Volta ao Mundo em Livros: Mauritânia – The desert and the drum

Se no último país, a Argentina, o número de opções dentre as quais eu tinha que escolher um livro era esmagadora, nesse caso foi o oposto: achei só um romance publicado em inglês por um autor da Mauritânia, The Desert and the Drum, de Mbarek Ould Beyrouk.

O romance é narrado por Rayhana, uma jovem beduína que começa o romance fugindo de sua tribo. Ela atravessa o deserto a pé carregando um tambor, o símbolo sagrado da comunidade, o que ela sabe que vai atrair a ira e o desejo de vingança de todos que ela deixou para trás. No início sabemos muito pouco sobre isso, apenas que o filho dela foi tirado dela.

A partir daí, o romance se divide em dois tempos, um sobre o presente de Rayhana, enquanto ela tenta chegar salva em uma cidade e encontrar a única pessoa que ela conhece do lado de fora, uma escrava que pertencia à sua família e com quem ela cresceu – a Mauritânia foi o último país do mundo a abolir a escravidão, em 1981. A outra mostra ela crescendo na comunidade, na posição aparentemente privilegiada de sobrinha do chefe, e como a comunidade é afetada quando uma empresa francesa usa o território como base para procurar petróleo.

O autor tem um bom balanço entre contar a história da perspectiva de uma menina que cresceu nesse mundo, e contar um pouco sobre a cultura para o leitor que não está familiar com ela. Uma parte que chama especialmente a atenção é a narração de um casamento com todos os rituais inventados para mostrar a ingenuidade da noiva, que tenta desesperadamente preservar sua “inocência”, sua “virtude”, protestando a cada momento do casamento e parecendo infeliz, enquanto o homem tem que forçá-la a aceitá-lo – como a personagem descreve, é um tipo de estupro, mas é tradição. E quando a noiva se sente realmente triste com o casamento, não tem como expressar isso – a tradição não entende que ela realmente pode ser contrária ao casamento.

O romance conta muito sobre a sociedade, e foi um ótimo representante para a Mauritânia. Espero ele traga mais interesse pelos livros do país, e que em breve tenhamos mais romances para escolher de lá.

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