O que visitar em Varsóvia para aprender a história da Segunda Guerra: a Insurreição de 44

No último post, falamos sobre um dos eventos pelos quais a história de Varsóvia é mais lembrada: a Insurreição do Gueto durante a Segunda Guerra. Agora o post continua com outra insurreição, a de Varsóvia, que aconteceu no ano seguinte, e com os lugares que eu visitei na cidade para aprender a sua história. Então nesse post quando eu falar só Insurreição, estou falando da Insurreição de Varsóvia de 44, e não da Insurreição do Gueto de 43.

Contexto: Varsóvia durante a Segunda Guerra

A invasão da Polônia pelo exército de Hitler é considerada o evento que dá início à Segunda Guerra. Existia um pacto de não-agressão entre a Alemanha e a União Soviética, que dividiram a Polônia entre eles. Depois que a Alemanha declarou guerra à União Soviética, em 1941, a Polônia foi inteiramente ocupada pela Alemanha nazista. O país tinha uma população de 3 milhões de judeus, 90% dos quais foram assassinados durante a ocupação, e os campos de concentração construídos na Polônia nessa época, como Auschwitz, Treblinka e Sobibór, tornaram-se alguns dos símbolos mais potentes dos horrores da Segunda Guerra. Os alemães consideravam os poloneses uma raça inferior, e por isso proibiram a educação superior no país e sistematicamente eliminaram a intelligentsia, como parte de um plano para usar a população do país como trabalho escravo. 

A Resistência começou na Polônia bem cedo durante a guerra, com o estabelecimento de um governo no exílio em Londres, e um “Estado subterrâneo”, que mantia contato com eles, na própria Polônia. Muitos dos movimentos de Resistência eventualmente se organizaram no Exército Nacional, ou AK (‘Armia Krajowa’). Durante anos, eles tentaram organizar uma insurreição, e com o recuo das tropas alemãs e avanço das tropas soviéticas em 44, eles viram uma brecha. Eles lutaram por 63 dias, contra um exército muito maior e mais bem armado. No entanto, as tropas soviéticas pararam o avanço perto de Varsóvia, dando tempo aos alemães de se reagruparem, acabarem com a insurreição e destruírem a cidade em retaliação: ao final da guerra 90% de Varsóvia tinha sido destruída. 

Museu da insurreição

O Museu foi construído em 2004, para comemorar o aniversário de 60 anos da Insurreição de Varsóvia. A Insurreição é considerada um dos eventos mais importantes da história da Polônia, mas ela não pode ser celebrada no período soviético, por causa do foco do AK em uma Polônia independente.

Logo no início, a gente vê pedras que foram recuperadas do Castelo de Varsóvia. Os nazistas destruíram grande parte da cidade, mas tomaram especial cuidado com os monumentos da cidade, e com o que fosse simbólico para os poloneses. Um desses prédios foi o antigo Castelo Real, só recentemente reconstruído na Cidade Velha.

O museu foi construído como uma exposição interativa. Ele tem um hangar com um avião da época da guerra, réplica dos esgotos, que eram a forma como muitos insurrecionistas conseguiam se mover pela cidade, réplicas de um hospital e de uma gráfica clandestina, fotos e vídeos feitos pelos insurrecionistas. Ele faz o máximo para passar para o visitante a experiência da insurreição, além de contar a sua história.

Na exposição, tem várias reproduções do estado da cidade depois da guerra, e ela acaba com a “Cidade de Ruínas”, um filme que reconstrói como era o estado da cidade no final da guerra, com 90% dos seus prédios derrubados.

Em uma parte, tem também um poucos dos questionamentos feitos hoje em dia sobre o papel da Insurreição. Muita gente hoje aponta que ele não ajudou a libertar o país, e, que seu único resultado foi causar a retaliação pesada da destruição da cidade e do massacre dos insurrecionistas. Outras cidades polonesas saíram mais preservadas da guerra. Mas, claro, isso é uma falácia do historiador, agir como se as pessoas no passado tivessem o conhecimento que a gente tem agora. Eles tinham esperanças que os nazistas estivessem desgastados demais para lutar, e que o Exército Vermelho pudesse oferecer alguma ajuda – de fato, eles esperaram do lado de fora da cidade para que os nazistas e insurrecionistas lutassem entre si, e tomaram a cidade quando não tinha obstáculos. Eles não sabiam que a guerra estava tão perto de acabar, nem que ela acabaria com a Polônia ocupada mais uma vez – dessa vez pelo próprio Exército Vermelho, que depois de liberar [sic] o país, esqueceu de ir embora por 40 anos. Eles viram uma oportunidade, e fizeram o que puderam em circunstâncias extremas.

Monumentos da Insurreição

Além do Museu, visitei dos monumentos na cidade dedicados à Insurreição. O primeiro é chamado simplesmente de Monumento da Insurreição, e foi construído em 89 por Wincenty Kućma e Jacek Budyn. Ele representa insurrecionistas lutando, e por isso tem um detalhe no qual vale muito a pena prestar atenção: os uniformes dos soldados não combinam. A maioria deles teve que improvisar proteção como pode, com alguns usando capacetes velhos da primeira guerra, ou capacetes alemães que eles tinham encontrado.

Em alguns pontos, as estátuas parecem estar entrando no chão, e isso é feito como referência a como os insurrecionistas se moviam pela cidade usando a rede de esgotos.

O segundo monumento fica nas muralhas da Cidade Velha, e é conhecido como Mały Powstaniec, ou o Pequeno Insurrecionista. Ele é dedicado às crianças-soldado que participaram da defesa de Varsóvia. Ele é baseado em um desenho do escultor Jerzy Jarnuszkiewicz, que foi vendido em pequenas estátuas pela cidade desde os anos 60, e recentemente foi feito em uma estátua.

Clique na imagem para ler mais sobre posts sobre a Polônia.

Ou para ler mais posts sobre a Segunda Guerra.

1 comentário

Deixe uma resposta