Volta ao Mundo em Filmes – Tajiquistão: Silêncio

Quando eu procurei por filme do Tajiquistão, achei uma lista na wikipedia com os 16 filmes produzidos no país desde a sua independência da União Soviética. Não é uma quantidade enorme de filmes, mas são mais do que muitos países da lista, e o meio termo me deu uma oportunidade rara: consegui ler a sinopse de todos os filmes produzidos no país nos últimos trinta anos antes de escolher um para representar o projeto. Vários me chamaram a atenção, como a comédia Angel on the Right, de Jamshed Usmonov, True Noon, de Nosir Saidov; Kosh ba Kosh, de Bakhtyar Khudojnazarov. Mas fiquei com uma co-produção com o Irã, que recebeu críticas muito entusiásticas, e que foi mais acessível online: o filme O Silêncio, de Mohsen Makhmalbaf.

O filme conta a história de Khorshid (Tahmineh Normatova), um menino cego de dez anos que mora com a mãe (Goibibi Ziadolahyeva) em uma vila no Tajiquistão. Todo dia, o proprietário da casa onde eles moram vem ameaçá-los, dizendo que eles serão despejados se não pagarem logo o aluguel. Khorshid, apesar de ser apenas uma criança, trabalha em uma loja de instrumentos musicais, e sente a responsabilidade de tentar encontrar o dinheiro para o aluguel.

Khorshid tem um talento enorme com os instrumentos, e consegue afiná-los de ouvido, mas a paixão pela música também é um enorme obstáculo para ele. Ele frequentemente se perde ou sai do caminho porque ele começa a seguir pessoas que cantam ou tocam instrumentos, e o dono da loja em que ele trabalha já perdeu a paciência com seus atrasos. A mãe e uma amiga de Khorshid, Nadareh (Nadareh Abdelahyeva), tentam ajudar, colocando algodão nos seus ouvidos para que ele não se distraia, mas sem sucesso. Um dia, quando Nadareh se perde de Khorshid no mercado, ela consegue encontrá-lo justamente fechando os olhos e tentando seguir sons, como ele faz.

O filme é famoso pela beleza. Tem, claro, a beleza dos sons, da música onipresente, de tentar ouvir o ritmo do proprietário batendo na porta ou de abelhas na colméia com o mesmo encantamento de Khorshid. Mas também é um filme visualmente muito bonito, e a cena de Nadareh se enfeitando com cerejas nas orelhas no lugar de brincos, e pétalas de flores grudadas nas unhas como esmalte, dançando ao ritmo da música, são cenas que ficam na cabeça. E a cena em que Khorshid organiza, como um maestro, um grupo de mercadores para baterem as panelas no ritmo que ele ouve na cabeça (e que é instantaneamente reconhecível para quem assiste) é maravilhosa.

O filme também ficou famoso pelos símbolos para o sufismo. No sufismo, a música e o êxtase provocado por ela são considerados formas de se comunicar com deus, como eu vi quando vi uma cerimônia com dervixes em Istambul. O filme também usa muito o símbolo de espelhos e do rio, comuns na poesia sufi. Realmente gostei muito da escolha, e é um filme muito bonito, que mostrou um pouco do Tajiquistão.

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