Volta ao Mundo em Filmes: Canadá – Atanarjuat

Quando eu comecei a procurar um filme para representar o Canadá no projeto, eu achei uma lista para escolher os dez melhores filmes canadenses, feita por críticos a cada dez anos. Das três primeiras vezes em que eles fizeram a lista, o vencedor foi o filme quebecois Mon Oncle Antoine, de Claude Jutra. Na última, um filme conseguiu ganhar o primeiro lugar: Atanarjuat: The Fast Runner, de Zacharias Kunuk. Somado ao fato de que é um filme inuit, o primeiro filmado na língua Inuktitut, e foi basicamente tudo que eu precisava saber para escolher esse filme.

Atanarjuat realmente foi um filme bem diferente, começando pelo fato de que foi o primeiro filme dessa lista a se passar antes do século XX. Ele se baseia em uma história que tem mais de mil anos, sobre rivalidades em uma comunidade. Ele conta a história de dois irmãos, (Pakkak Innukshuk), conhecido pela sua força, e Atanarjuat (Natar Ungalaaq), conhecido como corredor. Eles são parte de um clã dominado por Sauri, e por seu filho Oki (Peter-Henry Arnatsiaq). Tanto Oki quanto Atanarjuat se apaixonam por Atuat (Sylvia Ivalu), que ama Atanarjuat, e os dois homens lutam por ela segunda uma tradição antiga: um bate no outro, um golpe de cada vez, até que um deles caia no chão. Atanarjuat vence a luta, e consegue o direito de se casar com ela. Apesar disso, as rivalidades continuam, e Oki continua determinado a conseguir Atuat.

A história é muito boa, e o filme prende, apesar de ter três horas de duração. Mas claro que ele ter sido eleito como o melhor filme canadense já feito também tem a ver com ele ser tão inédito: primeiro filme em Inuktitut, primeiro filme em que todos os atores são inuit, um dos poucos filmes girados no círculo polar ártico, no extremo norte do Canadá. E não é questão de “cota”, de querer pagar de politicamente correto, mas só de reconhecer que filmes assim expandem a nossa idéia da história do Canadá. Meus amigos canadenses da minha idade ainda aprenderam na escola que a história deles começa quando os Europeus chegaram lá, e aprendem pouquíssimo sobre os nativos da região. Eles aprenderam que eles sofreram um genocídio e foram mandados para reservas, mas quase nada sobre seus costumes, língua, tradições. E fazer um filme que conta uma história tão antiga, que se preocupou muito com mostrar como as pessoas viviam em um lugar tão inóspito há mil anos, e que é um filme muito bom – a imagem de Atanarjuat correndo nu na neve vai ficar na sua cabeça – eles desafiam essa noção, ainda tristemente comum, de que existem “povos sem história”.

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