Volta ao Mundo em Livros: Austrália – Picnic at Hanging Rock

Quando chegou a vez de procurar um filme da Austrália, teve dois que me chamaram muito a atenção: Cloudstreet, de Tim Wintom, e  Picnic at Hanging Rock, de Joan Lindsay. O primeiro prometia uma saga familiar, o segundo, um romance de mistério que os australianos lêem na escola e com o qual todos ficam obcecados. A escolha foi difícil, e ainda vou dar uma chance a Cloudstreet, mas acabei ficando com Picnic at Hanging Rock.

A história do romance é bastante simples: em 14 de fevereiro de 1900, um grupo de alunas e professoras de um internato vai fazer um piquenique em Hanging Rock, uma montanha australiana. Algumas das estudantes, Miranda, Marion, Irma e Edith, decidem escalar uma trilha, assim como a professora de matemática, Greta McCraw. Horas depois Edith volta sem elas, sem memória do que aconteceu, mas em choque. O resto do grupo não consegue encontrar as quatro, e volta para o internato sem elas.

Nos dias seguintes, a história se torna uma sensação na cidade. Vários grupos são organizados para procurar por elas, mas não encontram vestígios. Boatos e teorias de conspiração começam, e depois continuam até hoje, entre os leitores. É que a autora coloca trechos de jornais no romance, e faz referência a fatos como se tivessem realmente acontecido, inclusive a um incêndio que teria destruído os arquivos originais sobre o caso. Até hoje, muitos turistas vão a Hanging Rock e ouvem falar sobre as estudantes desaparecidas, embora isso só tenha acontecido no romance. O centro de visitantes até tem diagramas com teorias sobre o desaparecimento. Isso recebe muitas críticas até hoje, dizendo que a atenção dada ao romance acontece em detrimento da atenção a uma situação real, a de Hanging Rock era um local importante para os aborígenes australianos, e isso ainda é ignorado na Austrália de hoje.

E aqui tem um ponto bem interessante. Pelo que li, algo que apareceu muito nas críticas do romance foi a relação entre o internato, um lugar onde muitos dos professores são ingleses, a arquitetura é inglesa, e eles aspiram à uma educação inglesa, e Hanging Rock, um lugar tão importante para os aborígenes. Uma professora que analisou o romance, Kathleen Steele, comentou em como ele retrata o silêncio ao redor dos aborígenes, e como ele mostra a percepção de “something deeply unknowable and terrifying in the Australian landscape. .. Lindsay provokes a reflection on the understanding of Australia as an un-peopled land where nothing of consequence occurred until the British gave it a history.” Depois que eu li o romance, fiquei sabendo que a intenção inicial da escritora não era deixar o mistério não resolvido, e que o capítulo final, que resolveria tudo, foi publicado depois da sua morte. Eu adoro finais abertos, e achava que o livro estava completo como era, mas não resisti à curiosidade. O capítulo final conta de fato o que aconteceu com elas, e eu achei que foi bem interessante porque ele também se relaciona com a cultura aborígene do lugar. Mas é tudo que vou dizer para não dar spoilers, claro. No final, acho que realmente o romance é mais forte sem a revelação, mas gostei de saber. Também acabei vendo o filme baseado no romance e que tem o mesmo título, o primeiro longa do Peter Weir, que depois continuou a carreira dirigindo filmes como A Sociedade dos Poetas Mortos e O Show de Truman. Também descobri que tem uma série de 2018 baseada nele. No final, adorei o livro e as discussões que ele suscita, que podem ser desde teorias de internet sobre aliens em Hanging Rock até discussões sobre o significado de como a gente aprende história. Realmente recomendo para quem quer ler um livro sobre a Austrália.

Deixe uma resposta