Volta ao Mundo em Livros – Kuwait: The Bamboo Stalk

Quando comecei a procurar um livro que representasse o Kuwait para o projeto, encontrei bem rápido The Bamboo Stalk, de Saud Alsanousi. Ele é um dos poucos romances do país fáceis de encontrar em tradução para o inglês, mas por sorte ele vinha muito bem recomendado, tendo ganhado o Prêmio Internacional de Literatura Árabe em 2013. Como ele vinha prometendo uma reflexão sobre identidade, ele parecia perfeito para o projeto.

The Bamboo Stalk é narrado pelo personagem principal, que começa apresentando seus vários nomes: nas Filipinas a família o chama de José, e outros o conhecem como “o kuwaiti”, e no Kuwait ele é conhecido como Isa, ou “o filipino”. E desde o início nós já vemos a história dessa dupla identidade: a mãe de Isa, Josephine, era uma filipina pobre que foi trabalhar como doméstica para uma família rica do Kuwait. Um dia, Rashid, o filho da família a pediu em casamento, o que, Isa meio que desconfia, foi soltanto para que ela aceitasse passar a noite com ele. Mas quando ela ficou grávida, ele assumiu a criança, o que fez com que a mãe rompesse relações com ele. A mãe de Isa resolveu voltar para as Filipinas com o filho, acreditando nas promessas que ele mandaria dinheiro e mandaria buscar o filho para viver no Kuwait quando ele fosse mais velho, mas, depois da Guerra do Golfo, ele para de mandar notícias.

Isa cresce então nas Filipinas, ouvindo sempre as histórias que a mãe conta do Kuwait como um paraíso na terra. Nas Filipinas eles são muito pobres, e o menino idealiza o Kuwait como um país rico, onde ele terá acesso a tudo. Só que quando ele volta para lá, ele logo percebe que não é bem assim. Ele pode ter o passaporte kuwaiti, mas ele também parece um filipino, e ele percebe que a imagem desse país é exatamente a de ser o país pobre que manda trabalhadores pouco qualificados para o Kuwait, e que ele vai sofrer discriminação em cada lugar, até as pessoas verem os seus documentos. Uma das pessoas que ele conhece no Kuwait é Ghassan, um amigo do pai que é um Bidoon, ou seja, uma pessoa sem nacionalidade. Ele nasceu no Kuwait, os pais nasceram no Kuwait, ele serviu o exército no Kuwait, mas eles vêm de uma população do Norte que depois dos anos 90, eles resolveram não reconhecer mais como parte do país, e que agora por isso não tem acesso a serviços básicos como saúde e educação.

Para a família dele, ele também tem uma presença ambígua: como o único menino da família, ele é o único que pode transmitir o nome da orgulhosa família kuwaiti, mas a avó dele parece completamente paralisada pela vergonha que ela sentiria se os vizinhos descobrissem que o filho da família se casou com a doméstica estrangeira. Isa descobre no Kuwait uma meia-irmã, que o apóia, e três tias, que tem atitudes diferentes: uma delas quer aceitá-lo na casa como parte da família, e diz que é obrigação deles como muçulmanos cuidar do filho do irmão, uma não quer nem ouvir falar, preocupada que isso vai prejudicar o status dos próprios filhos, e a terceira o ajuda por convicção política, mas não consegue se aproximar muito dele.

“I was more like a bamboo plant, which doesn’t belong anywhere in particular. You can cut off a piece of the stalk and plant it without roots in any piece of ground. Before long the stalk sprouts new roots and starts to grow again in the new ground, with no past, no memory.”

Isa é um narrador em busca de uma identidade, curioso sobre nacionalidades, religiões, nomes, sem saber onde ele se encaixa. Por isso mesmo, ele foi elogiado quando o romance saiu no Kuwait, por mostrar aos locais o país pelos olhos de um estrangeiro, e dar uma perspectiva diferente a fatos que são naturais para eles. Mas ele também acaba sendo o narrador perfeito para pessoas como eu, que sabiam muito pouco sobre o país.

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