Volta ao Mundo em Filmes – Cabo Verde: Ilhéu de Contenda

O filme que eu escolhi para Cabo Verde foi o primeiro da história do país a ser filmado por um local: Ilhéu de Contenda, de Leão Lopes. Ele é baseado no romance de mesmo nome de Henrique Teixeira de Sousa, primeiro de uma trilogia sobre o país e um clássico da literatura local. Ele foi feito em 1995 com apoio do Instituto Cabo-verdiano de Cinema, que desde então deixou de existir. 

O filme começa na Ilha do Fogo, uma das ilhas do arquipélago de Cabo Verde, famosa pelo vulcão conhecido como Pico do Fogo. As primeiras cenas mostram um proprietário, Eusébio (João Lourenço), que assiste trabalhadores da sua varanda. A mãe dele, Nha Caela (Isabel de Castro), está morrendo, mas insiste que ele mantenha a reputação da família, que ele mostre a todos quem são os Medina da Veiga, organizando uma grande festa.

Essa família funciona no filme como um símbolo da decadência do colonialismo em Cabo Verde, que estava em seus últimos anos quando o livro foi escrito, na década de 60 – Cabo Verde conquistou a independência de Portugal apenas em 1975. A família é a própria decadência, pessoas que enriqueceram na época da escravidão, mas que ainda tem toda a soberba de quem ainda se acha melhor do que todo mundo na ilha. Eles se acham melhores que os nativos por serem portugueses e brancos, melhores que as pessoas que resolveram voltar para a metrópole, e melhores que os que sucumbem a certos vícios como o jogo – ou seja, são os típicos “cidadãos do bem”. Eusébio pretende melhorar a fortuna da família investindo na agricultura, preso na nostalgia do passado em que eles eram importantes, e sem conseguir ver que os novos ricos das ilhas são os nativos que fizeram dinheiro nos Estados Unidos.

O filme mostra muito bem um momento de transição, em que o colonialismo terminava, mas permanecia nas mentalidades e na desigualdade da ilha. Além disso, também mostra muito da ilha, principalmente com a trilha sonora, feita com músicas de Cesária Évora, a cantora mais conhecida de Cabo Verde. Com tudo isso, o filme representou bem Cabo Verde no projeto, e fiquei satisfeita com a escolha.

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