Volta ao Mundo em Filmes: Venezuela – Pelo Malo

Quando eu comecei a procurar sobre o cinema da Venezuela para a Volta ao Mundo, descobri que o filho de Nicolás Maduro, Nicolás Maduro Guerra, foi apontado como o atual chefe da Escola Nacional de Cinema. Em um país onde parece que todo filme tem pelo menos uma parcela de investimentos públicos, parecia mal sinal. Mas descobri que desde a crise, a Venezuela tem tido uma nova leva de filmes de baixo orçamento com posturas mais críticas sobre o país e a sociedade, enquanto antes disso era principalmente um cinema de propaganda. Dois filmes especialmente foram muito recomendados: De Longe te Observo, de Lorenzo Vigas, e Pelo Malo, de Mariana Rondón.

Eu escolhi Pelo Malo, que em espanhol é uma expressão sinônima de “cabelo ruim”. Ele conta a história de Junior (Samuel Lange), um menino de nove anos que mora com a mãe, Marta (Samantha Castillo), e o irmão pequeno em Caracas. O pai dele morreu há pouco tempo, e a mãe está custando para lidar com a falta de dinheiro, com o emprego precário, e cuidar dos filhos. Principalmente, ela se preocupa com a obsessão do filho com o próprio cabelo, em alisar o seu “cabelo ruim”. 

Junior quer tirar uma foto para a escola vestido como um cantor, com o cabelo alisado. Ele tenta de tudo, de passar maionese com abacate no cabelo a contar com a ajuda da avó. Tirar a foto não é uma tarefa fácil porque custa dinheiro, e até o fotógrafo estranha, pergunta se ele não quer se vestir como soldado, segurar uma arma. A amiguinha dele, (Maria Emilia Sulbaran), da mesma idade, chega a dizer em uma cena que ele podia se vestir de militar para que a mãe dele o ame. Marta é mais direta, e em uma cena, pergunta ao pediatra por que o filho é tão diferente, um menino que “canta e fica penteando o cabelo”, e pergunta se ele é homossexual.

O filme toca em muitas questões de raça – para começar com o termo “cabelo ruim”, e a preocupação com alisar o cabelo, e também em questões de gênero. A amiguinha de Junior, obcecada com concursos de beleza, já se preocupa muito com peso, e já entendeu o que significa crescer como mulher naquela comunidade – em uma cena, ela diz que quer sair do bairro porque lá eles estupram. Principalmente, a falta de compreensão de Marta com o filho tornou a relação dos dois um inferno. Tudo que ele faz é interpretado por ela como um sinal, e ele claramente anseia pelo mesmo afeto que ela mostra pelo bebê, mas sem consegui-lo.

O filme contrapõe a briga de Junior com seu cabelo com cenas de venezuelanos que raspam a cabeça em público – era a época em que Hugo Chávez morria de câncer, e os jornais falam sem parar das pessoas que tentam grandes gestos de apoio, ou usam a comoção popular para os próprios interesses. Sem isso, talvez o filme pudesse se passar em qualquer cidade da América Latina, Gostei muito do filme, e foi uma boa escolha para aprender um pouco mais sobre a Venezuela.

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