Visitando o Ghetto judaico de Bologna

A palavra gueto, que ainda aparece em tantas línguas, vem da história das comunidades judaicas na Itália, e de como elas foram discriminadas por séculos. A palavra surgiu em Veneza, como ghetto, e era onde os judeus eram obrigados a viver. Já existia a palavra Giudecca, bairros majoritariamente judeus, geralmente em torno de sinagogas, mas a palavra ghetto foi inventada para marcar uma diferença enorme: eram os únicos lugares das cidades onde eles podiam viver legalmente, geralmente bairros murados cujas entradas eram trancadas ao pôr-do-sol. De lá, a palavra de espalhou por toda a Itália, foi usada pelos nazistas para designar as áreas onde judeus podiam viver antes de serem mandados a campos de concentração, durante o holocausto, e depois foram usadas para falar em geral de áreas pobres e com alta densidade populacional – escrita como “gueto”. Por isso hoje vou contar sobre como é visitar o antigo ghetto judaico de Bologna.

Bologna já tinha uma população judia há séculos quando em 1555 saiu a bula papal Cum nimis absurdum, de Paulo IV, que impôs várias restrições a eles. Os judeus vivendo nos estados papais foram obrigados a usar um distintivo cinza, foram proibidos de possuir imóveis, médicos judeus foram proibidos de curar cristãos, cada cidade poderia ter o máximo de uma sinagoga, e as outras tinham que ser destruídas, e eles tinham que viver em bairros isolados, cujos portões fossem trancados do pôr do sol ao nascer do sol. Em Bologna, o lugar que foi designado como ghetto foi o triângulo entre as ruas Oberdan, Marsala e Zamboni. O ghetto tinha duas entradas, e uma delas ainda preserva a antiga estrutura do portão que era fechado à noite, na rua Zamboni com a rua del Carro, no laso do Palazzo Manzoli Malvasia.

E na maioria das entradas a gente logo vê o mapinha estilizado, em formato de mão de fátima, que foi feito para contar a história do gueto.

A rua principal do ghetto era a Via dell’Inferno. O gueto era pequeno e tinha uma população grande, e por isso era a área da cidade com a mais alta densidade populacional. Por isso, os prédios eram altos e as ruas eram estreitas, e não batia sol dentro das casas. Alguns dizem que era por isso que a rua foi chamada de Rua do Inferno. Outras dizem que foi por anti-semitismo mesmo. Hoje, ninguém sabe com certeza. Do lado dela, tem ainda a Via del Limbo e a Via del Purgatorio (a via Paradiso, mais alegre, fica perto do Pratello).

Também era nessa rua que ficava uma Sinagoga, no número 16, onde hoje tem uma placa lembrando a sua existência. A sinagoga era considerada um centro importante para estudos da Torah, era um centro de publicação, e graças à comunidade a Universidade de Bologna tinha uma cátedra em histórica hebraica desde 1488. Ela foi quase completamente destruída durante os bombardeios feitos pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra.

A principal atração do ghetto hoje é o Museu Judaico, que conta a história dos judeus de Bologna.

O ghetto também tem uma das poucas torres medievais ainda preservadas de Bologna, que na Idade Média era chamada de La Turrita pela quantidade delas. A Torre Uguzzoni foi construída no século XIII, mas depois muito afetada pelo ghetto: como as ruas são estreitas, é difícil ver a torre.

O Palácio Bocchi também é famoso pela história. Ele foi construído no século XVI por Achille Bocchi para ser sede da Accademia Ermatema, que ele criou em homenagem a dois deuses gregos, Hermes e Atena. Hoje o prédio é famoso pelas inscrições em hebraico, reproduzindo versos da Torah que dizem “o senhor me proteja dos lábios mentirosos e da linguagem enganadora.” Do outro lado, tem uma inscrição em latim diz “você será rei, eles dizem, se agir corretamente”. Essas seriam a base filosófica da Accademia, mas atraíram suspeição de que ele fosse judeu, então ele acrescentou uma cruz em cima da palavra hebraica para deus.

O gueto ainda tem duas praças famosas, a Piazza San Martino, e a Pizzetta Marco Biagi.

Apenas alguns anos depois dessas restrições, os judeus foram expulsos de Bologna 1569, a volta deles foi permitida em 1586, e depois eles foram expulsos de novo em 1593. Pelos próximos dois séculos não foi permitido que houvesse uma comunidade judaica em Bologna, e ela só voltou a existir na cidade na época napoleônica. Felizmente, a esse ponto eles podiam morar onde quisessem na cidade, e não precisavam mais ficar trancados no ghetto. A gente pode ver isso com um monumento que mostra o lado bom, a Sinagoga de Bologna, que ainda funciona, ou com um lado mais trágico: as Pedras de Tropeço, que surgiram em Berlim para marcar os lugares onde judeus que foram assassinados no Holocausto costumavam morar. Bologna tem pedras na via de Gombruti 9, via del Cestello 4, Strada Maggiore 13 e Via Rimesse 25.

Mais algumas fotos do antigo ghetto:

Clique na imagem para ler mais posts sobre a Itália.

Deixe uma resposta