Volta ao Mundo em Filmes: Chipre – Smuggling Hendrix

Quando chegou a vez de ver um filme do Chipre, eu logo comecei a procurar um filme que falasse sobre como a ilha ainda é dividida, separada em um lado grego e um lado turco. E um dos filmes que tratava dessa divisão, e que também prometia ser um dos poucos filmes alegres que eu escolhi para esse projeto, foi Smuggling Hendrix, de Marios Piperides. Quer dizer, ele trata da situação desesperada de um país que não é reconhecido por nenhum outro, fala de identidade, ocupação, falta de perspectivas, mas, no contexto desse projeto, ainda tá definitivamente no lado alegre.

O filme começa com Yannis (Adam Bousdoukos), que acorda em seu apartamento e decide passear com seu cachorro, Jimi. Um minuto de desatenção enquanto ele tenta evitar alguns conhecidos na rua, e o cachorro sai correndo. Yannis corre atrás, mas logo ele percebe o que aconteceu: o cachorro cruzou a fronteira para a parte norte da Ilha, a parte turca do Chipre. 

Um guarda na fronteira ajuda Yannis a descobrir o que aconteceu, enquanto eles gritam insultos em inglês nos muros do que já foi uma casa, e agora virou a terra de ninguém. Ele volta para casa e, munido de passaporte e identidade européias, tenta atravessar. Do lado grego, eles falam que não existe fronteira, e se recusam a olhar os papéis. Do lado turco, um guarda lhe dá boas vindas e um panfleto turístico, depois de olhar a identidade. Yannis logo consegue achar o cachorro, e parece que é o fim da busca, uma loucura burocrática que ele tem que buscar o passaporte para atravessar a cidade, mas não mais que isso. Mas quando ele volta ao controle de imigração, ele percebe que não é bem assim: os guardas do lado grego dizem que ele não pode entrar no lado de cá com um cachorro do lado turco. Regras da União Européia. Ele ainda pergunta “então agora tem uma fronteira?”

Como ele não consegue convencer os guardas, Yannis resolve pedir ajuda. E isso acaba levando-o em direção a tudo que ele tentou evitar por anos. Descobrimos que ele nasceu no que hoje é a parte norte da ilha, quando ele visita a casa que era dos seus pais, e o proprietário, Hasan (Fatih Al), inicialmente agressivo, e com medo do que Yannis pode dizer sobre a casa, acaba concordando em ajudá-lo. Eles acabam se envolvendo com um contrabandista (Özgür Karadeniz), que ninguém quer imaginar o que está levando pela fronteira além do pequeno Jimi, e com a ex-namorada de Yannis, Kika (Vicky Papadopoulou), de saco cheio das confusões dele, mas disposta a tudo pelo cachorro. 

O filme tem um bom balanço de humor, causado principalmente pelos absurdos a que eles são levados pela burocracia, com uma boa dose de contar a história da ilha. A gente tem simpatia por Hasan, vivendo na casa que pertencia aos pais de Yiannis, por que, como ele diz, ele não fez nada além de nascer lá, e que culpa ele tem disso? Ele viveu a vida dele toda lá, para os turcos ele é inferior, para os gregos cipriotas ele é um ocupador, e para o resto do mundo, ele é ou um turco ou uma pessoa sem um documento de identidade.

Com tudo isso, definitivamente foi um filme que recomendo, e que me deu uma curiosidade enorme sobre o Chipre. Achei muito interessante ver as ruas da cidade de Nicósia nos dois lados diferentes, e ver as conseqüências da ocupação, tão recente, e tão presente na vida de quem mora na cidade.

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