Volta ao Mundo em Livros – Curdistão: I Stared at the Night of the City

Eu sempre aumento o projeto e acho que, graças a isso, nunca vou terminá-lo. Mas poxa, não ia resistir às palavras “primeiro livro curdo publicado em inglês”. E aliás, o Curdistão já foi representado aqui por um filme: Memories on Stone. Então é só justo que ele seja representado por um livro também: I Stared at the Night of the City, de Bakhtiyar Ali (o nome dele também aparece em inglês como Bachtyar Ali). Ele foi traduzido por Kareem Abdulrahman em 2016.

O romance é narrado por três personagens, Majid-i Gul Solav, conhecido como Magalhães Imaginário, Bahman Nasser, conhecido como Ghazalnus, e Trifa Yabahri. Eles contam as suas próprias histórias, cheias de realismo mágico e que contam muito sobre o país. O Magalhães Imaginário, por exemplo, ganhou esse apelido por ter viajado muito por lugares imaginários. Ghazalnus ganhou o seu apelido porque ele coleciona ghazals, poemas líricos. Já Trifa é filha de Samira, uma mulher que engravidou sozinha, de seres imaginários, por inveja do irmão, que não permitia que ela se casasse, e da cunhada grávida. Ela é criada como irmã do primo, já que a família não conseguia explicar a gravidez de Samira, mas ele desde a infância acha que ela “não é real”, e por isso ela acaba fugindo e arranjando refúgio e trabalho em uma fábrica de tapetes. Mas eles também tem um projeto em comum por trás da idéia de escrever um livro: o de contar as vidas dos que morreram na Insurreição de 1991.

Ao mesmo tempo, o romance tem um tema político muito sério: ele mostra um país dominado por uma série de “barões”, desde o “barão dos frangos”, ao “barão das abobrinhas” e até o “barão da imaginação”. Eles controlam tudo na vida do país, oferecendo proteção e ameaçando violência (aqui no Brasil, a gente chama de miliciano mesmo). É idéia do Magalhães Imaginário procurar pelos barões, quando ele percebe que eles estão conectados com muitas das mortes que o trio investiga. E eles entram em conflito direto com o Barão da Imaginação, que quer usar seres imaginários para construir um bairro novo na cidade, enquanto Galzhanus não acha que eles devem ser explorados por lucro.

Pode parecer muita coisa, e é. Entre o tanto de fantasia e tudo que acontece, eu me senti perdida várias vezes. Parte disso é claramente cultural, e eu senti claramente que me falta conhecimento sobre a região e suas lendas. Mas ainda ele é incrivelmente rico, e me fez pensar muito sobre a cultura do Curdistão, um país que por natureza – dividido como é entre quatro países, Turquia, Irã, Iraque e Síria – é incrivelmente diverso. Adorei o representante do Curdistão, e, como o filme também foi ótimo, fiquei satisfeita de tê-lo incluído na lista dos países.

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