Volta ao Mundo em Livros: Fiji – Kisses in the Nederends

Desde que eu comecei a procurar livros para a Volta ao Mundo, eu sabia que queria ler um livro de Epeli Hau’ofa. Ele me chamou a atenção pelo modo como fala das ilhas da Oceania, o lugar mais difícil para encontrar livros nesse projeto, e entrou para lista antes mesmo que eu decidisse que país ele deveria representar. É que ele nasceu em Papua Nova Guiné, onde seus pais eram missionários vindos de Tonga, morou e estudou em Papua Nova Guiné, Tonga, Fiji, Austrália e Canadá. Ele geralmente é descrito como um escritor fijiano e tonganês. Acabei indo com a maioria das outras páginas de projetos parecidos, e coloquei ele como representante de Fiji. Apesar disso, quando chegou a vez do país, a escolha ainda não tava feita porque achar um livro dele não foi fácil. Mas no final fiquei com Kisses in the Nederends, um romance com um tema bem pouco comum.

O romance é uma sátira baseada nos “tall tales”, cheios de absurdo e exagero, que são típicos das ilhas da Oceania, segundo o autor. E foi inspirado na própria vida dele, quando ele sentiu por meses dores no ânus, e que ele começou a pensar em uma história baseada nesse tabu. E então ele criou a história de Oilei Bomboki, que procura por uma solução para as dores excruciantes que sente.

Oileil realmente sofre, e a família sofre junto quando ele fica obcecado com o assunto e não para de falar nisso, quando ele grita palavrões, e quando ele encontra  charlatões e tenta os métodos mais absurdos para se sentir melhor. Mas o romance não é só sobre o ânus, ele é uma metáfora para a sociedade, como o autor explica em uma entrevista para Subramani: “Yes it is a metaphor for society and for everything else I could think of. I realised that it was a metaphor quite soon after I had started thinking about the outline of the book. So I placed it at the centre of the universe.” Também fica bem claro como o ânus é uma metáfora para o colonialismo, especialmente perto do final do romance, quando as soluções buscadas pelo personagem para seu problema se tornam mais e mais absurdas. E com isso, o romance também é hilário.

“We must be able to celebrate the anus as we celebrate the mind and the heart, and from there to proclaim that in the realm of the One Infinite we do not call people arseholes, buggers, cunts, dildos, fuckwits, poofters, shits, turds, or wankers. We must greet, love, and dance with each other in the middle of our zones of taboo, for we have not created any real taboos, only the fears and phobias that we, in our limitless capacity for self-delusion, have swept to the boundaries of our cherished conventions, where they remain to haunt us into insanity and violence. “For you, Oilei, learn to love your anus and those of your neighbours and never again call them arseholes. Kiss your anus and theirs, and you are on the road towards contributing to the healing of our collective self.”

O romance realmente me divertiu, e além disso, foi bom ter mais um representante das Ilhas do Pacífico, já que é sempre tão difícil encontrar livros sobre elas.

Deixe uma resposta