Volta ao Mundo em Filmes: Guiné – Dakan

Quando chegou a vez de procurar um filme sobre a Guiné, tive a oportunidade de ver um filme que fez história: Dakan, de Mohamed Camara, conhecido como o primeiro filme da África subsaariana a falar de homossexualidade.

O filme segue dois jovens, Sori e Manga, que vão para a escola juntos. Eles se apaixonam, e sempre se encontram quando falam para os pais que estão estudando. Na escola, a maioria dos colegas não parece se importar muito com o relacionamento, e eles são deixados em paz. Mas a situação muda completamente quando eles tentam falar com os pais sobre o que tá acontecendo.

Quando Sori conta para a mãe que ele se apaixonou por outro rapaz, ela diz que isso nunca aconteceu antes, que meninos não fazem isso. Ela acha que essa é uma maldição que vai impedi-la de ter netos. E ela começa a levá-lo para curandeiros que tentam fazer uma terapia de choque. Já o pai de Manga acha que ele tá jogando fora tudo que os pais conquistaram para ele, todas as chances que ele poderia ter estudando, e que é melhor ele esquecer essa relação para conseguir subir na vida. E essa foi uma parte que achei muito interessante no filme, como os pais tem reações bem diferentes, uma baseada em crenças e religiões tradicionais, e uma baseada em um sentimento tão classe média de que você não pode se afastar demais do caminho tradicional. Mas os dois tem o mesmo resultado: os dois pais proíbem os filhos de se verem.

O filme segue os dois personagens por um tempo, enquanto eles tentam seguir os rumos que os pais prepararam para eles. Manga tenta trabalhar na firma do pai, enquanto Sori procura um casamento com uma jovem da vila da mãe. Ambos tentam realmente lidar com as expectativas dos pais, e o filme explora as diferentes formas como eles lidam com isso. O diretor disse que ele estava tentando mostrar como a homossexualidade era algo normal na cultura da Guiné, e não uma invenção ocidental, como era na época retratada na mídia. Ele conseguiu quebrar vários tabus, mas o filme também foi alvo de muitos protestos. Relações homossexuais, 24 anos depois desse filme, ainda são ilegais no país.

O tema permitiu conhecer vários contrastes da cultura – tem um choque de gerações entre os colegas que não se importam muito se os personagens principais são gays, e os pais que acham que vai arruinar a vida deles, tem um choque entre os personagens que moram na cidade e em uma pequena vila, entre os que são mais religiosos e os que são mais liberais com isso. Por isso nunca pareceu que o filme era sobre um assunto só, por mais que seja um assunto fundamental da vida moderna. Ao invés disso, sempre pareceu que ele queria mostrar como diferentes fatores influenciam como as pessoas lidam com uma situação que é descrita como nova e importada, e na verdade não é nenhum dos dois. Por isso foi um filme bem interessante para representar a Guiné, e acho que realmente vale a pena para quem se interessa pelo tema.

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