Volta ao Mundo em Filmes: Haiti – Haitian Corner

Foi bem difícil achar um filme para representar o Haiti. Eu já falei por aqui que às vezes me parece que para alguns países é quase impossível encontrar romances de autores que não emigraram para o “Norte Global”, e foi o caso também quando procurei um filme para o Haiti. Por isso acabei vendo Haiti Corner, de Raoul Peck, que foca em uma comunidade haitiana em Nova York.

O filme acompanha um artista, Joseph Bossuet, que passou sete anos em uma das prisões mais notórias da ditadura dos Duvalier, Fort Dimanche. O filme abre com os testemunhos de três outros prisioneiros que sobreviveram essa prisão. Tendo escapado do país depois de ser libertado, Bossuet tenta reconstruir a sua vida em Nova York, mas é assombrado por lembranças dessa época. Isso piora quando um dia ele vê outro haitiano tentando reconstruir a vida, e o reconhece como seu torturador.

O filme mostra vários membros da comunidade haitiana em Nova York, inclusive um homem que todo dia olha o preço de passagens para o Haiti, e o pai de Bossuet, que passa o dia olhando um antigo álbum de fotos.

O tema parece bem comum na ficção vinda do Haiti, e um dos outros filmes que eu procurei, Wòch Nan Soley, de Patricia Benoit, também lida com uma mulher encontrando o homem que deu a ordem para que ela fosse estuprada e torturada na prisão, e o livro que eu li para o país, The Dew Breaker, da Edwige Danticatt, também tinha esse tema, dessa vez pela perspectiva tanto de uma pessoa torturada quanto do próprio torturador, e da filha dele que cresceu nos EUA e não suspeita do passado do pai. Além da trama em si, eles tem algo mais em comum, a busca por entender como a gente lida com um passado traumático, que continua a voltar para te assombrar mesmo anos depois, em outro país. Foi um excelente filme, que ensina muito sobre o Haiti, e curti a escolha.

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