIFUL AND SPACIOUS BUNGALOW AT THE EDGE OF YOUR RUBBER PLANTATION – FOUND BY ONE OF YOUR MANY HOUSE SERVANTS (NONE OF IT WAS EVER YOURS; IT WAS NEVER, EVER YOURS) – YOU SAY TO ME, “WELL, I WASH MY HANDS OF ALL OF YOU, I AM LEAVING NOW”, AND YOU LEAVE, AND FROM AFAR YOU WATCH AS WE DO TO OURSELVES THE VERY THINGS YOU USED TO DO TO US. AND YOU MIGHT FEEL THAT THERE WAS MORE TO YOU THAN THAT, YOU MIGHT FEEL THAT YOU HAD UNDERSTOOD THE MEANING OF THE AGE OF ENLIGHTENMENT (THOUGH, AS FAR AS I CAN SEE, IT HAD DONE YOU VERY LITTLE GOOD); YOU LOVED KNOWLEDGE AND WHEREVER YOU WENT YOU MADE SURE YOU BUILT A SCHOOL, A LIBRARY (YES, AND IN BOTH THESE PLACES YOU DISTORTED AND ERASED MY HISTORY AND GLORIFIED YOUR OWN). BUT THEN AGAIN, PERHAPS AS YOU OBSERVE THE DEBACLE IN WHICH I NOW EXIST, THE UTTER RUIN THAT I SAY IS MY LIFE, PERHAPS YOU ARE REMEMBERING YOU HAD ALWAYS FELT PEOPLE LIKE ME CANNOT RUN THINGS, PEOPLE LIKE ME WILL NEVER GRASP THE IDEA OF GROSS NATIONAL PRODUCT, PEOPLE LIKE ME WILL NEVER BE ABLE TO TAKE COMMAND OF THE THING THE MOST SIMPLEMINDED AMONG YOU CAN MASTER, PEOPLE LIKE ME WILL NEVER UNDERSTAND THE NOTION OF RULE BY LAW, PEOPLE LIKE ME CANNOT REALLY THINK IN ABSTRACTIONS, PEOPLE LIKE ME CANNOT BE OBJECTIVE, WE MAKE EVERYTHING SO PERSONAL. YOU WILL FORGET YOUR PART IN THE WHOLE SETUP, THAT BUREAUCRACY IS ONE OF YOUR INVENTIONS, THAT GROSS NATIONAL PRODUCT IS ONE OF YOUR INVENTIONS, AND ALL THE LAWS THAT YOU KNOW MYSTERIOUSLY FAVOUR YOU.