Volta ao Mundo em Livros: Quênia – Dust

Achei muitas sugestões que que pareciam interessantes  para representar o Quênia no projeto. Três autores me interessaram especialmente: Ngũgĩ wa Thiong’o, Grace Ogot e Yvonne Adhiambo Owuor. No final, parecia que eu ia acertar com qualquer um deles e que ia querer voltar e ler os outros dois de qualquer jeito, então fiquei com o livro que parecia o mais atraente naquele momento, e acabou sendo Dust, de Yvonne Adhiambo Owuor.

O romance começa com a morte de Odidi, um homem que é morto a tiros nas ruas de Nairobi no dia das eleições de 2007. Por causa disso, a irmã dele, Ajany, volta para o Quênia de Salvador, no Brasil, onde ela tinha passado os últimos anos. Ela vai com o pai, Nyipir,  buscar o corpo do irmão no necrotério, e de lá eles partem para a fazenda da família no norte do país, onde a mãe dela, Akai, espera. A maioria da história se passa nessa casa, que tem o nome de Wuoth Ogik, onde a jornada termina.

Isaiah William Bolton, um homem inglês que está em busca do pai desaparecido, aparece na casa, e desde o início fica claro que o pai dele impactou profundamente as vidas de Myipir e Akai, de formas que eles preferem não lembrar. A própria casa, com o nome em kiswahili e inscrições em latim nas paredes, era dele. Hugh Bolton chegou no Quênia trabalhando para o governo inglês, e por isso funciona no romance como um símbolo do colonialismo. A partir da busca de seu filho Isaiah, descobrimos muito sobre Myipir, que serviu como braço direito de Hugh, e sobre Akai, que era sua… amante? Do ponto dele, talvez eu dissesse que ela era sua propriedade, não porque ela fosse uma escrava, mas porque ele não conseguia ver nela, uma mulher preta, nenhuma humanidade.  

Os eventos do romance evocam a história do Quênia do século XX, desde a segunda guerra, em que tantos quenianos foram obrigados a servir no exército inglês, o colonialismo e a desconolização, a guerra Mau Mau e o assassinato de Mboya. Algo que torna a leitura um pouco difícil é que a autora não explica muito. Eu tive que ir várias vezes na wikipédia para aprender um pouco sobre o Quênia do início do século XXI. Para mim, isso não é um ponto negativo, e ando lendo muito sobre como tem algo colonialista na nossa expectativa que livros de certos países nos ensinem o básico da cultura deles – a gente não vê um livro dos EUA parando para explicar quem é George Bush ou Bill Clinton. O livro também fica mais fluido assim, porque quando eles explicam muito, o livro acaba parecendo forçado e escrito para estrangeiros, não para locais.

O estilo da autora é muito conciso, e o texto aparece de uma forma que em alguns momentos se fragmenta. As frases são poéticas, especialmente quando descrevem o interior do Quênia.

After Mboya, Kenya’s official languages: English, Swahili, and Silence.

Ainda pretendo uma dia fazer um post sobre temas recorrentes na minha leitura, e um deles é sobre as continuidades do colonialismo, e sua relação com trauma. Se escrever, esse é um livro que vai aparecer, porque se encaixou perfeitamente nesse tema. Foi, como eu esperava, uma ótima leitura para o Quênia.

Deixe uma resposta