Um Itinerário pelo Centro Histórico de Gent

O meu itinerário por Gent começou de forma incrível (escolhi escrever o nome da cidade como eles, em Holandês, ao invés do nome em inglês, Ghent, que aparece mais). Eu cheguei na cidade e fui direto para o albergue, o Hostel Uppelink, e tenho que fazer propaganda, porque ele não poderia ser mais no centro. Ele fica em um prédio antigo, com vista para as três torres que fazem a história da cidade: a Igreja de São Bavo, a Igreja de São Nicolau, e a Torre do Sino. Dá para chegar nos três pela Sint-Michielsbrug, ou ponte de São Miguel, que também tem uma ótima vista para o canal. 

Debaixo da Ponte, fica um dos lugares centrais da cidade, o Graslei e o Korenlei, um ponto do canal usado como cais desde o século V. 

De frente para o albergue, fica a Sint-Michielskerk, ou Igreja de São Miguel. Ela é conhecida pela decoração interna, que inclui uma pintura de van Dyck, e ela foi construída no século XII.

Atravessando a Ponte, a gente chega à Sint-Niklaaskerk ou Igreja de São Nicolau. Ela foi construída no século XIII, e era popular com as corporações de ofício da cidade. Cada uma construiu sua própria capela lá, a maioria entre os séculos XIII e XV. 

De lá, a gente vai para a segunda torre famosa, do Belfort ou Campanário. Na Bélgica e em parte da França, torres assim eram tradicionais e foram importantes para conservar a arquitetura de várias épocas, e por isso um conjunto de torres românicas, góticas, renascentistas e barrocas são consideradas juntas como um Patrimônio da UNESCO. Elas também eram importantes para anunciar eventos, usando os sinos, e serviam como torres fortificadas durante invasões. Isso inclui o Campanário de Gent, construído no século XIV. Em cima dele, fica um dragão, símbolo da cidade de Gent, e ele fica aberto para visitantes que quiserem subir os 350 degraus para ver a vista da cidade.

De frente ao Campanário, fica o mercado medieval de tecidos, que ainda é famoso pela estátua do Mammelokker. Ela conta uma lenda romana, a de um prisioneiro chamado Cimon que foi condenado a morrer de fome, mas sobreviveu por causa da filha Pero, que estava amamentando os filhos, e conseguiu alimentar o pai sem que os guardas vissem. Quando eles descobriram, ficaram tão impressionados com como ela foi caridosa, que libertaram Cimon. 

Do lado do Campanário fica um dos prédios mais polêmicos da cidade, o Stadshal, parte de uma proposta para renovar os espaços públicos da cidade, especialmente as praças. Ele foi feito pelos arquitetos Robbrecht & Daem e Marie-José Van Hee, e geralmente abriga eventos como feiras e concertos. A controvérsia vem, é claro, de ser uma obra tão moderna, que se destaca na cidade.

E, finalmente, para a terceira torre famosa da arquitetura medieval de Gent, a da Sint Baafskathedraal, ou Catedral de São Bavo. Uma catedral existe no lugar desde o século IX, mas a atual igreja gótica vem do século XIII. Além de ser uma igreja imponente, ela é mais conhecida por possuir a obra de arte mais roubada da história da Europa, o Altar de Gent, que ainda pode ser visto lá e já teve post específico.

Crédito: wikicommons

Quase em frente à Catedral, fica a Chocolateria Cédric Van Hoorebeke, uma das mais famosas da cidade e premiadíssima.

Em um clima bem diferente, perto das catedrais fica a Werregarenstraat, conhecida como a rua do grafite. Nela vários artistas famosos já deixaram sua marca, embora mude sempre.

De lá, fui para o Vrijdagmarkt, uma praça cujo nome se traduz como “o Mercado de Sexta Feira”. E é exatamente isso, a praça surgiu na Idade Média para abrigar o mercado, e ainda é conhecida por ele, que continua acontecendo quase toda sexta. A maioria dos prédios em volta dela eram Corporações de Ofício durante a Idade Média, e hoje a maioria abriga bares e restaurantes. Um deles, o Dues Grillet, virou uma atração turística, tanto por ter o maior número de cervejas belgas da cidade, mais de 300 para escolher, quanto por uma tradição estranha: para proteger os copos caros de cristais, você tem que tirar um sapato e deixá-lo lá como depósito enquanto bebe sua cerveja. No final da noite, se não tiver acontecido nada com o cristal, você o recebe de volta.

Além dos bares, a praça também abriga dois prédios Art Nouveau, inclusive o Sindicato Internacional Socialista, que sempre tem eventos. E a estátua no centro da cidade é de Jacob van Artevelde, um político local que se aliou com os ingleses durante a Guerra dos Cem Anos. Surgiu a suspeita que ele pretendia reconhecer o rei inglês como soberano de Flandres, e por isso ele foi assassinado na praça por uma multidão, em 1345.

O nome do bar vem de outro Dulle Griet, o canhão vermelho na beira de um canal de Gent, que também é conhecido como Groot Kanon, ou Grande Canhão. Ele foi feito no século XV, mas nunca foi disparado, e foi construído pelos mesmos artesãos que fizeram o “Mons Meg”, o famoso canhão do Castelo de Edimburgo.

E essa parte dos canais realmente é maravilhosa.

Falando de mercados, depois fomos ao Groot Vleeshuis, o Grande Mercado de Açougueiros. Ele é outra corporação de ofício, que abrigava os açougueiros durante o século XV. Hoje ele oferece mais e 175 produtos regionais de Flandres, essa região da Bélgica, e por isso vale muito a pena conhecer.

Depois disso, atravessamos de novo os canais para ir ao Gravensteen, o Castelo dos Condes de Flandres. O castelo data de 1180, e foi a residência oficial dos condes de Flandres a partir do século XIV. O castelo entrou em declínio, assim como a cidade de Gent, nos séculos depois, e chegou a ser usado como fábrica de algodão durante a Revolução Industrial. Depois, os belgas chegaram a pensar em demoli-lo, até que ele acabou virando uma atração turística. Hoje ele é um dos prédios mais visitados da cidade. Por dentro, ele é reconstruído como um castelo da época, com vários ambientes para visitar, e um dos melhores jeitos é com o audioguide, narrado pelo comediante Wouter Deprez. Teve momentos em que eu sinceramente ri alto do audioguide, e ele ainda era muito informativo, então recomendo fortemente.

Além disso, o Castelo é conhecido pelas vistas para a cidade.

Atrás do Castelo, fica o Paterhol, um bairro conhecido pelas ruazinhas de paralelepípedos, muito preservados. 

Além disso, queria falar de dois lugares perto do centro que eu queria visitar, mas que acabei não conseguindo. Um era o Museu Industrial, que fala um pouco da Revolução Industrial na cidade, e outro era a Abadia de São Bavo, hoje em ruínas. Mas enquanto isso, não vou resistir e vou postar mais umas fotos do centro.

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