Volta ao Mundo em Livros – Grécia: The Scapegoat

Eu não consigo resistir a um livro que promete um mergulho na história recente de um país, e foi assim que resolve escolher The Scapegoat, de Sophia Nikolaidou, para representar a Grécia nesse projeto.

The Scapegoat se passa em momentos diferentes da história grega. A ação no presente se passa na Grécia do presente, e foca em Minas, um adolescente inteligente, mas que está entediado na escola e não quer prestar vestibular, para o horror de sua família de classe média. Eles todos acham que a educação é a melhor arma para ter um futuro melhor, e como jornalistas e professores, eles não entendem o que vai ser de Minas sem educação universitária. Mas ele está cético de que a educação realmente melhora a vida, tendo crescido na Grécia da crise econômica e da austeridade, e está entediado com as aulas decoreba que preparam para os exames pan-helênicos. Um professor, Souk, resolve desafiá-lo, e lhe dá um projeto de pesquisa, que ele tem que apresentar na frente da escola toda, para resolver um mistério da história recente do país.

A história que ele tem que pesquisar é a do assassinato de um jornalista dos EUA, durante a guerra civil grega, um dos muitos casos de “Guerra por proxy” da Guerra Fria. A história é baseada em um caso real, o assassinato de George Polk, um jornalista que tinha acabado de divulgar um furo: como políticos gregos desviaram milhões de dólares mandados pelo governo Truman a título de ajuda econômica. Polk era extremamente crítico do apoio dos EUA a um governo de extrema-direita, baseado na idéia de “perseguir a ameaça comunista”. Dois jornalistas gregos com simpatias comunistas foram acusados pelo assassinato, sendo que um deles tinha sido morto antes de Polk, e o outro passou a vida clamando que a confissão que a polícia tinha extraído dele tinha sido feita sob tortura. 

No romance, o jornalista dos EUA aparece como Jack Talas, e o bode expiatório do título é Manolis Gris, cuja história nos dá a oportunidade de conhecer ainda um pouco da história da Grécia no início do século XX. Quem já estudou a Grécia antiga sabe que esse nome na verdade não coincide com o território da Grécia atual, e na verdade abarca grande parte da atual Turquia e territórios no mediterrâneo todo. E na verdade, tinha populações que falavam grego vivendo na Turquia até o início do século XX, quando eles foram submetidos a massacres, deportações forçadas, e caminhadas da morte até o deserto sírio, no que ficou conhecido como genocídio grego. Só para situar, ele é da mesma época do genocídio armênio e do genocídio assírio que trouxe tantos sírios-libaneses ao Brasil. Os gregos que não foram assassinados e que não fugiram foram alvo de outra deportação forçada, as trocas populacionais em que 1,2 milhão de gregos foram expulsos da Turquia, e mais 300 mil muçulmanos foram expulsos da Grécia, o que hoje é descrito por historiadores como uma forma de limpeza étnica. A família de Gris vem da então dessa região quando ele é uma criança, e e eles são frequentemente descritos no livro como refugiados do Pontus, que chegaram na Grécia com quase nada. E isso é fundamental quando a polícia procura um bode expiatório: eles pensam na viúva de Gris, jovem e bonita, o que eles acham suspeito, mas ela tem o apoio da sogra poderosa. E com o governo dos EUA pressionando para que o caso seja fechado, eles arrebentam a corda para o lado do mais fraco, e o refugiado grego é quem vai para a cadeia.

Eu acabei passando bem mais tempo dando contexto da história do que falando da história em si. E isso porque acho que e a história tem um lado muito interessante, como a percepção de Minas de que não existe um só culpado, teve muita gente que foi pragmática, vendo que Gris era inocente, mas o governo o condenaria de qualquer forma, ou que achou que a vida de um homem não era nada em comparação com o que a ajuda econômica dos EUA poderia fazer. Mas a história dele mesmo se perdeu, na minha opinião, ao longo do livro. De qualquer jeito, por relacionar esses eventos diferentes e servir como um panorama do século, The Scapegoat foi uma boa leitura, e representou bem a Grécia.

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