Perugia foi uma das minhas cidades preferidas na Itália. É uma daquelas cidades italianas construídas em camadas, em que você passeia e vê na arquitetura mostras dos povos que passaram por lá, em mais de dois mil anos de história. Então resolvi escrever esse post com alguns dos lugares mais interessantes que visitei na ordem em que eles foram construídos, mostrando assim um pouquinho da história da cidade.
Perugia é uma cidade bem antiga, como você pode ver desde a entrada na cidade, pelas portas antigas. O território é habitado desde o século X AEC, e uma cidade etrusca desde o século VIII AEC. Os etruscos são uma das civilizações mais antigas da Itália, que acabou sendo absorvida pelo Império Romano dois séculos antes da nossa era, e por isso não tem tanto da época deles que foi preservado. Mas em Perugia, as muralhas em torno da cidade foram construídas por ele, e partes vem dessa época, como a Porta Etrusca.
Os muro e portas foram muito alterados desde a época etrusca, mas ainda estão lá e dá para ver a vista da cidade deles.
Outra parte da cidade que vem dessa época é o Poço Etrusco, que foi usado na cidade pelos séculos seguintes. Nos anos 60 ele foi esvaziado para ser estudado, e desde então é um ponto turístico.
Para quem se interessa mesmo pelos etruscos, talvez o mais interessante sejam os túmulos etruscos um pouco fora da cidade. O mais famoso é o Ipogeo da família Volumnus.
A próxima parada depois dos etruscos é o Império Romano, que dominou Perugia em 295 AEC, depois de ganhar uma batalha contra os etruscos. E o principal que vem dessa era e que a gente pode ver é o chão de mosaicos, ainda preservado na universidade. A universidade é uma das mais antigas da Itália, do século XIII (a mais antiga, a de Bologna, é de 1088), e Perugia ainda é conhecida como uma cidade estudantil.
Depois Perugia passou pelos bizantinos, e desde o século IX EC virou parte dos Estados papais, sob domínio direto da Igreja Católica. Mas a cidade era bem independente, conseguiu se desenvolver de forma bastante única, e chegou a guerrear com a maioria das cidades vizinhas. E é dessa época que vem grande parte da Perugia que a gente vê hoje. A maioria deles fica ao redor da praça principal, a Piazza IV Novembre.
Como quem governava a cidade no dia a dia era o bispo, a Catedral era muito importante, e uma existia nesse lugar desde o século 10. A atual foi construída entre o século XIV e o XVI. Depois ela foi alterada e adaptada muitas vezes, como na vez em que eles experimentaram cobri-la com mármore rosa, mas que não foi muito adiante, e hoje só cobre parte da fachada.
No centro da praça fica a Fontana Maggiore, construída em mármore rosa e branco entre 1275 e 1278. A fonte tem 50 painéis em bas-relief e 24 estátuas, contando histórias do Antigo Testamento, a fundação de Roma, as sete artes liberais e os signos do zodíaco. Em cima ficam um grifo, símbolo da cidade de Perugia, e um leão, símbolo dos Guelfos, a facção medieval que apoiava o papa na sua disputa com o Imperador do Sacro Império Romano Germânico.
Logo em frente fica o Palazzo dei Priori, que era a sede dos “priori”, os cidadãos representantes de corporações de ofício que faziam parte do governo. A maioria do palácio está aberta para visitar, com várias salas com entradas diferentes.
Eu comecei a visita pela Sala dei Notari, construída em 1582, e que era onde os priori se encontravam. Ela é conhecida pelos arcos romanescos, e pelos afrescos que mostravam cenas da Bíblia e das fábulas de Esopo. Ela geralmente fica aberta para visitação gratuita, e fui visitá-la no meu primeiro dia em Perugia. Depois ainda voltei porque organizaram um concerto de música clássica gratuito lá dentro.
Depois, dando a volta no palácio, fica o Nobile Collegio della Mercanzia, onde ficava a corporação de ofício dos comerciantes, e que é conhecido pela sala de audiências decorada com painéis de madeira.

A entrada do lado é o Nobile Collegio del Cambio. Ela tem três salas: A Sala dei Legisti, conhecida pelos painéis de madeira, a Sala dell’Udienza, com afrescos renascentistas de Perugino, e a Cappella di San Giovanni Battista, pintada por Giannicola di Paolo, um estudante de Perugino. Quando eu estava lá, o guia, que estava incluído no ingresso, levou os visitantes de sala em sala explicando cada afresco. Infelizmente ele não falava línguas estrangeiras, mas, se você fala italiano, é um passeio que conta muito da história da cidade e que vale a pena.

Outra entrada do palácio é para a Galleria Nazionale dell’Umbria, com quarenta salas e mais de 3000 trabalhos de artistas locais, principalmente da renascença. O destaque são as obras de Pinturicchio e Perugino.
Uma das minhas partes preferidas dessa época em Perugia foi o Aqueduto Medieval. Ele é extremamente charmoso, e atravessa a cidade inteira. Ele foi construído entre 1254 e 1280, e hoje funciona basicamente como um viaduto, com entrada para casas. Como é elevado, ele tem vistas ótimas para a cidade, e é muito agradável. E é um daqueles lugares onde não tem como você não fantasiar quando passa por lá. Eu ficava imaginando como seria se meu endereço fosse “meio do aqueduto medieval, número dois”. Eu nunca ia calar a boca. Ia falar disso sem parar.
Depois fui visitar a Rocca Paolina, uma fortaleza construída pelo papa Paulo III. Hoje ela fica em um nível abaixo do centro histórico, mas dá para pegar escadas rolantes e andar pelos corredores da Rocca, onde eles têm uma exposição sobre a história da cidade e exposições temporárias.
Como boa cidade medieval, Perugia tem um número grande de igrejas abertas para visitação. E fechadas, como o albergue em que eu fiquei, o Little Italy, um antigo mosteiro com afrescos. Tem San Domenico, a maior da cidade, que domina o panorama quando a gente passeia no alto dos muros. Tem a Cappella San Severo, conhecida pelos afrescos feitos por Rafael. Tem a Chiesa di San Michele Arcangelo, uma das mais antigas da Itália, vindo do século V.
Mas se você quiser misturar as tradições que formaram Perugia, um lugar interessante é a Via delle Volte della Pace, uma rua medieval do século XIII construída em cima das muralhas etruscas.
Se você quiser ver algo mais moderno, no início do século XX a cidade ficou conhecida por outro motivo: como a sede da Perugina, a maior fábrica de chocolates da Itália. Os chocolates deles são populares na Itália toda, e um dos mais populares é o Bacio, com chocolate, gianduie e crocante de nozes, com uma mensagem de amor dentro. Dá para visitar a fábrica, mas o centro da cidade também é cheio de lojas da Perugina. Hoje a cidade tem dois festivais famosíssimos: o Umbria Jazz, no verão, e o festival do chocolate, em novembro.
Mas se você quer ainda mais modernidade, procure pelas ruas Cartoleria e Galeazzo Alessi, onde ficam mostras de arte moderna e galerias de arte.

Esse foi meu passeio pela história de Perugia. Espero que vocês tenham curtido. Não percam também o post com as comidas típicas para provar por lá, ou do meu day trip para Assis. Enquanto isso, mais fotos do centro histórico, porque nunca resisto.

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Boa noite!
Belíssima postagem! Deu vontade de sair voando.
Tem dicas de hospedagem e qual melhor localização pra se hospedar?
Obrigado
Helena
Oi, Helena, tudo bom?
Então, eu sou uma fã de albergues da juventude e dormitórios. Em Perugia fiquei no Little Italy e achei incrível, o albergue é em um antigo monastério, com paredes afrescadas, e ainda tem todo o conforto de cortinas e tomadas em cada cama. Se você também é fã, recomendo. Se vocẽ prefere outro tipo de acomodação, eu não sei te informar muito, só diria que o melhor é sempre no centro, de onde você pode andar para qualquer lugar. Eu procuraria algo perto do Duomo.
Espero que isso te ajude! Abraços