Um itinerário pelo centro histórico de Minsk, a capital de Belarus

Passear por Minsk é visitar uma cidade que é antiga e moderna ao mesmo tempo. Minsk tem mil anos, ganhando dos mil de Moscou, e dos setecentos de Amsterdam ou Praga. Mas você não vai ver nem um sinal disso viajando pela cidade. Construída entre impérios, a cidade foi devastada várias vezes, mais recentemente e mais arrasadoramente na Segunda Guerra. 80% dos prédios de Minsk foram destruídos então, e alguns que sobreviveram até estão no itinerário, mas eles não vão dar a idéia de uma cidade tão antiga. Ao invés disso, a gente vê uma cidade moderna, um dos melhores exemplos de cidade construída na época soviética, com lugares mais antigos aqui e ali. É uma cidade super interessante para visitar por esses contrastes, e que gera muitos itinerários interessantes – dá para planejar itinerários se concentrando em cidades soviéticas, ou na Segunda Guerra, por exemplo. Além disso, é uma ótima cidade para estudar russo, motivo que me trouxe para cá. Então vamos começar um itinerário pelo centro de Minsk, tentando mostrar um pouco dessas facetas tão diferentes.

A cidade alta

A Cidade Alta de Minsk é conhecida por ter vários prédios preservados dos séculos 16-19, inclusive o cartão postal da cidade, a Catedral do Espírito Santo. A igreja foi construída em 1860, e é uma das principais igrejas ortodoxas da cidade. Ela passou anos com funções diferentes, servindo na época soviética como prisão, arquivo e até como uma academia. Mas hoje ela voltou à função original, e abriga o ícone mais famoso da cidade, o da Mãe de Deus de Minsk.

Quase em frente à Catedral, fica a Praça da Liberdade (em belarusso: Plošča Svabody), onde fica a antiga prefeitura de Minsk. Essa praça também é muito popular com festivais, como os mercados de natal no inverno, e festivais de música clássica e jazz no verão.

Na praça também fica a Catedral de Santa Maria, o centro da igreja católica belarussa, construída em 1710 pelos jesuítas. Durante a época soviética, ela foi usado como complexo de esportes, mas foi restaurada nos anos 90 para reassumir a sua aparência original.

Além disso, a região tem outras igrejas famosas como a Igreja de São José, e ruas populares como a Internacyjanalnaja, onde ficava um número enorme de restaurantes internacionais durante a época soviética e a Zybickaya, conhecida pelos restaurantes e cafés.

Traeckaje

Atravessando o rio, Traeckaje é basicamente uma pequena ilha que mostra a Minsk que já foi um dia. No século XVI, o lugar era um subúrbio, habitado principalmente por artesãos. Em 1809, um incêndio devastou o bairro, e o tsar russo Alexandre I aproveitou a chance para planejar um bairro novo. O bairro foi arrasado de novo na Segunda Guerra, e pouco dele restava nos anos 80, quando o governo resolveu novamente aproveitar a chance para construir alguns prédios que lembravam o estilo antigo de Minsk. Se eles são fiéis ou não, é uma questão complicada, e na verdade ninguém sabe. Mas vale a pena passear nas margens do rio Svislach e conhecer o bairro. Hoje, grande parte dele está em reconstrução (nem meus amigos de Minsk souberam me dizer, por exemplo, se o Monastério da Trindade ainda existe ou foi demolido para dar lugar a um prédio moderno), mas a parte mais perto do rio continua preservada e fotogênea.

Vista para uma parte mais moderna da cidade, atrás do rio Svislach, completamente congelado porque nos dias antes dessa foto chegou a menos 27
Um lado mostra a arquitetura reconstruída do pré-guerra, um mais moderno, e também tem um lado soviético para representar bem Minsk

Centro

Saindo de Traeckaje, um dos lugares mais interessantes para visitar é a pequena Ilha das Lágrimas, onde fica um monumento dedicado aos soldados que morreram durante a invasão soviética do Afeganistão, entre 1979 e 1988. Uma curiosidade do lugar é a estátua de um menino com asas de anjo, que mulheres grávidas costumam tocar quando elas querem ter um menino.

Indo em direção norte, ainda em Traeckaje, fica o Teatro Bolshoi. Em russo, Bolshoi Teatr significa somente “Grande Teatro”, e é um nome comum para o teatro principal de cada cidade, não uma filial do irmão mais velho e mais famoso, de Moscou. Mas é um ótimo teatro e um onde sempre dá para pegar balés e óperas pagando muito pouco, e um passeio recomendadíssimo em Belarus.

Saindo do centro e indo em direção norte, fica um dos pontos turísticos mais curiosos da cidade, por ser onde morou um dos habitantes mais famosos de Minsk: a casa de Lee Harvey Oswald. Ele é infame por assassinar o presidente dos EUA, Kennedy, mas antes disso, ele renunciou a cidadania estadounidense e passou dois anos de volta. Depois ele implorou para voltar ao país de origem. O apartamento dele era bem aqui, na rua Communisticheskaya 4, apartamento 24.

Não dá para perder o Mercado Kamaroŭka. Lá dá para comprar queijos (lembrando que Belarus tem a maior produção de laticínios da Europa, e vale provar os queijos locais), carnes, legumes, temperos, dá para achar de tudo em Kamaroŭka. Também é um bom lugar para comer algo rápido, e, stands de comida belarussa, georgiana, uzbeque ou vietnamita, todas culinárias muito populares em Minsk. Além disso, o lugar hoje é conhecido por ser cercado por restaurantes de kebab, o que também é sempre uma opção barata e boa.

Atrás dele, para quem quiser explorar mais Minsk, tem outro bairro conhecido como uma capsula do tempo: Asmaloŭka. Cheio de casas e dois andares típicas dos anos 40, e com mais de 1300 árvores nas ruas, ele mostra o que era a Minsk do pós-guerra. O bairro sempre é ameaçado de demolição para construir prédios mais modernos, mas os habitantes o amam como é, e tem lutado para que as casas sejam reconhedidas como patrimônio histórico de Minsk.

Do lado do mercado, se você quiser visitar um lugar moderno, tem o Korpus, uma antiga fábrica transformada em centro cultural. Aqui é um bom lugar para procurar por festivais, concertos, bares e lojinhas alternativas.

Além disso, ainda vale a pena falar de uma igreja antiga da cidade, a Catedral Aleksandr Nevski. Ela foi construída em 1898, em estilo bizantino, e é conhecida também pelo cemitério ao seu redor, onde estão enterrados os dois poetas mais famosos de Belarus, Janka Kupala e Jakub Kolas.

A Cidade do Sol

O termo “Cidade do Sol” foi criado pelo escritor belarusso Artur Klinov para se referir ao estilo stalinista em que grande parte da cidade foi construída. Mais especificamente, ele geralmente é usado para falar da avenida principal de Minsk, Praspiekt Niezaležnasci, e algumas das avenidas vizinhas. O primeiro lugar para visitar se você vem do norte da cidade é a Ploshcha Peramogi, ou Praça da Vitória. Ela comemora a vitória contra os nazistas durante a Segunda Guerra, e ainda tem a chama eterna dedicada a um soldado desconhecido. Belarus foi o país europeu mais destruído pela Segunda Guerra, em que um quarto de sua população morreu, e Minsk foi quase completamente arrasada. O blog também já teve um post com um itinerário da época.

Eu não vou focar muito nos prédios da avenida, porque também tem no blog um itinerário mais focado na arquitetura soviética, mas vale a pena já falar que toda a Avenida Niezaležnasci é um bom passeio para quem curte a arquitetura, com vários prédios famosos como o prédio da KGB, o Café Centralnyi, o Palácio da Cultura, o GUM, antigo shopping da época soviética, os “portões de Minsk”, em que a arquitetura soviética se inspira na medieval da cidade, e até a Praça da Independência, antiga Praça Lenin, que ainda tem uma estátua do líder soviético.

Também na praça, e fugindo do estilo stalinista, também vale a pena visitar a famosa Igreja Vermelha de Minsk, oficialmente conhecida como Igreja dos Santos Simon e Alena. Ela foi construída em 1910, e na época era a maior e mais imponente igreja católica da cidade. Ela é, porém, associada com uma lenda triste – nos anos entre 1887 e 1903, um nobre local, Edward Vajnilovič, perdeu dois filhos, um menino, Simon, para a escarlatina, e uma filha, Alena, para pneumonia. Antes que a menina morresse, ela sonhou com uma grande igreja vermelha, e fez um desenho. Depois disso, Vajnilovič levantou dinheiro para construir a igreja, dando a ela o nome dos santos que tinham inspirado o nome dos seus filhos. 

Esses são alguns dos lugares básicos para quem quer conhecer o centro de Minsk. Mas claro, não esgotam a cidade. Não deixe de visitar também a Biblioteca Nacional, um dos prédios mais controversos da cidade, o Museu da Grande Guerra Patriótica, ou a avenida Kastryčnickaja, com as fábricas convertidas e arte de rua. Ou, se tiver tempo, também tente ir a um day trip para cidades vizinhas, ou usar alguns dias para conhecer cidades como Grodno, Brest e Vitebsk.

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