Com o Reino Unido dividido nos quatro países, acabei com quatro escolhas para lá, e quanto mais melhor. Tenho certeza que vou continuar adicionando países e regiões diferentes por muito tempo, e que esse projeto nunca vai acabar, mas acho isso ótimo. Para a Escócia, ainda, resolvi ler um romance muito comentado, que eu ainda não tinha tido a oportunidade de ler: Outono, de Ali Smith. A Smith é às vezes chamada de “Scotland’s nobel laureate in waiting”, e eu ainda não tinha lido nada dela.
A história principal de Outono segue Elisabeth, uma professora de arte vivendo no mesmo apartamento de quando ela era estudante, em um contrato “sem horas determinadas” em uma universidade. Quando ela tinha oito anos, ela teve m vizinho muito mais velho, Daniel Gluck, que a mãe dela achava um homem estranho que colecionava “arty art”. Ele agora tem mais de cem anos, e está em um leito de hospital, onde ele vive em um estado de sonho, pensando nas décadas anteriores, e onde Elisabeth lê para ele. “‘The lifelong friends,’ he tells her. ‘Sometimes we wait a lifetime for them.’”
Gluck tinha apresentado para Elisabeth pinturas sobre as quais ela, que agora trabalha como professora de arte, sempre pensa. Principalmente, a arte de Pauline Botty, a única mulher representante do Pop Art no Reino Unido, que tinha sido “Ignored. Lost. Rediscovered years later. Then ignored. Lost. Rediscovered again years later. Then ignored. Lost. Rediscovered ad infinitum.” Além dessa história, tem muito acontecendo em Outono. O romance já foi definido como o primeiro grande romance a sair depois do Brexit, e a falar dele. E ele associa os três temas criando um contraste entre ele e o caso Profumo, um escândalo de membros do Parlamento nos anos 60 e sobre o qual Pauline Botty fez uma pintura, desde então desaparecida.
Outono é parte de uma quadrilogia continua com as outras estações, ou seja, os próximos livros são Inverno, Primavera e Verão. Cada um tem sua história, mas eles também seguem vários temas em comum (não tenho certeza se conta como spoilers, mas se você não gosta de saber nada sobre romances que não leu, pode pular o parágrafo), e vários deles falam de uma questão contemporânea (a eleição de Trump, a crise dos migrantes na Europa e o Covid), falam de uma artista desconhecida (Barbara Hepworth, Katherine Mansfield e Lorenza Mazzetti) tem um link com uma peça de Shakespeare (A Tempestade, Cymbeline, Pericles e Conto de Inverno) e um início que parodia a primeira frase de um romance de Dickens (Um Conto de Duas Cidades, Um Conto de Natal, Tempos Difíceis e David Copperfield). Todos eles também tem na contracapa a imagem de uma pintura de David Hockney que mostra o mesmo túnel nas quatro estações. Além disso, a mesma empresa que aparece em Outono como uma empresa de segurança, construindo uma enorme cerca, aparece em todos eles com funções diferentes, cuidando de arte, de imigração, de basicamente tudo no mundo moderno.
Com tudo isso, não só é um romance muito bonito, que ficou na minha cabeça, mas um jogo, um quebra-cabeças composto de quatro romances que eu ainda estou tentando montar. Ele na verdade não me contou muito sobre a Escócia, no final, embora fale tanto sobre o Reino Unido das últimas décadas, então não tenho certeza se foi o melhor livro para esse projeto – mas quando o Reino Unido é uma categoria só, ele é perfeito. Mas fiquei tão apaixonada com escrita da Ali Smith, que ainda achei que valeu completamente a pena. O quarteto inteiro entrou na minha lista de livros que quero ler logo.