Volta ao Mundo em Livros – Camarões – How Beautiful We Were

Quando eu procurei um livro para Camarões, as indicações vinham geralmente divididas por língua, entre a literatura francófona e anglófona do país, com escritores como Ferdinand Oyono, Leonora Miano, Mongo Beti e Imbolo Mbue. Imbolo Mbue me chamou muito a atenção, e seu primeiro livro, Behold The Dreamers, tinha ganhado muitos prêmios. Mas quando vi que ela tinha um livro novo prestes a sair, e que ele se passava na África, e não entre uma comunidade de imigrantes, como o primeiro, achei que valia a pena esperar. 

A história de How Beautiful We Were se passa em uma pequena vila em um país africano que não é nomeado. Quando a história começa, nos anos 80, a vila está sob ameaça por causa da destruição causada por uma companhia de petróleo dos EUA, a Pexton. Os gasodutos que passaram pela cidade destruíram a terra e a tornaram praticamente infértil, contaminaram a água, e agora, estão deixando as crianças doentes. Uma depois da outra, elas se vêem acometidas de tosse, convulsões, e muitas estão morrendo, mas quando os adultos da cidade tentam tomar providências, eles não encontram ninguém disposto a ouvi-los. 

Uma vez a cada dois meses, a empresa manda alguns funcionários para fazerem as mesmas promessas vazias, o governo nem mesmo os recebe se eles não levarem presentes, e depois não tomam providências, protestar mais que isso pode trazer soldados à vila, e, em uma ditadura, eles sabem que a corda vai arrebentar para o lado do mais fraco. O romance começa com um momento de desespero, quando um dos homens da vila, tido pelos outros como uma espécie de louco sagrado, rouba as chaves do carro dos funcionários da empresa. Um dos funcionários os ameaça, outro pede desesperado que eles os deixem partir, e é o motorista deles que fala de forma mais franca: seqüestrar alguns funcionários não vai mudar nada. Ele conta que ele dirige esses funcionários para dezenas de vilas com reclamações parecidas, e que o governo não liga. 

A história vai e volta nas próximas décadas, mostrando o destino na vila por meio de uma menina, Thula, e da sua família. Os outros personagens que recebem voz no romance são chamados de “As crianças”, frequentemente descritos como coetâneos da Thula, que funcionam quase como a voz de toda uma geração na vila. Eles são uma geração que cresceu vendo os colegas de escola morrerem por causa da água contaminada, e por isso às vezes lutar contra a companhia parece sem sentido, parece que ela sempre esteve lá e sempre estará. Por isso a batalha também parece cíclica: há pequenas vitórias, aliados conquistados, e momentos em que parece que tudo pode ser resolvido em paz, há momentos de desespero em que parece que só a violência pode trazer um resultado, e há momentos em que a repressão é tão grande, os custos da batalha tão enormes, que continuar parece impossível. Por mais que eles tentem todos os métodos ao alcance, só conseguem conversar com funcionários de médio escalão da empresa, que são mostrados sem muito julgamento. Eles não tem o menor poder de mudar algo, e alguns decidiram que a única coisa que eles podem fazer é conseguir alguma vantagem para os próprios filhos. O que parece certo é que nem o ditador do país e nem os ricos acionistas da empresa realmente terão que pagar pelo que fizeram, e conseguem adiar qualquer batalha jogando a responsabilidade um no colo do outro. Com isso, fica claro que Thula tem razão: o problema é o sistema.

Eu gostei muito de como a história é universal, e a autora ressalta isso ao dar aos personagens nomes de cidades e regiões africanas: Cotonou, Sahel, Juba, Cocody, Lusaka, Bamako… Já a companhia, Pexton, é claramente nomeada como a Exxon, mas poderia representar qualquer empresa de petróleo. Isso é algo que também tenho visto muito no projeto, os livros que conseguem ao mesmo tempo mostrar uma cor local, principalmente em como How Beautiful We Were mostra a vida na aldeia, e um problema universal. Por isso achei que foi uma boa escolha, e fiquei feliz de ter conhecido a Imbolo Mbue,

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