Volta ao Mundo em Livros: Moldávia – The good life elsewhere

A Moldávia foi um dos países para os quais é bem fácil escolher um livro, por um motivo um pouco triste: só achei um romance do país que foi traduzido para várias línguas. No entanto, ele parecia promissor, e por isso resolvi ler The good life elsewhere, de Vladimir Lorchenkov.

O título já conta muito sobre o romance: ele fala sobre pessoas que, sentindo-se aprisionadas no país que tem a renda per capita mais baixa da Europa e o mais alto nível de alcoolismo do mundo, sonham com a vida boa em outro lugar. E na verdade para muitos deles nem é imaginar uma vida de sonho, mas pensar que você acha um emprego braçal e ganha mil euros por mês, e isso parece incrível em um lugar onde eles não acham emprego nenhum e sobrevivem como podem.

A maior parte do romance se passa em uma pequena vila, onde um dos habitantes, Serafim Botezatu, sonha sem parar com a Itália. Ele passa os dias obcecado com a idéia do país como uma terra prometida, tentando aprender italiano de um manual aos pedaços que ele encontrou na livraria da cidade. Ele já tem todo um plano para quando chegar no país, e como ele vai cumprimentar os primeiros locais que ele conhecer com um pomposo “Saudações, descendente dos romanos”, e então pedir indicações para uma igreja, local onde ele espera conseguir abrigo. 

Em um país em que se estima que 25% dos jovens emigraram, e que o dinheiro que eles mandam para casa é cerca de 40% do PIB, não surpreende o número de pessoas que estão obcecadas, como ele, com emigrar. Não é à toa que quando traficantes de pessoas aparecem na cidade e prometem levá-los para a Itália por uma taxa de quatro mil euros, 1045 mãos se levantam, das 523 pessoas – um homem tinha perdido um braço. Mas eles acabam é embarcando em furada após furada, tentando sem parar chegar na Itália. Outros habitantes, desesperados com a falta de dinheiro, tem alternativas ainda mais trágicas, como vender órgãos no mercado clandestino, enquanto um deles se convence que a Itália não existe. O país, claro, tá lá, mas esse país de sonho em que tem milhares de moldavos trabalhando e ganhando em euros para ele só pode ser uma invenção.

O romance conta bastante sobre a Moldávia atual, com um humor mordaz, e apesar de temas pesados, foi fácil de ler.

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