Volta ao Mundo em Livros: Áustria – Malina

Quando eu estava falando sobre o livro que escolhi para o Irã, The Enlightenment of the Greengage Tree, comentei que eu estava na dúvida sobre o que escolher para lá, que vários livros pareciam incríveis, e que me tira teima foi a lista que saiu no The Guardian com quarenta livros recomendados pela Elena Ferrante. A Áustria foi semelhante, com a diferença que na lista tinha dois livros de autoras austríacas: A Professora de Piano, da ganhadora do Nobel Elfriede Jelinek, e Malina, de Ingeborg Bachmann. Acabei ficando com o segundo, mas pouco depois não resisti e li a Jelinek também.

Malina é o único romance que Bachmann, mais conhecida como poeta, publicou. Ele conta a história de um triângulo amoroso entre a narradora, que não tem nome, Ivan, um homem que ela ama, e Malina, um homem com o qual ela vive e ao qual ela está misteriosamente conectada. O primeiro capítulo, feliz com Ivan, conta muita das duas relações. Ivan trabalha em um “Instituto per negócios de extrema necessidade”, enquanto Malina é um historiador que trabalha no Museu do Exército.

A segunda parte, O Terceiro Homem, é uma seqüência de pesadelos alucinatórios. Aqui entra muito o tema do pai, da violência masculina e da guerra. Afinal, ele tem o mesmo nome do filme de Carol Reed que me fez querer visitar a roda gigante do Prater, e que é um dos mais famosos retratos sombrios de Viena. A Viena do filme não é a Viena glamurosa da música clássica, mas a cidade dividida pelos aliados no final da Segunda Guerra, em que o mercado negro domina e uma pessoa próxima de você pode no final ser um assassino. No livro, as atrocidades que o pai dela comete também se relacionam com o papel da Áustria na segunda guerra, e a memória que se tem disso depois.

Finalmente, no último capítulo, chamado de Últimas Coisas, a gente tem uma narradora ainda mais não-confiável, que narra cartas que podem não ter sido enviadas e telefonemas que podem não ter acontecido. A gente sabe que um assassinato acontecerá nessa parte, mas quando acontece, no final do livro, ele é completamente impactante. Foi um clássico que fiquei feliz em conhecer, e foi uma ótima escolha para a Áustria.

Bachmann morreu em 1973, aparentemente por causa de um incêndio causado por ela ter dormido com um cigarro aceso na boca. Malina virou filme em 1991, curiosamente com roteiro adaptado pela Jelinek, a outra autora que eu pensei em ler para a Áustria, e estrelando a Isabelle Huppert, que anos depois também estrelaria uma versão de A Professora de Piano, da Jelinek, dirigida por outro austríaco famoso, Michael Haneke. A minha versão também tinha um prefácio da Rachel Kushner que curti muito, e que foi publicado pelo New Yorker.

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