Volta ao Mundo em Livros – Irlanda: The Country Girls

Quando eu escolhi o meu título para a Irlanda, o meu plano era só ler o romance original, The Country Girls, de Edna O’Brien. Mas acabei devorando a trilogia toda, e por isso, vai ser mais um título roubado, em que entram vários, pela minha incapacidade de escolher. 

A Edna O’Brien é considerada uma grande-dama da literatura irlandesa. Ela virou uma sensaçao, e criou muita polêmica, já com seu primeiro romance, The Country Girls, pela forma franca como ela fala de sexo. A Irlanda hoje entra mais no radar das pessoas como um país moderno, para onde muitas pessoas se mudam para trabalhar com finanças, mas até pouco tempo atrás, ele era tristemente infame como um país conservador, preso em uma forma de religião antiquada e misógina. Para dar um exemplo, nos anos 90 saiu o grande escândalo das Lavanderias das Magdalenas, lugares construídos pela igreja para abrigar “mulheres caídas”, onde mulheres podiam ser encarceradas e mantidas contra a própria vontade por serem prostitutas, mães solteiras, órfãs, PCDs, ou simplesmente por não serem virgens. O que a Edna O’Brien escrevia sobre sexo, que não parece nada demais hoje em dia, foi o bastante para que os livros fossem banidos e ela fossem acusada de corromper a juventude. Eimear McBride, outra irlandesa, disse sobre esses livros “This famous, infamous, beloved and influential novel didn’t break the mould. It made it”.

A trilogia é composta de The Country Girls, The Lonely Girl, e Girls in their Married Bliss. Eles seguem a vida de duas meninas de cidade pequena: Caithleen “Cait/Kate” Brady e Bridget “Baba” Brennan . Os dois primeiros romances são narrados pela Cait, e o segundo alterna entre a Baba e um narrador em terceira pessoa. Eles seguem as duas dessa cidade, para um internato em um convento, para a vida delas em Dublin, com um período em Londres. 

As duas passam por muito durante os romances – que, afinal, cobrem décadas – mas pela maior parte deles, elas são marcadas pela diferença de perspectiva. A Cait é sonhadora, romântica, querendo encontrar amor e uma vida de cinema. A Baba é mais pragmática, e quer apenas viver a vida de uma jovem na cidade, e achar um marido rico que a banque. Mas era escandaloso na época que nenhuma das duas queria a vida tradicional de dona de casa. Com cada livro, elas perdem ilusões, e ficam mais cansadas do que é esperado delas, e o terceiro tem um tom bem mais pesado que os outros dois. Da boca da Baba:

An Irishman: good at battles, sieges, and massacres. Bad in bed. But I expected that. It made him a hell of a sight nicer than most of the sharks I’d been out with, who expected you to pay for the pictures, raped you in the back seat, came home, ate your baked beans, and then wanted some new, experimental kind of sex and no worries from you about might you have a baby, because they liked it natural, without gear.

Em 1986, os três livros foram republicados em uma edição única, com o final mudado, e um epílogo novo escrito pela autora. Foi essa a edição que eu li, e a recomendo.

Com esa história de duas amigas, o romance me lembrou muito A Amiga Genial, da Ferrante, que eu li para a Itália. E de fato a Edna O’Bried tá com um livro de contos na famosa lista de livros recomendados pela Ferrante, que já inspirou aqui leituras para o Japão, a Áustria e o Irã.

Achei que foi uma leitura excelente para a Irlanda, e, como a primeira leitura que fiz para o projeto em 2022, abriu esse ano com chave de ouro.

2 comentários

  1. caderno quatro

    Ainda não li nada dela, mas agora fiquei interessado. Ela esteve no Brasil, na Flip, em 2009, acho. E tem uma biografia do James Joyce.
    Parabéns pelo blog.

Deixe uma resposta