Užupis sempre foi um bairro isolado do resto de Vilnius, na Lituânia, mas recentemente a comunidade de artistas do bairro resolveu levar isso para a próxima etapa e o declararam um Estado independente. Užupis literalmente significa do outro lado do rio, que cerca o bairro de um lado. De outro lado ficam colinas e do terceiro um bairro industrial soviético. Isso sempre deu um caráter próprio para o bairro, e eles sempre prezaram sua autonomia.

Originalmente, a maioria dos habitantes eram judeus, mas foram quase todos mortos durante o Holocausto. O bairro abandonado foi então ocupado por aqueles que não encontravam espaço na cidade antiga, como sem teto e prostitutas. Também foi onde se estabeleceu uma colônia de artistas. Até 1990, era o bairro mais negligenciado da cidade, com casas que não tinham serviços básicos. Isso era ruim em vários aspectos, mas permitia que eles fizessem arte nas ruas, e substituíssem as sisudas estátuas oficiais com outras menos formais.


Em 1997, os residentes do bairro proclamaram Užupis uma República Independente, com sua própria bandeira, moeda, presidente, constituição, ministros, hino e exército (atualmente 11 pessoas). Todo ano eles comemoram a Independência no 1 de abril. Até pela data dá para ficar confuso se a independência é para ser levada a sério ou se é uma grande piada, mas eles realmente carimbam os passaportes dos turistas que pedem.



A maior preocupação da República de Užupis é a produção de arte. E a arte está em todo lado. Na beira do rio ficam instalações, quadros, e até uma sereia capaz de conquistar os turistas que chegam e forçá-los a permanecer para sempre por lá. Ou pelo menos é a desculpa que eles dão depois.


Em 2002, foi inaugurada a estátua de um anjo tocando trompete que viria a se tornar o símbolo da revitalização de Užupis. Todos os mapas apontam para a praça do anjo como o centro do bairro/país.

A Constituição também fica pregada nas paredes de uma rua, em várias línguas. Não tem em português, mas no site fala que a plaquinha na nossa língua será inaugurada em julho de 2019. Enquanto isso, aqui tem uma cópia, para quem está curioso sobre quais são os direitos e deveres dos cidadãos de Užupis.


- Todo mundo tem direito de viver perto do rio Vilnele, e o rio Vilnele tem o direito de passar por todo mundo.
- Todo mundo tem o direito à água quente, aquecimeno no inverno e um telhado.
- Todo mundo tem o direito de morrer, mas essa não é uma obrigação.
- Todo mundo tem o direito de cometer erros.
- Todo mundo tem o direito de ser único.
- Todo mundo tem o direito de amar.
- Todo mundo tem o direito de ser amado, mas não necessariamente.
- Todo mundo tem o direito de ser indistinguível e desconhecido.
- Todo mundo tem o direito de ser ocioso.
- Todo mundo tem o direito de amar e cuidar de um gato.
- Todo mundo tem o direito de cuidar de um cachorro até que um dos dois morra.
- Um cachorro tem o direito de ser um cachorro.
- Um gato não é obrigado a amar seu dono, mas deve ajudar em época de dificuldades.
- Todo mundo tem o direito a não saberem de vez em quando das suas obrigações.
- Todo mundo tem o direito a ter dúvidas, mas isso não é uma obrigação.
- Todo mundo tem o direito de ser feliz.
- Todo mundo tem o direito de ser infeliz.
- Todo mundo tem o direito de ficar em silêncio.
- Todo mundo tem o direito de ter fé.
- Ninguém tem o direito de usar violência.
- Todo mundo tem o direito de apreciar a própria desimportância.
- Ninguém tem o direito de ter um projeto para a eternidade.
- Todo mundo tem o direito de entender.
- Todo mundo tem o direito de não entender nada.
- Todo mundo tem o direito de ser de qualquer nacionalidade.
- Todo mundo tem o direito de celebrar ou não celebrar o seu aniversário.
- Todo mundo deve lembrar o próprio nome.
- Todo mundo pode dividir o que tem.
- Ninguém pode dividir o que não tem.
- Todo mundo tem o direito de ter irmãos, irmãs e pais.
- Todo mundo pode ser independente.
- Todo mundo é responsável pela própria liberdade.
- Todo mundo tem o direito de chorar.
- Todo mundo tem o direito de ser mal-compreendido.
- Ninguém tem o direito de fazer outra pessoa se sentir culpada.
- Todo mundo tem o direito de ser um indivíduo.
- Todo mundo tem o direito de não ter direitos.
- Todo mundo tem o direito de não ter medo.
- Não derrote.
- Não reaja.
- Não se renda.


Os três no final são mais lemas do que direitos, mas ganham números na constituição. Andar pelas ruazinhas de Užupis e achar as instalações já é interessante, mas o bairro/país ainda tem várias galerias e lojas de design que valem a pena. E de noite ele é cheio de bares, então vale a pena explorar em horas diferentes do dia.
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