O Museu dos Relacionamentos Partidos

Quando dois artistas de Zagreb, Olinka Vištica e Dražen Grubišić, terminaram seu relacionamento, eles brincaram que iam abrir um museu com os objetos que os lembravam do namoro. Alguns anos depois, eles acabaram realmente abrindo o museu, que logo se tornou uma das atrações mais visitadas da capital da Croácia.

Dedicado ao fracasso de relações amorosas, o museu começou com uma exposição itinerante que foi a vários países e recebeu doações em todos eles. Finalmente, eles se estabeleceram em Zagreb. Logo logo o museu foi premiado com o Kenneth Hudson Award, dado pelo fórum europeu de museus para o museu mais inovativo do ano.

Esses são alguns dos objetos que você vai encontrar lá, com as explicações fornecidas por quem o doou:

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Crédito: site oficial

Anão de Jardim

“Ele chegou em um carro novo. Arrogante,  superficial e sem coração. O anão estava fechando o portão que ele tinha destruído há algum tempo. Naquele momento, ele voou sobre o para brisas de seu carro novo, ricocheteou e caiu no asfalto. Foi um laço longo, desenhando um arco no tempo – e esse arco longo-curto definiu o fim do amor.”

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Crédito: site oficial

Peruca Vermelha

“Junto com roupas e CDs que eu tinha deixado no apartamento dela, minha ex-namorada me mandou essa peruca que eu nunca tinha visto antes, sem uma nota. Eu posso apenas presumir que ela foi obtida antes do nosso término, em preparação para realizar alguma fantasia.”

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Crédito: site oficial

Incenso

“Não funciona”.

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Crédito: site oficial

Machado

“Ela foi a primeira mulher que convidei para morar comigo. Meses depois de ela se mudar, ganhei uma viagem aos EUA. Ela não podia vir comigo. No aeroporto, nós nos despedimos chorando, e ela jurou que não conseguiria sobreviver três semanas sem mim. Voltei, e ela disse: ‘Eu me apaixonei por outra pessoa. Conheci essa mulher há apenas quatro dias, mas sei que ela pode me dar tudo o que você não pode’. Perguntei quais eram seus planos para nossa vida juntas. No dia seguinte, ela ainda não tinha resposta, então a expulsei. Ela imediatamente saiu de férias com a nova namorada enquanto os móveis dela continuaram comigo. Sem saber o que fazer com a minha raiva, finalmente comprei este machado para desestressar e causar nela ao menos um mínimo de sentimento de perda, que ela obviamente não havia sentido ao rompermos. Nos catorze dias das férias dela, cada dia eu destruí um dos seus móveis. Eu mantive os restos, como uma expressão da minha condição interior. Quanto mais o quarto dela se enchia com móveis destruídos, melhor eu me sentia. Duas semanas depois de partir, ela voltou para buscar os móveis. Estavam arrumadinhos em pequenos pedaços de madeira. Ela pegou aquele lixo e deixou o meu apartamento para sempre. O machado foi promovido a instrumento de terapia.”

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Crédito: site oficial

Sabonete íntimo

“Depois que nosso relacionamento terminou, minha mãe o usava para limpar o vidro. Ela diz que é ótimo para isso.”

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Crédito: site oficial

Calcinha comestível

“Ele nunca me comprou flores porque ele dizia que flores eram para pessoas entediantes. Ao invés disso eu ganhava salsichas ou peças novas para a minha bicicleta. Eu não ligava porque eu o amava. Depois de quatro anos, eu descobri que ele era tão mesquinho e roto como os seus presentes. Ele me traiu com uma colega de trabalho e me largou por email.”

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Livro Tarantula do Bob Dylan

“Um presente de um namorado americano quando eu tinha 17 anos e com a dedicatória ‘Para… que domou o lobo selvagem’. Eu não sabia que ele ia perseguir meus pais por anos e ia eventualmente ter uma mudança de sexo e roubar o nome deles para a sua identidade nova.”

A carta de amor de uma criança em tempos de guerra

3 days in May 1992 Sarajevo

“Escapando de Sarajevo sob fogo em um grande comboio, nós fomos feitos reféns por três dias. Poucos dias antes, eu tinha feito 13 anos.

Em um dos carros estava Elma, com a mãe dela e mais algumas pessoas, eu não me lembro exatamente quem. Eu só lembro que ela era loira e incrivelmente linda. Eu me apaixonei, com honestidade infantil, e confessei a ela com a mesma honestidade nessa carta. Eu tinha dado umas fitas para ela já que ela tinha esquecido de trazer a própria música antes de partir com pressa. Assim como eu não tive tempo de entregar a carta, porque depois de três dias eles nos liberaram de repente e nós perdemos o carro de Elma de vista perto de Travnik, ela nunca pode devolver meu Azra, Bijelo Dugme, EKV, Nirvana e outras fitas.

Naturalmente, eu nunca a vi novamente, e eu espero que a música tenha lembrado Elma de algo agradável e bonito em meio a toda aquela situação terrível.”

Um celular

“Durou 300 dias demais. Ele me deu o seu telefone para que eu não pudesse ligar mais para ele.”

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Algemas

“Atam-me.”

Uma garrafa de água benta no formato da Virgem Maria

No verão de 1988, eu conheci um amante transitório em Amsterdam. Ele era do Peru e estava descobrindo a Europa de trem. Nós nos conhecemos no Buddha Disco. Não muito depois, nós nos encontramos na rua, e ele foi para casa comigo e ficou por dois meses. De repente, ele foi embora. Achei uma nota de adeus e uma pequena estátua, que ele tinha trazido do Peru na esperança de encontrar um novo amor. O que ele não sabia é que um dia eu abri a mala dele e achei uma sacola plástica cheia dessas garrafas. Eu nunca mais o vi.

Um gravador

Em 1968, exatamente 50 anos atrás, meu pai faleceu deixando eu e minha mãe sozinhos. Eu mal tinha um ano.

Sempre tinha um pacote fechado dentro do nosso altar budista, e minha mãe me avisou várias vezes para não abri-lo. Para satisfazer minha curiosidade, ela disse que era uma fita, com gravações da voz do meu pai, quando ele ainda estava vivo.

O motivo pelo qual ela fechou o pacote foi por causa de um filme italiano que ela tinha visto. Tinha uma cena nele em que um menino órfão de mãe encontra uma fita com a voz dela. Ele tem tanta saudade dela que ele toca a fita sem parar, até que ele acidentalmente apaga a voz dela.

O choque que minha mãe teve durante esse filme a afetou tanto que ela decidiu embrulhar o pacote cuidadosamente e colocá-lo no fundo do altar para evitar a mesma tragédia.

Que irônico que ela tenha se resignado a nunca ouvir a voz de alguém que ela amava em uma tentativa de não a perder! Eu pensei que era tempo de nos libertar desse feitiço, e pedi para um técnico para tocar a fita, que tinha desde então virado uma antiguidade.

Ela toca as vozes doces e cheias de carinho dos meus pais, torcendo e aplaudindo, e me encorajando a cantar. Eu tinha apenas começado a aprender a cantar.

(o áudio toca na sala onde fica o gravador, e é tão Cinema Paradiso quanto dá para imaginar pela descrição.)

Cartão postal

A mãe da minha avó era uma bela jovem em 1919. A vida dela era uma grande festa, e todo mês ela conhecia outros jovens. Mas só dois eram importantes para ela: seu pai, e seu amante alemão.

Ela se apaixonou em Heidelberg. Os amantes ficaram juntos por um mês. Uma vez eles assistiram o sol nascer do alto do castelo. Ele não veio para os EUA com ela. Ele não tinha dinheiro, e os pais dela não gostavam dele. Mas cada outono ele enviava um cartão postal.

Esse foi o último cartão postal que ela recebeu dele. Ele chegou em 1939. Ele não escreveu nada nele. Nós acreditamos que ele tenha morrido na Segunda Guerra.

Vinil

Meu pai sonhava em ser um cantor de ópera. Ele treinava a voz e tinha aulas de canto desde os quinze anos. Aos dezoito anos, ele deu uma gravação dele cantando dele cantando Adelaide, do Schubert, de presente para o seu primeiro amor. Então ele teve que ir para à guerra. Ele foi severamente ferido – estilhaços entraram na sua garganta e danificaram suas cordas vocais. Ainda bem que ele conseguiu se curar quando ele era um prisioneiro de guerra dos ingleses. A voz dele, porém, foi permanentemente danificada e seus sonhos de cantar ópera acabaram. Além disso, quando ele voltou da guerra, ele descobriu que sua namorada tinha começado a ver outro homem.

Meu pai conheceu a minha mãe, apaixonou-se e se casou com ela, eles tiveram filhos e viveram felizes por muitos anos. Quando a primeira namorada do meu pai morreu, os filhos dela me deram essa gravação, que ela tinha guardado por toda a vida.

É um museu muito interessante, eu fui duas vezes, das duas vezes em que estive em Zagreb, e a maioria dos objetos tinha mudado. Das duas vezes, fiquei lá por horas, lendo as legendas de cada objeto. Alguns não me interessaram muito, mas alguns são muito impressionantes.

Você pode visitar o Museu dos Relacionamentos Partidos todo dia de 9 às 22:30 (no verão) e das 9 às 21 (no resto do ano). O preço de admissão atualmente é 40 kuna (menos de 5 euros), ou 30 para estudantes.

Todos os objetos tem legendas em croata e inglês, mas se você tiver um leitor com QR code, pode ler descrições em várias outras línguas, inclusive em português.

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3 comentários

  1. Ana Clara

    Nossa, tenho que visitar esse lugar. Parece muito louco!

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