Volta ao Mundo em Livros – Tailândia: Sightseeing

Procurando um livro para a Tailândia, as recomendações que mais me chamaram a atenção foram as de um clássico, Four Reigns, de Kukrit Pramoj, e de dois livros contemporâneos, Bright, de Duanwad Pimwana, e Sightseeing, de Rattawut Lapcharoensap. Acabei ficando com Sightseeing, embora seja um livro de contos e eu geralmente prefira romances, porque achei a premissa de vários desses contos muito interessantes.

Os contos do livro são todos narrados em primeira pessoa, a maioria deles por jovens tailandeses. No primeiro conto do livro, “Farangs”, o narrador é o filho da dona de uma pousada, com um histórico de se apaixonar pelas mulheres estrangeiras (foreigners, ou na pronúncia tailandesa, farangs) que chegam por lá. Ele tem uma relação ambígua com os estrangeiros, admirando tudo que vem de fora, apesar das restrições da mãe, que se recusa a falar inglês depois de ser abandonada por um oficial estadunidense. O conto mostra bem o desequilíbrio de poder, mas de uma forma leve e engraçada – afinal, ele conta com um porco de estimação chamado Clint Eastwood e mangas usadas como projétil anti-gringo. Em outro conto, “Draft Day”, o narrador é um menino rico que vai ao processo de “loteria” em que se decide quem deve servir ao exército por dois anos, já sabendo que o pai dele pagou um suborno para que ele não fosse escolhido, mas temendo pela sorte de um amigo que não tem os mesmos contatos. E em “Priscilla the Cambodian” o narrador se envolve com uma refugiada com Camboja, uma jovem morando na periferia da sua cidade, carregando todo o dinheiro que restou para sua família em uma prótese de ouro nos dentes.

Os contos em geral são muito bons, mas dois deles se destacaram e foram meus preferidos:  “Sightseeing” e “Cockfighter”. Em “Sightseeing”, o narrador é outro jovem tailandês, em viagem com a mãe. A mãe dele está ficando cega, e antes disso resolve fazer uma viagem pelo país, aproveitar ele pela primeira vez como se ela fosse uma turista estrangeira.

Ma said she wanted to see what all the fuss was about. The fine sand. The turquoise water. The millions of fishes swimming in the shallow. Her boss had called it paradise, and though I remember Ma telling me as a child that Thailand was only a paradise for fools and farangs, for criminals and foreigners, she’s willing to give it a chance now. If paradise is really out there, so close to home, she might as well go and see for herself.

Em “Cockfighter”, a narradora é uma menina de idade escolar, cuja família está sendo arruinada pela obsessão do pai com brigas de galos e com um gangster local. O pai dela sempre teve reputação na cidade pelos galos, e sempre se orgulhou muito disso. Mas um pequeno criminoso da cidade resolve entrar no jogo, e compete com violência e com dinheiro que tornam o jogo injusto. É óbvio que o pai dela devia desistir do jogo, mas depois de tantas humilhações nas mãos da gangue, a gente não sabe se ele vai conseguir parar. Enquanto isso, a protagonista lida com o assédio do mesmo criminoso. É um conto longo, mais uma novela, e fecha o livro de forma maravilhosa.

Curti muito o livro, achei que foi uma visão irônica da Tailândia que a gente sempre vê nas propagandas – o paraíso dos estrangeiros, que vão lá atrás de “pussy and elephants”. Foi uma ótima escolha para representar o país no projeto.

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