Volta ao Mundo em Filmes: Costa do Marfim – Noite de Reis

Quando eu comecei a procurar um filme para representar a Costa do Marfim, o diretor Philipe Lacôte logo apareceu em destaque, como um queridinho de festivais internacionais. O filme que resolvi ver, Noite de Reis, é um dos seus, apareceu na lista curta para os Oscars e no Festival de Veneza.

O filme se passa dentro da Maca, uma prisão na Costa do Marfim. Lá, os prisioneiros tomaram controle e são governados por um “rei”. De acordo com o costume, quando o rei se torna doente demais para impor respeito, ele deve cometer suicídio. O rei atual é o Barbanegra (Steve Tientcheu), que está muito doente e sendo pressionado pelo seu segundo no comando a se matar. Mas ele resiste, e, na tentativa de acalmar os ânimos dos outros prisioneiros, resolve nomear um griot, um contador de histórias. Ele escolhe um recém-chegado (Bakary Koné), um homem tímido que não consegue entender porque ele foi colocado nesse papel.

A partir daí, o filme intercala as cenas da prisão com as histórias contadas por esse personagem, que os prisioneiros escutam com atenção, gritando e vaiando quando eles não curtem, e encenando partes do que eles ouvem. O recém-chegado, cujo nome não descobrimos, resolve contar a história de Zama, chefe de uma gangue local que ele parece ter realmente conhecido, mas não sabemos a que ponto a história é verdade. Também não parece que os prisioneiros se importem: eles querem uma boa história, e não se preocupam se ela aconteceu ou não.

Como o filme em uma história dentro da história, e o mecanismo de que o contador não pode acabar a história cedo demais, sob pena de perder a vida, é claro que ele foi muito comparado às mil e uma noites. E faz sentido, não só pela trama em si, mas pela tradição local de contar histórias. Mas também é uma história profundamente local, começando pela prisão, que realmente existe, e foi onde a mãe do diretor foi encarcarada por participar de protestos quando ele era uma criança. Além disso, a história de Zama se entrelaça com a história do país, principalmente da crise que se seguiu a reeleição de Laurent Gbagbo, em 2010, que, segundo a oposição, foi forjada para que ele continuasse a se perpeturar na prisão, e acabou com a sua prisão.

Realmente gostei do filme, acho que mais que mereceu a atenção que recebeu no circuito internacional, e fiquei feliz de ter conhecido um pouco sobre a Costa do Marfim.

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