Volta ao Mundo em Livros: Bósnia – The Lazarus Project

O livro escolhido para a Bósnia foi The Lazarus Project, de Aleksandar Hemon.

Em março de 1908, Lazarus Averbuch batia na porta de George Shippy, chefe de polícia de Chicago. Shippy só precisou de um olhar para Lazarus para notar que ele parecia judeu ou armeno, e decidir que ele devia ser um perigoso anarquista. Ele atirou no jovem imigrante duas vezes, e o matou.

Esse incidente real foi o começo de um período de histeria xenofóbica e violência policial contra imigrantes do Oriente Médio em Chicago. A história tem vários pormenores terríveis, e vários mistérios, e não é surpresa que tenha chamado a atenção do escritor Aleksandar Hemon.

Hemon cresceu em Sarajevo. Ele foi a Chicago para fazer uma visita de um mês quando a guerra estourou na Iugoslávia, e ele teve que ficar lá por cinco anos. Lá ele teve vários trabalhos, enquanto aprendia inglês lendo os livros de Vladimir Nabokov, com quem ele é frequentemente comparado. Ele acabou ganhando uma bolsa para gênios da fundação MacArthur, e começou a escrever ficção. Com uma das bolsas, ele e um amigo fotógrafo, Velibor Bôzovíc, viajaram para Kishinev, onde Averbuch tinha nascido e vivido até ter que se exilar por causa de um pogrom, e para a Ucrânia, onde ele viveu em um campo de refugiados. Essa viagem seria a base para escrever The Lazarus Project.

No livro, outro emigrante bósnio em Chicago, Vladimir Brik, pesquisa a história de Averbuch. Ele convida um amigo fotógrafo, Rora, para visitar a Moldávia e a Ucrânia pesquisando para um livro que ele pretende escrever. A viagem é uma oportunidade para que eles discutam tudo, o casamento em crise de Brik, a vida de emigrante nos Estados Unidos, os hotéis decadentes por onde passam, e principalmente a guerra da Bósnia, que Rora testemunhou.

Rora conta histórias da guerra, de Rambo, que dominava o mercado negro na cidade sitiada, da sua relação com fotógrafos de guerra americanos. Também conta piadas. Quem já leu um romance bósnio ou já foi lá deve ter ouvido piadas sobre Suljo e Muljo, duas figuras caricatas de muçulmanos de Sarajevo. Nas piadas de Rora, eles estão agora exilados nos Estados Unidos.

Brik comenta sobre a tradição bósnia de embelezar histórias, e como é mais importante que a história seja interessante do que verdadeira. Assim, você podia se tornar o que quisesse, contanto que tivesse talento para inventar sua história. Assim, não importa para Brik se as histórias são verdadeiras ou se são exageradas, importa o que trazem a tona. E por isso eles decidem acabar a viagem em Sarajevo.

É bem claro que Brik se identifica com Lazarus Averbuch, um exilado, e com outro Lázaro, o bíblico, que seria também ele um exilado. Só que exilado da morte ao invés da Iugoslávia. Então os capítulos sobre o narrador se alternam com capítulos sobre o que acontece depois da morte de Averbuch, principalmente com sua irmã, Olga.

O modo como Aleksandar Hemon usa a língua inglesa é incrível, por isso ele é frequentemente comparado a Joseph Conrad, que também aprendeu o inglês quando adulto, ou a Nabokov, outro exilado. Ele tem um talento impressionante para escrever histórias que são engraçadas e tristes ao mesmo tempo.

“I spotted a can in the corner whose red label read SADNESS. Was there so much of it they could can it and sell it? A bolt of pain went through my intestines before I realized that it was not SADNESS but SARDINES.”

No site oficial do livro você pode ver as fotografias tiradas por Bôzovíc e ler alguns trechos do romance.

 

 

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