Tourists go home – visitando uma Barcelona que não aguenta mais turismo predatório

Antes de ir para Barcelona, eu ouvi de muitas pessoas que o clima da cidade era de ódio aos turistas. O turismo tinha trazido muitas vantagens e muito dinheiro para a cidade, mas passou de um limite e se tornou predatório. A vida dos locais foi muito afetada por causa da gentrificação e do AIRBNB, que a cada dia os expulsam para mais longe do centro da cidade, pelos engarrafamentos, pela saturação do transporte público, pela abertura de lojas e museus que retratam a Espanha de Disney que o turista quer ver, e não a cidade que eles amam.

Parque Guell Gaudì Barcelona2

O lugar onde eu mais notei o turismo predatório em Barcelona foi o Parque Güell, de Gaudì. Os outros prédios dele são caríssimos e tem entrada regulada, e acho que só viciados nas obras dele como eu vão visitar todos. Mas o Parque Guell, apesar de ter o número de visitantes rigorosamente controlado, foi insuportável. Não dava para andar sem esbarrar em todo mundo. Olhando no Trip Advisor, vi que muita gente teve a mesma impressão. Geralmente olho no Maps quais são os horários mais visitados de uma atração, e consigo evitar as multidões mesmo em cidades muito visitadas, mas essa foi uma parte de Barcelona em que isso foi impossível. E eu fui a Barcelona no inverno, na baixa temporada. Se eu tivesse ido no verão, tenho certeza que teria gostado bem menos da cidade.

Parque Guell Gaudì Barcelona9
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Olhando as estatísticas do parque, vi que moradores dos bairros vizinhos entram no parque de graça, e que pessoas de toda a cidade podem aplicar para conseguir um número de ingressos gratuitos por ano. No entanto, menos de 3% dos visitantes são locais, presumivelmente porque não é uma visita agradável. 86% dos visitantes são de fora da Espanha. Ou seja, era um parque e um patrimônio cultural da cidade que era aberto a todos, e agora está nas mãos de poucos. É um grande exemplo de como a qualidade de vida dos locais pode decair com o turismo de massa.

Parque Guell Gaudì Barcelona7
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As Ramblas são outro lugar que foi sacrificado às massas. Lotado, insuportável, e cheio de batedores de carteira, que seguem o fluxo dos turistas.

No Raval, onde fui para ver a Arte de Rua, a todo momento via pichações que diziam “Refugees Welcome, Tourists Go Home”. Outros cartazes diziam “O turismo mata a cidade” e “não seremos expulsos”. Esse bairro hoje em dia passa por um processo de gentrificação. A princípio, isso foi bem visto e trouxe renovação ao lugar, mas agora está fazendo com que pessoas que moram lá há anos tenham que abandonar o bairro porque não conseguem mais pagar os aluguéis, e que as que ficam não reconheçam mais a cara do bairro. Antes ele era conhecido por ser multicultural, e eles temem que isso se perca.

Ocupação no Reval Barcelona

Lá no Raval ficou outro dos lugares que menos curti, o mercado da Boquería. Ele se voltou muito para os turistas, e o que a gente acha lá hoje é, na maior parte, comida cara e não tão tradicional.

Mercado boqueria barcelona

Na maioria dos lugares de Barcelona, eu me senti bem recebida e a cidade não estava tão lotada – mas, repito, era inverno. No entanto, quando a gente vê que o turismo está dificultando as vidas dos locais, é impossível não parar para pensar se o que a gente tá fazendo é sustentável.

Barcelona está lutando por um turismo sustentável, e tem partes disso que só eles podem fazer. Mas o que nós podemos fazer? Por mais que eu ache que a melhor época para visitar uma cidade é a época em que a gente pode, evito visitar lugares muito populares na alta temporada. Parte por um motivo egoísta, porque não gosto de fila e superlotação, parte porque não quero que essas cidades sejam destruídas. Também fiquei procurando online como podemos visitar uma cidade assim de forma sustentável. Algo que sempre pediam é para ficar em apartamentos que tem licença para aluguel de curta temporada, não importa se pelo AIRBNB ou não. Além disso, pediam para comprar em lojas locais e para ter o mínimo de bom senso – basicamente, não ser aquele turista falando alto, ocupando a calçada inteira, comprando bolsas falsas, enchendo a cara na rua ou urinando nos prédios. Parte é tão óbvia que é difícil acreditar no número de gente que não cumpre. Mas parte é um exercício que temos que fazer sempre, para que não sejamos parte do turismo predatório.

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