Volta ao Mundo em Livros: Irã – The Enlightenment of the Greengage Tree

Quando eu sorteei um livro para o Irã, foi um desafio decidir qual eu queria ler. Eu já tinha uma passagem de avião para ir para lá em maio de 2020, antes dos vôos serem cancelados e as fronteiras serem fechadas por causa da pandemia de covid. Antes da viagem, eu já tinha procurado uma lista de livros e filmes para ler por lá, como geralmente faço, então agora eu tinha uma lista enorme com vários livros que já me pareciam interessantes. Mas, para ajudar na escolha, saiu a lista do The Guardian com 40 livros de autoras modernas que a Ferrante recomenda, e quando a Ferrante fala, eu obedeço. Fiquei com o romance que ela mencionou: The Enlightenment of the Greengage Tree, de Shokoofeh Azar. O romance também foi um dos finalistas do Booker Prize Internacional de 2020, prêmio que eu olho sempre para achar sugestões para esse projeto. 

The Enlightenment of the Greengage Tree conta a história de uma família nos anos depois da Revolução Iraniana, usando Realismo Mágico para trazer lendas e tradições persas para o contexto do Irã dos anos 70. O romance começa em 1988, quando a mãe da família, afetada pelo luto, sobe em um pé de Ameixas Verdes (melhor tradução que achei para o nome da árvore, mas me corrijam se estiver errado). Lá, ela tem uma epifania no exato mesmo instante que o seu filho Sohrab é executado como prisioneiro político. 

A filha mais nova da família, Bahar, de treze anos, tinha sido a primeira vítima do novo regime, quando um grupo de fanáticos religiosos invadiu a casa deles para queimar seus livros de poesia e instrumentos musicais antigos. Como ela se escondeu na casa com medo deles, ela morreu queimada. No entanto, é ela que narra a história, contando como o resto da família foge de Teerã para as montanhas no norte do país. Além deles, a família tem outra filha, Beeta.

Além do fantasma da filha, o romance tem muitos elementos do sobrenatural, geralmente tirados do folclore persa, como os djins (às vezes traduzidos em português como gênios), uma sereia e neve escura. Ele também tem elementos de história, fazendo muitas referências à guerra entre o Irã e o Iraque nos anos 80, e à invasão dos árabes 1400 anos atrás – Roza, o pai da família, compara a revolução com a invasão por causa da destruição da cultura. A minha versão do romance, em inglês, ficou cheia de notas de rodapé para ajudar o leitor a entender um pouco dessas referências. 

O livro foi escrito por Azar no exílio – ela mora há anos na Austrália. A tradutora ou o tradutor preferiu ficar no anonimato, por medo de sofrer ameaças por causa dos temas tabus do livro. Claro que com isso já dá para ver que a autora teve uma liberdade para falar do Irã em que ela cresceu que quem continua lá ainda não tem, e por isso o livro pode ser mais explícito sobre temas como tortura na prisão e assassinatos em massa pelo governo. E o livro foi proibido no Irã, mas uma amiga já me falou que ele circula lá de forma ilegal. Por isso tudo, foi um livro interessante para ler para o Irã. E suspendi o sorteio um pouco, porque tem outros livros da Ferrante de países que ainda não li, então vão ser os meus próximos.

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