Volta ao Mundo em Filmes: Vaticano – Amém

Quando eu saí no sorteio com um filme do Vaticano, eu sabia que não ia dar para usar os critérios comuns para procurar um. Eu geralmente procuro por um filme filmado no país, com diretor ou maioria dos atores locais, na língua local, e logo vi que não ia achar um filme de ficção assim. Então tive que ser mais flexível, e me contentar com um filme feito no Vaticano, que contasse uma história sobre a Cidade-Estado. Entre as escolhas tinha porém muitos tipos de filmes, como o drama Amém, de Costa-Gavras, e a comédia Habemus Papam, de Nanni Moretti.

Eu escolhi ver Amém, de Costa-Gavras, um filme que trata sobre um dos pontos mais controversos da história do Vaticano: o silêncio do papado de Pio XII sobre o Holocausto. Tudo isso é baseado em fontes históricas, que mostram como o papa apoiou o governo fascista de Mussolini na Itália em troca de o Vaticano ser reconhecido como país, como Pio XII achava que a Alemanha de Hitler poderia servir para conter a União Soviética, que ele via como um mal maior por ser um estado ateu, e como ele era anti-semita.

No filme, a história é contada principalmente por dois personagens, Kurt Gerstein (Ulrich Tukur), um oficial da Gestapo real, que testemunhou em Nuremberg sobre como ele tentou alertar o Vaticano sobre o que estava acontecendo com judeus na Alemanha de Hitler, e Riccardo Fontana (Mathieu Kassovitz), um padre jesuíta criado para o filme, que tenta fazer com que o papa se manifeste sobre o Holocausto.

O filme alterna cenas da Operação Barbarossa, a trágica invasão do Leste Europeu pelas tropas nazistas, e cenas no Vaticano, em que o luxo dos cardeais vivendo em palácios parece ainda mais ofensivo. 

O filme foi, claro, muito controverso no Vaticano, principalmente o poster, que mostra uma cruz católica e uma suástica se fundindo. Ele foi baseado em um romance de Rolf Hochhuth que já tinha sofrido muita controvérsia, e por isso a equipe não conseguiu permissão para filmar no Vaticano. As cenas que supostamente se passam lá foram filmadas no parlamento húngaro. Nesse projeto, não são poucos os livros e filmes que foram além e chegaram a ser proibidos em seus países de origem, e isso porque eles contam histórias que precisamos ouvir, mas que ainda são consideradas vergonhosas pelas pessoas no poder. Por isso gostei muito de ter visto, e achei que foi uma boa escolha para o Vaticano.

2 comentários

  1. João Marcos Silva

    O documentário “O menor exército do mundo”, de Gianfranco Pannone, foi produzido pelo Vaticano e fala sobre o Guarda Suíça, os soldados que protegem o pequeno país. Estou doido para assistir a esse documentário, mas ainda não o encontei. Resolvi, recentemente, me aventurar na busca de filmes de todos os países e, hoje, topei com o seu site que vai me ajudar com alguns títulos. Pela sua lista, vi que você não assistiu ainda a nenhum da Coreia do Norte. O filme “Comrade Kim Goes Flying”, filmado na Coreia do Norte com atores norte-coreanos em uma co-produção entre Coreia do Norte, Bélgica e Reino Unido, está disponível no Vimeo (compra ou aluguel):

    1. Julia Boechat

      Oi, João, tudo bom? Realmente ainda tá faltando do Vaticano, essas micro-nações são as mais difíceis para mim. Mas eu vi um da Coréia do Norte que curti bastante, o Sob o Sol, do russo Vitaly Mansky, você conhece? Ele conseguiu permissão para filmar lá com o roteiro aprovado antes, mas ele deixa a câmera ligada mais tempo, e consegue pegar também muito dos “bastidores”. Achei bem revelador.

Deixe uma resposta