Por que eu não curti minha visita aos Museus do Vaticano – mas ainda gostaria de ir de novo

Visitar os Museus do Vaticano não foi uma experiência legal. Diz uma amiga que todo mundo que vai a Roma no verão odeia o Vaticano. É que ele começa por um museu de percurso único, levando até a Capela Sistina. Então eu passei mais de uma hora lutando com as multidões, mal vendo os belíssimos quartos pintados por Rafael porque as pessoas me empurravam e os guardas insistiam que era para continuar andando.

Eu cheguei à Capela Sistina cansada e frustrada, e lá também estava lotado. Os guardas ficavam passando gritando “No photo”, e quase me derrubaram mais de uma vez para ir repreender alguém que tirou uma foto mesmo assim. É um lugar maravilhoso, mas não foi uma boa visita.

Eu gostaria de visitar esse museu de novo, em outra época, para poder ficar quanto tempo quisesse no caminho. As salas de Rafael, que eu vi bem mais rápido que gostaria, são uma das atrações mais interessantes do Vaticano. Elas são quatro salas com afrescos de Rafael. A primeira na ordem da visita – mas quarta a ser construída – é a Stanza di Costantino. Os afrescos contam a história do Imperador Romano responsável pela difusão do cristianismo e pela construção de Constantinopla.

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Crédito: wikicommons

A segunda é Stanza di Eliodoro, dedicada à Eucaristia.

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Crédito: wikicommons

A terceira e mais famosa é a Stanza della Segnatura, que parece ter sido feita para ser a biblioteca do papa Julio II. Em uma das paredes fica uma das pinturas mais famosas de todo o Renascimento, a Escola de Atenas. Ela fica em uma das paredes, representando a filosofia. Os dois grandes filósofos da antiguidade na visão de Rafael, Platão e Aristóteles, estão perto do ponto de fuga. O modelo de Platão parece ter sido Da Vinci. Outras figuras modernas, como Michelangelo, Bramante e o próprio Rafael, também foram usados como modelos para as grandes figuras da antigüidade.

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Crédito: wikicommons

Nas outras três paredes da sala, os afrescos representam a teologia (Párnaso), a jurisprudência (Virtude e Lei) e a poesia (Disputa do Sacramento).

Crédito: wikicommona

A última é a Stanza dell’Incendio, que faz referência ao incêndio da antiga Basílica de São Pedro, que teria sido milagrosamente apagado pelo papa Leão IV. O incêndio teria sido causado por um terremoto, que também fez desabar parte do Coliseu. O afresco que retrata o incêndio foi o primeiro da sala a ser completado, e por isso o nome, mas também há nela afrescos sobre a coroação de Carlos Magno, o Juramento de Leão II e a Batalha de Ostia.

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Crédito: wikicommons

Também no caminho fica a Galeria de Mapas Geográficos, uma das partes mais conhecidas dos museus. Ela é toda decorada com mapas e representações da península italiana.

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Mapa de Roma da época do Renascimento, créditos: wikicommons

Quanto à Capela Sistina, se eu visitar de novo, talvez pague a taxa extra para visitar alguns minutos antes da abertura oficial. Valeria a pena para ter o lugar só para mim. Assim, talvez eu conseguisse perceber porque Goethe disse que só depois de vê-la pode-se realmente perceber o que o espírito humano é capaz de realizar.
A pintura mais famosa é a Criação de Adão, de Michelangelo, parte de uma série sobre os mistérios da criação. A wikipédia tem a pintura inteira, e dá para aumentar e ver em detalhes.

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Crédito: wikicommons

Outra pintura por ele é a do Juízo Final, também uma obra de Michelangelo:

Créditos: wikicommons

As paredes têm uma série de afrescos de Botticelli, Perugino, Ghirlandaio, Piero di Cosimo e outros. Um afresco interessante é A Entrega das Chaves, do Perugino. Ela é um símbolo da entrega do poder espiritual da igreja para São Pedro.

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Crédito: wikicommons

O Vaticano também é composto de vários museus, onde eu tive uma experiência ótima. Eles não estavam lotados, e consegui ver o que queria sem ninguém me apressando.

O Museu Pio Clementino era uma das minhas prioridades. Ele tem uma coleção de obras da Grécia e de Roma antigas.

Nesse museu, fica a estátua de Laocoonte, que é imperdível. Ela é uma estátua feita na Roma Antiga – e sobre a qual Plínio, o Velho, escreveu elogiosamente – e escavada em 1506. Ela já foi chamada de o protótipo da agonia em toda a arte ocidental. Michelangelo foi chamado para vê-la no momento em que ela foi descoberta, e ficou muito impressionado com ela. A influência, segundo muitos dos seus estudiosos, pode ser vista claramente em estátuas como o Escravo Morrendo, hoje no Louvre. Essas últimas peças de Michelangelo são consideradas por alguns historiadores da arte como inaugurando um novo estilo, o Maneirismo. Rafael fez um rosto semelhante ao de Laocoonte para o seu Homero, também no Vaticano.

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Laocoonte era de Tróia. Em algumas versões da história, as serpentes que atacam Laocoonte e seus filhos foram mandadas para impedir que ele expusesse o Cavalo de Tróia pelo que era, em outras, porque ele tinha tido filhos apesar de ser um sacerdote de Apolo. Ou seja, em algumas versões ele foi punido por estar certo, em outras por estar errado.

Ele foi uma das muitas peças italianas levadas por Napoleão quando ele invadiu a península, e trazidas de volta após a sua morte.

Outra estátua que é considerada um modelo de perfeição é o Apolo del Belvedere.

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Crédito: wikicommons

Depois fui visitar a Pinacoteca do Vaticano, que dispensa apresentações… Aqui ficam obras de Da Vinci, Raffaello, Tiziano, Caravaggio e Guido Reni, entre outros.

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A Deposição de Cristo, de Caravaggio. Crédito: wikicommons

O Museu Chiaromonti foi fundado pelo papa Pio VII, que era membro dessa família siciliana. Ele foi composto de três galerias organizadas por Antonio Canova. Duas delas são mais conhecidas pelas estátuas, e a terceira, dedicada a inscrições, só pode ser visitada com autorização prévia.

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Crédito: wikicommons

O Museu Gregoriano Etrusco, como o nome indica, foi fundado pelo papa Gregorio XVI e tem uma coleção de obras etruscas. Elas foram tiradas das cidades etruscas que eram então parte dos estados papais.

O Museu Gregoriano Egípcio foi fundado pelo mesmo papa, mas se dedica à obras egípcias. Ele tem apenas nove salas, com obras do Egito vindas das coleções dos imperadores romanos em Roma e na Vila Adriana em Tivoli. As duas últimas salas têm obras da Mesopotâmia e da Assíria. As maiores atrações, como frequentemente acontece com coleções egípcias, são as múmias.

Museu Gregoriano Profano é mais eclético, e possui esculturas e relevos gregos antigos, estátuas romanas da época imperial, sarcófagos, obras que também provêm de escavações nos antigos Estados Papais.

A Coleção de Arte Moderna Religiosa inclui obras de Van Gogh, Rodin, Goya, Gauguin, Odilon Redon, Chagall, Kandinski, Munch, Dalì, Picasso, para ficar nos mais famosos. Achei surpreendente só porque é algo tão mais moderno do que a imagem que temos do Vaticano.

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Pietà de Van Gogh. Crédito: wikicommons

O Museu Missionário-Etnológico é onde estão as peças trazidas por missionários de vários países.

O Museu Filatélico-Numismático tem selos e moedas emitidos nos Estados Papais por séculos.

Sair do Vaticano é um espetáculo em si: não se esqueça de parar por um momento e apreciar a escada helicoidal.

Museus do Vaticano escadas

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