Volta ao Mundo em Livros – Zâmbia: The Old Drift

A Zâmbia tinha vários livros promissores, mas tinha uma saga multi generacional contando a história do país que logo me chamou a atenção. The Old Drift, de Namwali Serpell, foi lançado em 2019 e tinha críticas excelentes, e foi logo escolhido como o meu livro para representar o país.

“This is the story of a nation — not a kingdom or people — so it begins, of course, with a white man.”

O romance começa com Percy M. Clark, um homem de Cambridge e um dos muitos colonizadores explorando a região no rastro de David Livingstone (que morreu na Zâmbia, enquanto procurava as origens do Nilo no lugar errado. Elas estão bem mais ao norte, na atual Ruanda, e aliás aparecem no nosso romance de lá, o Nossa Senhora do Nilo). Percy manda uma carta para casa em que descreve alguns encontros com locais, inclusive uma família de italianos que comanda uma pousada, e um menino africano agredido por eles.

Depois deles, o romance segue três mulheres, “as avós”, Sibila, na Itália, Agnes, na Inglaterra e Matha, na Zâmbia, e continua com a geração de suas filhas, “as mães” Sylvia, Isabella e Thandi, e finalmente termina com “os filhos”, a geração de Naila, Jacob e Joseph, descendentes dessa história toda e das três famílias que, mais uma vez, vêem suas vidas se entrelaçarem na Zâmbia.

Por essas três famílias, a autora conta a história da Zâmbia: colonialismo, independência, a epidemia da AIDS, o programa de conquista ao espaço e os afronautas lançados pelo governo nos anos 60, a construção da hidrelétrica de Kariba. E a autora continua para o futuro, em uma época de vigilância em massa, guerra com drones, no que já foi chamado de ficção científica e ficção especulatativa. Foi um final inesperado para mim, mas que funcionou muito bem, e que se liga com a desconfiança que a autora tem com a história tradicional do seu país, reconhecendo como ela foi moldada por homens brancos, e colocou todas as demais pessoas na categoria de “outro”.

“During his time at university, Ronald had learned that ‘history’ was the word the English used for the record of every time a white man encountered something he had never seen and promptly claimed it as his own, often renaming it for good measure. History, in short, was the annals of the bully on the playground.”

“She had never imagined that to be a woman was always, somehow, to be a banishable witch.”

Achei que o romance realmente mereceu todo o hype, e foi uma excelente leitura para a Zâmbia.

Deixe uma resposta