Volta ao Mundo em Filmes: China – Adeus, Minha Concubina

O filme da China foi um desafio enorme. Afinal, é um país enorme, que produz um número enorme de filmes por ano, mas dos quais eu conheço muito pouco. Fica bem difícil escolher só um, e nesses casos eu tendo a optar por um clássico, vencedor de vários prêmios. E foi assim que escolhi o filme Adeus, Minha Concubina, de Chen Kaige.

O filme começa quando uma prostituta tenta convencer a renomada Ópera de Beijing a aceitar seu filho Douzi (Leslie Cheung) como aprendiz. Ela não tem mais lugar para ele, e quando eles falam que não podem ter um aprendiz com um dedo a mais em uma das mãos, elas simplesmente pega uma faca, corta o dedo fora, e o leva de volta ainda sangrando. É um começo bastante brutal, mas o tratamento dele na Ópera não fica atrás, e vemos como o treinamento é fisica e mentalmente exaustivo e violento. Os meninos apanham muito por qualquer deslize, e Douzi tem apenas a companhia do amigo Shitou (Zhang Fengyi) para tentar resistir. Juntos, eles aprendem a ópera Adeus, Minha Concubina, em que Shitou interpreta o rei, e Douzi faz o papel da concubina.

Os dois meninos crescem, tomam os nomes de palco de Cheng Dieyi (Leslie Cheung) e Duan Xiaolou (Zhang Fengyi), e se tornam imensamente populares com as audiências de Beijing, especialmente por essa peça. Eles são de certa forma casados com os papéis que aprenderam na infância, e por isso Dieyi sempre vai interpretar papéis femininos – a ópera só permite atores – e Xiaolou sempre vai interpretar guerreiros e heróis. Dieyi foi criado desde a infância para pensar em si como uma mulher (a frase da peça que ele tem que repetir sem parar é “eu sou apenas uma mulher”), mas como adulto, quando ele se sente atraído por Xiaolou, isso é mal visto, e, para a mágoa dele, Xiaolou começa uma relação com uma mulher, a ex-prostituta Juxian (Gong Li), que é fantástica no filme.

Mas o sucesso deles é complicado pela turbulenta história do século XX, e a Ópera também se vê envolvida nas controvérsias da ocupação japonesa durante a Segunda Guerra e da ascensão do regime comunista. Não vou continuar muito para não dar spoilers, mas só falar que o filme passa por cinquenta anos de história da China seguindo esses dois personagens, cujos destinos parecem entrelaçados com o da peça que representam. Realmente é um filme muito ambicioso, e acho que vale a pena tanto para quem se interessa pela história do país, como para quem se interessa pela famosa ópera de Beijing.

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