Um passeio pelo centro de Bruxelas

Eu recentemente fui para a Bélgica para participar de um congresso em Gent. Fiquei por lá por uma semana e foi a cidade que conheci melhor no país, mas também consegui ver um pouco de Bruxelas. Além do Museu da África, o objetivo da excursão, conseguimos passear um pouco pela Praça Grande e seus arredores, no centro da cidade.

Começando na Praça Grande, também conhecida como Grand Place ou Grote Markt, a praça central da cidade desde a Idade Média. Quando ela foi construída, a praça era o centro dos mercados fechados da cidade, com três grandes mercados dedicados a carne, pão e tecidos. 

Entre 1401 e 1465, a Prefeitura de Bruxelas foi construída na praça. Ela é conhecida pela torre de 96 metros, que acaba com uma estátua de 4 metros de São Miguel, patrono da cidade, matando um demônio. 

Para se contrapor ao poder da cidade, o Duque de Brabante mandou construir em frente à prefeitura o Palácio Ducal, que ficou conhecido em francês como Maison du Roi, “casa do rei”, porque os Duques de Brabante se tornaram também reis da Espanha, e em holandês como Broodhuis, “casa do pão”, em lembrança do mercado que foi destruído para que ele fosse construído.

Ao redor da praça os outros prédios foram construídos pelas Corporações de Ofício de Bruxelas. Para quem lembra das aulas de história do colégio, essas eram as associações que regulamentavam o exercício de certas profissões durante a Idade Média. As de Bruxelas eram muito poderosas, e elas tinham as suas sedes na praça. Por isso dando a volta na praça e seguindo os números, a gente vê a Corporação dos Padeiros (conhecida como Le Roy d’Espagne, número 1), dos Greasers (La Brouette, números 2 e 3), dos Carpinteiros (Le Sac, número 4), dos arqueiros (La Louve, número 5), dos barqueiros (Le Cornet, número 6), dos vendedores de roupas (Le Renard, número 7), dos açougueiros (Le Cygne, número 9), dos cervejeiros (L’Arbre d’Or, número 10), dos pedreiros (Maison ‘Alsemberg, número 12), dos tecedores de tapetes (L’Ermitage, número 14), dos tintureiros (La Fortune, número 15), dos moleiros (Le Moulin à Vent, número 16), dos carpinteiros de carroças (Le Pot d’Étain, número 17), dos escultores, (La Colline, número 18), dos costureiros (La Chaloupe d’or, números 24-25), dos pintores (La Pigeon, números 26-7). As outras casas da praça, que também tem todas um apelido próprio, eram casas particulares.

Bruxelas foi bombardeada pelos franceses em 1695, e a praça teve que ser reconstruída depois disso. Por isso, os prédios, que originalmente tinham sido construídos em séculos diferentes, acabaram com uma aparência coesiva. Apesar da mistura de estilos, com Gótico, Barroco e Luis XIV, elas pareciam semelhantes. Mas depois a praça teve outras mudanças, inclusive uma revolta protestante contra estátuas católicas, que é o motivo que a gente ainda vê muitos pedestais na praça sem estátua. A praça também passou por séculos de decadência, em que os prédios não tiveram nenhuma manutenção, até que o primeiro prefeito de Bruxelas, Charles Bruls, os restaurou, no meio do século XIX. Hoje ela é a atração principal de Bruxelas, e um patrimônio da humanidade segundo a UNESCO.

Da praça, o próximo lugar que eu quis ver foi uma atração muito curiosa, o Manneken Pis. Ela é a estátua mais famosa da cidade, a curiosa estátua de um menino urinando, que tem apenas 61 centímetros de altura. Ela foi construída no século XVII, e desde então se tornou um dos símbolos de Bruxelas, e é considerada uma personificação do “zwanze”, o senso de humor típico das pessoas da cidade. Várias lendas tentam explicar o motivo de terem construído a estátua, e essas são algumas das mais comuns:

  • A lenda mais corrente é que a estátua representa Godfrey III of Leuven. Que era duque da cidade aos dois anos de idade durante p século XI. Bruxelas tinha sido sitiada, e os soldados colocaram o duque em uma cesta e o penduraram em uma árvore, para encorajar as tropas. De lá, ele urinou nos soldados inimigos, que depois perderam a batalha.
  • Outra lenda diz que a cidade foi sitiada no século XIV. Em menino chamado Julianske ouviu os planos de soldados que pretendiam esconder explosivos nas muralhas da cidade, e urinou no fusível, salvando a cidade.
  • Uma lenda mais recente, normalmente contada a turistas, diz que o menino era o filho de um mercador rico, e ele se perdeu enquanto o pai visitava a cidade. Os locais ajudaram o pai a procurar pelo filho, e eles o encontraram urinando em um jardim. Então o pai fez a estátua para agradecer aos locais.

Além disso, a estátua também tem várias curiosidades, como todas as vezes em que ela foi roubada, e um funcionário da cidade é encarregado de “vestir” a estátua, que tem mais de duzentas fantasias oficiais, durante feriados e datas comemorativas. Além disso, outras estátuas urinantes foram construídas depois em Bruxelas, inclusive a de uma menina (Jeanneke Pis) e a de um cachorro (Het Zinneke).

No caminho para o Manneken Pis, vi um painel com uma grande tirinha do Tintin. Ele é parte da Caminhada dos Quadrinhos de Bruxelas, que tem homenagens a vários clássicos dos quadrinhos belgas. É claro que o Tintin aparece em vários, e debaixo desse da foto tem também uma loja dedicada ao Tintin.

Lá perto ficam as Galeries Royales Saint-Hubert, a galeria de compras com telhado de vidro mais antiga da Europa. 

Galeria, créditos: wiki commons

Outro lugar famoso para visitar no centro é o Mont des Arts ou Kunstberg que tem esse nome, monte das artes, porque ele foi construído para ser um enorme complexo cultural. Lá em cima ficam a Biblioteca Nacional, os Arquivos Nacionais, O Museu de Instrumentos Musicais, o Museu Magritte, o Museu de Belas Artes e a Catedral de São Miguel. Além disso, também fica o antigo palácio real, ou Palais Royal, hoje só é usado em comemorações. Hoje ele fica aberto para visitantes durante o verão.

Museu Magritte
Catedral de São Miguel
Vista do ont des Arts
Prédio Old England, hoje museu dos instrumentos musicais. Créditos: wiki commons
Palácio Real

Gostaria de voltar a Bruxelas para visitar o Parc du Cinquantenaire e os prédios Art Nouveau de Victor Horta. Mas já foi bom para ter um gostinho da cidade. Enquanto isso, clique na imagem para ler todos os posts sobre a Bélgica.

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