Volta ao Mundo em Livros – Turcomenistão – The Tale of Aypi

Até hoje, parece que só tem um autor do Turcomenistão que foi publicado em inglês, o Ak Welsapar. Eu fui olhar as duas listas literárias que sempre confiro por recomendações, a da Ann Morgan e a da Camila Navarro, e vi que ambas leram um livro do Turcomenistão quando ainda não tinha nenhum publicado, porque o autor lhes enviou o ebook. Hoje ficou um pouco mais fácil, porque The Tale of Aypi já foi publicado, e eu consegui comprá-lo. É algo que tenho visto muito, que eu tô me beneficiando das pessoas que tentaram esse projeto antes, quando realmente não se encontrava quase nada de alguns países, e fico feliz que agora esses livros estão mais acessíveis.

O romance se passa em um vilarejo de pescadores no Mar Cáspio, que está prestes a ser destruído para a construção de um hospital para doentes respiratórios. A maioria dos habitantes não gosta da idéia de perder o seu lar ancestral, mas eles se conformaram com isso, sem ver nenhuma alternativa. Um deles porém, Araz Ateyev, ainda se recusa a partir, e continua pescando depois que isso foi proibido. Ele vê como as autoridades tornam a vida no vilarejo a cada dia mais difícil, cortando o abastecimento de água e comida, para depois falar que os habitantes do vilarejo se voluntariaram para se mudar de lá. Mas ele está determinado a continuar.

E a história dele se liga com um dos mitos fundadores do vilarejo, o conto de Aypi. Segundo eles, Aypi era uma mulher que morou lá séculos antes, e que ensinou a estrangeiros o caminho para a vila em troca de um colar de rubis. Enraivecidos com isso, os seus contemporâneos, começando com o seu marido, jogaram-na no mar, onde ela morreu afogada por causa do peso dos rubis. 300 anos depois, Aypi volta para a vila para acertar contas, descontente com ter passado para a história como a Pandora local, a origem de todos os males. Em todo lugar em que ela passa, ela comenta os padrões diferentes a que mulheres são submetidas, e como a sociedade ainda é machista.

Acima de tudo, o livro mostra um conflito entre gerações. Quando a gente continua a leitura, vemos que tem mais em jogo do que a ordem de abandonar a vila, e que muitos pescadores não estão só obedecendo cegamente ao governo, e que eles acham que essa mudança também é necessária porque seus próprios filhos agora vivem em cidades e esqueceram o dialeto do vilarejo. E a história de Aypi é fundamental aqui para a gente não romantizar a vilazinha de pescadores, e perceber que ela também tinha os seus problemas, inclusive como ela ficou presa no passado em formas que afetam quem ainda mora lá.

Gostei muito da história, que se revelou muito mais complexa do que o “indivíduo x sistema” que eu tinha imaginado pela sinopse. Foi uma ótima leitura, e fiquei feliz em ver que mais romances do Ak Welsapar estão saindo em outras línguas.

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