Mestrado no Exterior – O que você precisa saber antes de estudar na Universidade de Bologna

Algumas dicas sobe a universidade, e sobre como meu mestrado na Universidade de Bologna funcionou na prática.

A gente pode fazer matérias como não-frequentantes

Basicamente, ir à aula e prestar a atenção no professor é apenas um dos modos de cursar uma matéria. E nesse caso, você é um aluno freqüentante, e geralmente tem que cumprir alguns requisitos, como ter 80% de freqüência (geralmente não tem nenhuma lista para assinar ou algo assim, eles confiam) e fazer uma apresentação, ou participar de uma atividade em sala. 

Mas você também pode decidir ser aluno não-freqüentante, ou porque essa matéria bate o horário com outra que você quer fazer, porque você não gostou do professor, ou até porque você tá fazendo uma matéria em outro campus – aqui na Unibo, por exemplo, pode fazer matérias que acontecem em Ravenna, Forlì, Rimini ou Cesena, sem problema algum. Geralmente, a maior diferença entre alunos freqüentantes e não-freqüentantes é a prova da matéria, que costuma exigir mais leitura dos não-freqüentantes – já que os freqüentantes já fizeram uma apresentação, ou era esperado que eles lessem antes de ir para a aula. Depois da prova, não tem mais diferença, já que não fica registrado se você era aluno freqüentante ou não freqüentante.

A gente faz a matéria, e faz a prova quando quiser

A maioria das matérias que eu fiz na Unibo tinham a duração de um termo acadêmico, ou seja, cinco ou seis semanas. As únicas que eu fiz que tinham uma duração maior, de um semestre, eram assim por pedido do professor. Então geralmente você termina todas as aulas da matéria, em que você pode ter feito alguma apresentação e prova intermediária, e só depois  o professor começa a marcar datas de provas, a primeira geralmente um mês depois das aulas. Mas ele coloca várias datas nos próximos meses, e você escolhe em qual delas quer fazer a sua prova. Se você fez cinco matérias em um semestre, pode fazer primeiro as mais fáceis, ou fazer as mais difíceis e tirá-las do caminho, ou dividir as mais difíceis pelos próximos meses para não ficar louco estudando várias matérias impossíveis ao mesmo tempo. Se você é organizado, tem um grande poder de escolha e a possibilidade de personalizar seu curso. Se não é, pode virar uma daquelas pessoas que tá quase formando mas ainda tem que fazer uma prova de uma matéria do primeiro semestre da qual nem se lembra mais.

Provas orais são a norma – mas existem outros tipos de prova

Conheci muita gente que estudou letras na Itália e nunca fez uma prova escrita. Provas orais são a norma. Antes de vir para cá, eu tinha ouvido mal, falando que é porque as provas eram decoreba. No final, achei que elas são iguais às escritas, e dependem completamente do professor. Geralmente, o professor dá algumas listas de textos para ler e você escolhe quais quer ler, e você também pode pedir para fazer uma prova com leituras personalizadas, sugerindo a sua bibliografia. Chega na hora da prova, e ele pode te fazer uma pergunta decoreba, ou pode te pedir para relacionar as leituras que você fez. A maioria dos meus professores fazia perguntas muito amplas no começo (“me fala algo que te interessou nesse livro”), e te dão a oportunidade de direcionar a prova como você quiser. Para a maioria deles, se você ligar o conteúdo do que leu com das aulas e, dependendo da matéria, com exemplos de fora, isso vai te garantir uma boa nota. Em muitas matérias, a gente também tem a opção de personalizar a prova. Ao invés de ler os livros que o professor sugeriu, você propõe um currículo personalizado, geralmente algo mais focado em um interesse ou na matéria da sua tese. Eles podem concordar, ou propor uma alternativa.

Em algumas matérias, fiz outro tipo de prova, um trabalho escrito ou tesina. Tesina é o diminutivo de tese, e eram trabalhos de pesquisa. Geralmente, você manda para o professor uma sugestão de tema para a sua tesina, dizendo o que você quer abordar e qual é a sua bibliografia sugerida. Ele pode recusar, se ele achar que tá muito longe do tema do curso, aceitar, ou fazer sugestões e dar conselhos sobre a melhor forma de abordar o tema. Em algumas matérias, a tesina é a sua nota final, em outras, a tesina é um dos trabalhos de preparação que você tem que fazer para a prova oral, em que o professor pode te perguntar sobre ela e sobre a matéria.

Em muitas matérias, a gente também tinha a opção de escolher entre as duas. Quando era assim, a tesina era vista como a opção de quem queria fazer algo com a matéria, ou de quem já tinha pensado em um tema que gostaria de explorar. E a prova oral era vista como mais fácil e direta. Eu gostei de ter os dois no curso, porque acho que desenvolvi muito as habilidades necessárias para ambos. 

Também é bom falar que nem sempre os professores são muito organizados para programar provas orais… Às tem pouca gente, ou eles organizam tudo e te falam o horário exato da sua. Às vezes eles te fazem aparecer para a chamada no início do horario de prova, embora você seja o número 26 na lista. E é por isso que em cima tem uma foto minha sozinha na biblioteca, depois que eu estava esperando para fazer a prova das 9 da manhã até as 18:30.

A gente pode recusar a nota e fazer a prova quantas vezes quiser

Normalmente, no final de uma prova, o professor te fala qual é a sua nota, e pergunta se você aceita. E você pode dizer recusa a nota. Se você acha que foi pior do que merecia, ou se arrependeu de não ter estudado mais, é completamente normal recusar a nota, inscrever-se para a prova de novo, e fazer mais uma vez. A maioria das universidades não têm limite para quantas vezes você pode fazer isso, e não fica registrado, então depois ninguém sabe se você fez a prova uma vez ou cinco.

Porque você pode fazer a prova quando e quantas vezes quiser, também significa que basicamente não existe reprovação. Se o professor te disser que você foi reprovado, você só vai fazer a prova de novo, nada no seu histórico vai dizer que isso aconteceu. A única nota que vai aparecer lá é a final, a que você aceitou. Pode ser super desgastante claro, já vi pessoas que tiveram que fazer o mesmo exame cinco vezes antes de serem aprovadas. No máximo você pode, se era uma matéria optativa, decidir que vai tirá-la do currículo e colocar outra matéria no lugar, mas isso também não vai aparecer no histórico.

Como calcular a média de notas

Aula Prodi, a sala de eventos com afrescos de San Giovanni in Monte

Por causa disso, as notas são altíssimas, principalmente nos mestrados de humanas. Em 30, eu não aceitaria uma nota menor que 28, e tem gente que tem cortes mais altos. Quando eu estudava na UFMG, entre 90 a 100 a gente ganhava 5 pontos no RSG, o que significava que 90 e 100 eram basicamente iguais. Entre 80 e 89 idem. Na Itália, é o contrário, você é avaliado em uma nota até 30, e sua nota final o curso é até 110 – as diferenças não se achatam, elas aumentam. As notas são uma média ponderada, em que as notas são multiplicadas pelo número de créditos de cada matéria.

A sua média de notas na escala até 110 é a sua “base di laurea”, e a nota que você receber na prova final – a defesa da tese – vai ser somada a ela. Como a tese geralmente vale 4 pontos, você tem que chegar na reta final pelo menos com 107 se quiser tirar 110 com honras (110 con lode), a nota máxima, o que significa que sua média em 30 deve ser 29,2. 108, se quiser segurança, o que transforma a sua média em 29,45.

O ano acadêmico dura mais do que você pensa

O meu segundo ano de mestrado começou em setembro de 2019, e eu achei que ele iria até julho de 2020. Depois eu descobri que ele na verdade vai até março de 2021. Isso significa que as pessoas do meu curso tem até março para terminar todas as provas e defender a tese. Depois disso, se elas quiserem continuar matriculadas, tem que pagar outra anuidade – e tem até março de 2022 seguinte para completar o ano acadêmico de 2021. Quando isso acontece, você fica como “fuori corso”, estudante fora do curso. Como no Brasil, acontece muito.

No mestrado, tem três datas normais de formatura, em julho, novembro e março. No meu mestrado, ninguém nunca se formou no julho seguinte a terminar as provas, é apertadíssimo. O problema para mim foi que eu demorei um pouco para entender isso, e para entender que a bolsa que a gente recebe também não reflete esse período a mais em que a gente fica escrevendo a tese. Uma menina que formou aqui em tempos pré-covid chegou a se mudar para a Tailândia para a escrever a tese, já que o custo de vida é bem mais barato. Os mestrados são considerados como mestrados de dois anos, as bolsas são de dois anos, mas na verdade eles duram dois anos e alguns meses. É bom levar isso em conta não só para a bolsa, mas para sincronizar com os próximos planos.

O mestrado funciona de forma muito diferente do Brasil

Com essa, vou ter que generalizar um pouco. É claro que tanto o Brasil quanto a Itália tem uma diversidade enorme de cursos de mestrado, que funcionam cada um do seu jeito. Mas queria falar um pouco das diferenças que vi, baseadas na minha experiência.

No Brasil, quando eu olhei processos seletivos para mestrado de história, na maioria você tinha que apresentar um projeto de dissertação. Na Itália, essa não é a norma, e geralmente você só decide o seu projeto e convida alguém para ser seu orientador no segundo ano do curso. Você não precisa fazer uma qualificação, e a defesa da tese também é bem diferente, geralmente mais curta. Além disso, as formaturas tem várias tradições diferentes, como a coroa de louros que os seus amigos compram para você para celebrar.

Clique na imagem para ler nossos outros posts sobre a Itália.

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