Como os mosaicos tornam Ravenna um lugar único

Passando pelo centro histórico, você pode achar que Ravenna é como outras cidades da Emilia-Romagna, mas é só entrar em um dos oito edifícios considerados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e ver os mosaicos, para ver como a cidade é extraordinária. Para começar, essa cidadezinha de 150 mil habitantes já foi capital de impérios e reinos. As atrações da cidade são mais antigas do que a média na região, e elas tem uma história de ponte entre o oriente e o ocidente que tornam a cidade extraordinária, mesmo para a Itália.

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Poderia ser uma rua de Bologna ou Parma, mas logo você percebe o que torna essa cidade única

Em 402, a cidade de Ravenna foi feita capital do Império Romano pelo imperador Honorius. Era uma cidade fácil de defender e próxima ao porto de Classis, o maior porto romano no Adriático, então ela tomou o lugar de Milão, que tinha tomado o lugar de Roma. Porém, ela foi tomada pelos ostrogodos menos de cem anos depois – quando se tornou capital de seu reino. Como eles também eram cristãos, mantiveram as construções de igrejas e monumentos na cidade até 540, quando a cidade foi reconquistada pelo que restava do império romano, de sua sede em Istambul. Ravenna continuou capital, mas um pouco rebaixada, dessa vez apenas do Exarcado de Ravenna, uma das possessões bizantinas na península.

Minha primeira parada, logo perto da estação de trem, foi a Basília de São Apolinário Novo, mais conhecida pelos mosaicos que mostram duas fileiras de mártires, homens de um lado e mulheres de outro. Ela foi construída por Teodorico, rei dos ostrogodos. Eles não acreditavam na total divindade de Cristo, por isso a maioria dos mosaicos foi arrancada pelos bizantinos e novos foram feitos, dedicados a São Martinho. Outros mosaicos foram destruídos porque tinham imagens do próprio Teodorico. No século IX ela foi consagrada de novo, dessa vez a São Apolinário novo. Uma curiosidade da igreja é que em um dos mosaicos você pode ver um anjo azul que é considerado por alguns historiadores da arte como a primeira representação do diabo na arte ocidental.

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Depois fui ao Túmulo de Dante. Depois das brigas entre os guelfos – que apoiavam o domínio o papa -, e os guibelinos – que apoiavam o Sacro Império, Florença se viu em outra briga, entre os guelfos brancos e negros. Foi nessa que Dante se viu exilado, e acabu morrendo longe da cidade que amava. Construíram outro túmulo para ele em Florença, na Santa Croce, mas ele permaneceu vazio.

No Museu do Arquebispo de Ravenna, pode-se visitar uma pequena capela com mosaicos do décimo segundo século. Eles são uma reconstrução de mosaicos originais do sexto século. Outra jóia da coleção é a Cadeira de Marfim, engravada de modo intrincado, ainda magnífica mesmo com partes faltando.

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Fotos tiradas do site oficial do Palácio

Antigas termas romanas foram a origem do Batistério de Neone, minha próxima parada. A escolha é bem lógica, já que as termas já tinham piscinas e batismos costumavam envolver imersão total. Ele também é chamado de batistério dos ortodoxos, para diferenciar do depois, construído pelos ostrogodos.

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A Basílica de São Vitale é talvez o prédio mais famoso e onde você pode encontrar a maior concentração de mosaicos. Ela também foi começada pelo Imperador Teodorico, mas foi terminada em 548 pelo imperador bizantino Justiniano. Muito famosa pelo efeito de chiaroscuro, ela seria a inspiração para a construção de outra igreja, a Hagia Sophia, 15 anos depois em Istambul.

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Os mosaicos mostram cenas do antigo testamento e o próprio imperador Justiniano e sua esposa Teodora.

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Continuando atrás da Basílica você chega no pequeno Mausoléu de Galla Placidia, feito em forma de cruz. Galla Placidia era irmã de Honorius, imperador romano. Nas suas frequentes viagens, ela ficava no comando da cidade, e ela foi responsável por muitas das construções de Ravenna. Quando os ostrogodos saquearam Roma, ela foi levada para lá como refém, e causou um escândalo ao casar com um de seus sequestradores, Ataulfo. Ela ia para batalhas com ele, mas quando ele foi assassinado ela teve que se casar novamente, com um general romano chamado Constâncio. O filho deles, Valentino, foi imperador romano aos seis anos de idade, transformando-a em regente para todo o império do ocidente.

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O outro batistério da cidade é o Batistério Ariano, mais conhecido pelo mosaico mostrando os doze apóstolos e um raro Jesus sem barba. Os ostrogodos eram arianos, no sentido em que acreditavam que Jesus Cristo era filho de deus e subordinado a ele, e sua divindade não era completa. Eles permitiram que as duas versões do cristianismo coexistissem, mas por isso foram construídos batistérios separados em bairros diferentes.

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Eu pretendia terminar a visita na Domus dei Tappeti di Pietra, literalmente a casa dos tapetes de pedra, outro lugar conhecido pelos mosaicos, mas infelizmente ela estava fechada para reformas.

O Museu do Arquebispo, a Basilica di San Apolinario Nuovo, a Basilica di San Vitale, o Mausoléu de Galla Placidia e o Batistério Neoniano tem entrada combinada, que pode ser comprada em qualquer um deles menos o Mausoléu. A entrada custa 9,50 euros para adultos e 8,50 para estudantes. O Batistério dos Arianos tem entrada gratuita.

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