Os tchecos não gostam muito de Franz Kafka. Ele escrevia em alemão, não em tcheco. Para alguns, isso simboliza a diversidade da cidade, para outros é quase uma traição. O maior autor tcheco, segundo a maioria dos tchecos que conheci lá, é Hrabal.
Mas Kafka também é um símbolo da época em que viveu. Ele era um judeu que escrevia em alemão em Praga, antes que os nazistas matassem a maioria dos judeus, e os soviéticos expulsassem os alemães. Ao mesmo tempo, por ser o que era, foi proibido durante o comunismo – ou pelo seu nome ter virado o adjetivo que melhor representava a burocracia e o terror do regime.

Kafka tinha pela sua cidade de nascimento uma relação de amor e ódio, e provavelmente ele odiaria ter sido transformado em praça e souvenir. Na Carta ao Pai, ele diz que não pode viver em Praga, mas não sabe se pode viver em algum outro lugar. Praga era o lugar onde ele vivia uma vida dupla, de funcionário e de escritor. Era onde ele tinha vivido em um ambiente familiar sufocante.

Sua relação com o judaísmo é igualmente complicada. Ele frequentava a Sinagoga Nova-Velha e a Sinagoga Pinklas, ambas ainda conservadas porque Hitler queria fazer delas um museu da extinta raça judaica. Kafka também viu a remodelação do bairro judeu, que se transformou de pequeno e insalubre a rico e desejado, com a abertura de grandes boulevares. Mas ele ainda via nas ruas o bairro antigo, como era.

Descendo a partir do Castelo de Praga, onde Kafka morou por um tempo, você pode encontrar o Museu de Kafka, que tenta recriar a atmosfera dos seus livros. É um museu conceitual muito interessante, que deve agradar aos fãs do autor.

Em frente ao Museu Kafka, há uma famosa escultura do David Cerny conhecida como The Pissing Men. Eles urinam em um mapa da República Tcheca e podem soletrar o que você pedir em uma mensagem de texto. Não perca tempo tentando descobrir a relação com Kafka – a estátua estava lá muito antes da abertura do museu, e Praga é bem conhecida pelas estátuas bizarras.

Mas o polêmico Cerny também tem uma escultura de Kafka.
Ela é uma cabeça gigante do autor, pesando cerca de 45 toneladas. Ela é composta de mais de 40 camadas espelhadas que se movem independentemente, construindo e reconstruindo o rosto do autor, para mostrar sua personalidade multifacetada e torturada.

Kafka é inescapável, já que ele morou até dentro do Castelo.

Quando eu quis fazer uma tatuagem sobre meu intercâmbio com a AIESEC em Praga, foi uma frase dos diários dele que escolhi: “Prague doesnt’t let go. Of Either of us. This old crone has claws. One has to yield or else. We would have to set fire to it on two sides, at the Hradcany and the Vysehrad, then it would be possible for us to get away.”

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Linda tattoo! Também amo Kafka!
Obrigada!
Meu sonho de conhecer Praga se tornou mais vivo.