Volta ao Mundo em Filmes: Uzbequistão – Eu me Lembro de Você

De novo, na Ásia Central, procurei por uma dica sobre um filme e um livro, e fiquei sabendo de um nome incontornável, um diretor que é o mais famoso do país. No caso de um filme para o Uzbequistão, esse nome é Ali Hamroyev (cujo nome também é escrito como Ali Khamrayev), e vi seu filme Eu me Lembro de Você.

O filme é uma meditação sobre a memória, e me lembrou um pouco do Amarcord de Fellini. Ele conta a história de Kim (Vyacheslav Bogachev), um veterinário que visita a mãe doente (Zinaida Sharko) em Samarkand, uma das cidades mais famosas da rota da seda, e parte para a Rússia para tentar encontrar o túmulo do pai, que morreu na segunda guerra. A mãe quer que ele traga um pouco da terra do túmulo, para misturar com a terra do túmulo dela, quando ela falecer. O filme nesse ponto é bastante autobiográfico: o diretor, como o protagonista, é filho de um pai tajique e mãe ucraniana, e ele também visitou a Rússia para encontrar o túmulo do pai, morto em circunstâncias semelhantes. 

O filme alterna a viagem de Kim pela Rússia com a mãe dele, Asya, e a irmã que veio ajudar a cuidar dela, Olya (Liliya Gritsenko). As imagens ficam a cada momento mais impressionistas, ligadas por conexões que nem sempre são fáceis de entender: a gente passa de Kim e seus irmãos pequenos, das cartas que seu pai, Ergash, enviava do front, e de outras memórias, para cenas do Uzbequistão contemporâneo, com turistas que passam por Samarkand e um show de moda.

Parece que Hamroyev começou a escrever esse filme por sugestão do Tarkovski, que ouviu a história de como ele tinha ido à Rússia quando os dois estavam apresentando filmes no Festival de Berlim. E no início ele escreveu um filme mais tradicional, mas depois mudou tudo – o que me lembra de outro grande diretor, Godard, que foi perguntado em uma entrevista se um filme devia ter início, meio e fim. Ele respondeu “sim, mas não necessariamente nessa ordem”. 

O filme, além de mostrar cenas de Samarkand em várias épocas, é interessante por mostrar como soviéticos de vários países diferentes se relacionavam no Uzbequistão. Eu adorei a cena em que Asya fala sobre quando o marido foi para a guerra e a deixou com dois filhos pequenos, e ela foi morar em uma comunidade uzbeque. Ela era de origem ucraniana, nem falava a língua, mas aprendeu a cozinhar pratos típicos e danças danças uzbeques. Não é um filme que recomendo para quem não gosta de “filme sem história”, mas para quem gosta de filmes independentes, é um prato cheio. Gostei muito do filme e foi uma boa escolha.

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