As ruelas pintadas em diversos tons de azul eram uma das imagens que eu tinha do Marrocos, ainda antes de sonhar em visitar o país. Elas sempre apareciam no meu instagram, nos blogs que leio, em listas sobre as ruas mais bonitas do mundo ou de cidades para visitar antes de morrer. Assim que comecei a planejar minha viagem, comprei o Lonely Planet do Marrocos e lá estavam elas, na capa. Cheguei a ficar com medo, afinal quantos lugares assim não acabam sendo sobrevalorizados, lotados demais, armadilhas para turistas? Mas não ia perder a chance de conferir por mim mesma, e, tendo ido, posso dizer que a cidade de Chefchaouen foi um dos meus lugares preferidos no Marrocos.
A imagem icônica é sempre da cidadezinha azul, e por isso eu logo quis saber porque ela tinha sido pintada assim. Ouvi várias lendas locais a respeito, então dá para escolher a mais interessante:
- Uma dizia que foi idéia da população judia durante a Segunda Guerra, que dizia que o azul fazia pensar no céu e no paraíso, e que lembraria os habitantes de levar vidas mais espirituais.
- Outros, mais prosaicos, dizem que era para espantar mosquitos, e me lembra das cidades do sul da Itália e da Andalusia, todas brancas porque os habitantes achavam que isso era um desinfetante.
- Alguns dizem que era um método contra o calor do verão marroquino.
- Outra teoria, ainda mais sem graça, diz que os habitantes locais tiveram a idéia nos anos 70 para atrair turistas.
- É possível que tenha um pouco dos três, já que parece que o bairro judeu era azul antes dos outros, que até pouco tempo atrás eram pintados de branco.
O fato é que, por qualquer motivo que seja, Chefchaouen só é toda azul há pouco tempo. Mas isso não é desculpa para esnobá-la. As ruas azuis são encantadoras, e se o Marrocos é o lugar de se perder nas medinas labirínticas, por que não fazer isso em azul?
Além de ser fotogênica, eu recomendaria Chefchaouen para qualquer viajante como uma cidade simpática. Foi o lugar do Marrocos que me pareceu mais amigável, em que conhecer locais era fácil e um prazer. Eu estava com medo do contrário, de ser um lugar que sofria de turismo demais, com tudo caríssimo e pessoas que não aguentam mais ver turista. Mas foi super tranqüilo e, inclusive, parece um bom lugar para quem quer fazer compras, mais barato e com menos assédio de vendedores do que as cidades maiores. Muita gente do meu albergue foi fazer compras lá, alguns por causa da atmosfera da cidade, muitos porque estavam morrendo de frio. Mesmo no inverno, dá para visitar a maioria do Marrocos só com um casaquinho, mas Chefchaouen fica nas montanhas e estava gelada (e eu congelei ainda mais no Saara). Aliás, a cidade é tão tranqüila que muita gente deixa a porta de casa aberta, e quase entrei em mais de uma.


Como eu também queria conhecer um pouco mais da história da cidade, procurei por alguns lugares específicos. Chefchaouen foi fundada como uma fortaleza para proteger a região das invasões dos portugueses, no século XV, e tinha uma população diversa, de bérberes, árabes, mouros, judeus. O que resta da fortaleza ainda domina o centro da cidade, e é a Kasbah, que ainda podemos visitar, e que abriga o Museu Etnográfico. Ela se destaca do resto da cidade com seus tons de marrom, e tem vistas para o centro histórico.
Como outras cidades marroquinas, Chefchaouen cresceu com os refugiados da Andalusia, quando muçulmanos e judeus foram expulsos da península ibérica no século XV. E um dos lugares famosos pela influência mista é a Plaza Uta el-Hammam, onde fica a Kasbah.
Também lá fica a Grande Mesquita, famosa pelo minarete octagonal. Infelizmente, como na maioria das mesquitas do Marrocos, ela não está aberta para turistas, e só muçulmanos podem entrar. Ela também é famosa pela influência andalusa.
Nos anos 20, a cidade foi colonizada pelos espanhóis, e ainda hoje muita gente por lá fala espanhol. Uma das construções mais famosas da época é a Mesquita Espanhola, nas montanhas ao redor da cidade. Ela atualmente está fechada para reformas, e tem previsão de reabrir logo como um centro cultural. No entanto, mesmo com ela fechada vale a pena ir lá para ver a vista para Chefchaouen. O caminho para lá é uma trilha, e leva em torno de 20 minutos em cada direção, atravessando o rio.






De noite, fui no Café Clock, da mesma rede que eu tinha visitado em Fez e onde tinha feito uma aula de culinária. O de Chefchaouen é famoso pela vista para o centro e por ter música ao vivo na maioria das noites. Quando eu estava lá, era um espetáculo de guitarra andalusa.
Eu passei 48 horas em Chefchaouen e foi um bom tempo. Para quem gosta de hikes, a cidade também é uma boa base para isso, e dá para ficar mais tempo e aproveitá-la ainda mais.
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Sensacional esse lugar. Difícil é o nome da cidade: Chefchaouen. Fico aqui imaginando a pronúncia. Hahaha…
hahaha, demorou um tempo para acostumar com os nomes! mas vale a pena!