Volta ao Mundo em Filmes: Ruanda – Munyurangabo

Tá ficando a cada vez mais difícil achar filmes para representar os países diferentes do projeto. A impressão que eu tenho é que os países fáceis já passaram, e a segunda metade vai ser bem mais complexa. No caso de um filme de Ruanda, eu tive que flexibilizar um pouco os critérios, mas achei um filme que realmente valeu a pena, Munyurangabo, de Lee Isaac Chung.

O diretor não é um local, ele é um descendente de coreanos que cresceu nos Estados Unidos, e inclusive foi indicado aos Oscars esse ano por um filme dedicado a uma família como a dele, vivendo em uma área rural do Arkansas. Geralmente eu procuro por diretores locais, mas esse filme me chamou a atenção por ser o primeiro já filmado na língua local, o Kinyarwanda, e resolvi dar uma chance.

O filme conta a história de dois meninos, Munyurangabo (Jeff Rutagengwa) e Sangwa (Eric Dorunkundiye), que trabalham em Kigali, a capital de Ruanda. Eles decidem partir em uma jornada, e no caminho param na vila de Sangwa, já que ele não vê os pais há três anos. Os pais de Sangwa ficam um pouco bravos com ele, que desapareceu e não mandou notícias quando se mudou para Kigali, mas logo ficam ainda mais preocupados com a presença de Munyurangabo. 

Se você já leu algo sobre o Genocídio em Ruanda (e se não leu, recomendo o ótimo romance que li para representar o país no projeto, Nossa Senhora do Nilo, de Schlastique Mukasonga), já dá para entender por isso o que está acontecendo. A família de Sangwa é de Hutus, e Munyurangabo é um Tutsi. E o pai de Sangwa logo avisa o filho que os dois grupos ainda são inimigos, e fica claro que ele culpa os Tutsis pela pobreza em que a família vive. O genocídio parece ainda estar ligado à viagem dos dois meninos, que no início não parecia ter um motivo específico, e à machete que Munyurangabo roubou em um mercado de Kigali.

Uma das cenas do filme que se tornou mais famosas é aquela em que Munyurangabo para em um restaurante na beira da estrada, e um poeta local pergunta se ele gostaria de ouvir o poema que ele compôs para a festa da independência de Ruanda. O jovem é realmente um poeta local, Edouard B. Uwayo, que recita um poema próprio, e a cena realmente é fantástica.

O único outro filme que eu tinha visto sobre Ruanda tinha sido Hotel Ruanda, um filme importante por como conta a história do genocídio, mas que é melodramático, exatamente a minha idéia sobre um estrangeiro do “Norte Global” dirigindo um filme sobre a região. Munyurangabo é bem o oposto: um filme lento, meditativo, que não foca nas cenas de violência, mas nos traumas que uma grande tragédia deixa impressos na vida cotidiana. Achei realmente um filmaço, e recomendo muito.

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